Na Quinta-feira Santa à tarde, quando se inicia o Tríduo
Pascal, a Igreja celebra a instituição do maior dos sacramentos, a Eucaristia.
É o sacramento do amor sacramentum caritatis. A oferta
de Jesus na cruz foi sacramentalmente antecipada na última Ceia pelas palavras
do Divino Mestre sobre o pão e sobre o vinho, respectivamente: “Isto é o meu
corpo entregue. Este é o cálice do meu sangue, o sangue da Nova e Eterna
Aliança, derramado…”
Jesus, com efeito, ordenou aos apóstolos que, repetindo o
seu gesto, celebrassem sacramentalmente o Seu sacrifício ao longo da história
da Igreja. A Igreja, na verdade, recebeu a ordem de celebrar a Eucaristia como
um verdadeiro dom, um presente inestimável de Deus. Pela Eucaristia, a Igreja é
associada ao sacrifício redentor de Cristo em favor da salvação do mundo. Pela
Eucaristia, a presença de Jesus à Igreja se realiza de um modo intenso e
extraordinário. Pela Eucaristia, o Povo de Deus a caminho é alimentado e
fortalecido com o Pão do Céu. Vemos, assim, a importância da nossa participação
anual nessa celebração e a alegria de celebrá-la solenemente aos domingos e
dias de semana. Esse grande dom que o Senhor nos concede, alimentando-nos com
Seu Corpo e Seu Sangue, também nos fala pelas Escrituras e nos une em
comunidade de fé como irmãos e irmãs e nos
envia ao mundo com a missão de anunciar a todos a Boa Notícia.
Ao ordenar aos apóstolos a celebração da Eucaristia, Jesus
instituiu o sacerdócio ministerial. Na Igreja, em virtude do Batismo, todos são
inseridos no único sacerdócio de Cristo. Entretanto, como o plano de Deus
obedece à economia sacramental, existem na Igreja aqueles que fazem as vezes de
Cristo Sacerdote, Cabeça da Igreja. Estes são os sacerdotes ordenados. Ora, o
sacerdócio ordenado existe para o bem do Povo de Deus. Pela pregação da
Palavra, pelo governo da Igreja, pela celebração dos sacramentos especialmente a Eucaristia , o
ministro ordenado, representando Cristo Cabeça, serve aos fiéis batizados a fim
de que todos sejam associados ao único Sacerdote da Nova e Eterna Aliança.
Com efeito, Cristo inaugurou um novo sacerdócio, o
sacerdócio da Nova Aliança. Os sacerdotes do Antigo Testamento ofereciam a Deus
sacrifícios externos, como o novilho ou o cordeiro. Jesus, no entanto, ofereceu
ao Pai a sua própria vida. De outra coisa não quis saber senão de obedecer em
tudo ao seu Pai. O sacrifício que Jesus Sacerdote ofereceu a Deus é um
sacrifício existencial, mas o sacrifício da vida conformada à vontade divina. A
morte na cruz é o grande sinal de que Jesus não se acovardou, mas levou até o
fim a missão que o Pai lhe confiara. Jesus é o novo Adão. O velho Adão
desobedeceu a Deus, mas o novo foi-Lhe fiel até o derramamento do próprio
sangue.
Para que a humanidade se renovasse e pudesse obedecer a Deus à semelhança do
Homem Novo, Jesus Cristo, Ele dispôs que todos os homens se associassem a seu
Filho pela graça.
A graça é uma ajuda, um favor de Deus concedido em benefício
da nossa fraqueza. A graça de Deus nos tira do pecado, renova-nos,
santifica-nos e nos dispõe para receber um dia a glória celeste em todo o seu
esplendor. Ora, de acordo com a economia sacramental do Plano de Deus, a graça
de que necessitamos vem até nós de modo especial pelos sacramentos,
especialmente a Eucaristia. A Eucaristia comunica-nos a vida mesma de Cristo, a
fim de que façamos o que Cristo fez: entregar a vida a Deus como um sacrifício
de louvor. Na verdade, servir a Deus significa realizar nossa suprema vocação.
E servir a Deus é reinar.
O sacerdócio ordenado, na verdade, resulta de uma especial
participação do sacerdócio de Cristo e, como tal, existe para o bem espiritual
do Povo de Deus. Os ministros ordenados, sobretudo pela celebração da
Eucaristia, perpetuam sacramentalmente o sacerdócio de Cristo e, assim, levam
aos fiéis os dons da Redenção, associando a Igreja ao sacrifício de seu Esposo.
A finalidade suprema é a união com Cristo e a tradução dessa união em gestos
concretos de amor ao próximo. Deixar que a vida de Cristo seja a nossa vida é a
grande meta de todos nós. Como Cristo ofereceu-se ao Pai, a Igreja também deve
fazê-lo. E a força que ela recebe para isso vem do próprio Cristo, que, por
seus ministros ordenados, atua eficazmente em favor de seu Corpo Místico.
Recorda-nos o rito de ordenação de presbíteros: Este irmão, após prudente exame, será constituído sacerdote na
Ordem dos Presbíteros para servir ao Cristo Mestre, Sacerdote e Pastor, que,
por seu ministério, edifica e faz crescer o seu Corpo, que é a Igreja, como
povo de Deus e Templo do Espírito Santo. E
ainda: Desempenha, portanto, com verdadeira
caridade e contínua alegria, a missão do Cristo sacerdote, procurando não o que
é teu, mas o que é de Cristo.
Que a Quinta-feira Santa, dia da Eucaristia e da instituição do
sacerdócio ordenado, seja para o Povo de Deus, principalmente para os
sacerdotes, o grande dia de contemplar o amor de Deus. O Senhor deixou à Igreja
o sacramento da caridade, e o sacerdócio ordenado, que, nas palavras de São
João Maria Vianney, é o amor do coração de Jesus. Que o Ano Sacerdotal, que ora celebramos, reavive em nós a
consciência da importância da Eucaristia e dos ministros ordenados para a vida
da Igreja. E os ministros ordenados agradeçam ao Senhor, sabendo que tudo é dom
de Deus para o bem da Igreja, e sejam fiéis ao dom recebido, mostrando pela
vida e pelas palavras que a fidelidade de Cristo é que garante a fidelidade do
sacerdote. Seja, portanto, a tua pregação,
alimento para o povo de Deus e a tua vida, estímulo para os féis, de modo a
edificares a casa de Deus, isto é, a Igreja, pela palavra e pelo exemplo.
Ao agradecer a Deus pelo Seu Filho presente entre nós, de
modo especialíssimo pela Eucaristia, pois acreditamos nas Palavras que Ele nos
deixou nas Escrituras, rezemos também pelos que são chamados a servir ao Povo
de Deus no ministério sacerdotal, entregando suas vidas para a glória de Deus e
a santificação das pessoas.