sábado, 25 de abril de 2015

CATEQUESE COM OS PAIS...

Nossa Paróquia iniciou hoje um projeto novo: Catequese com os pais dos catequizandos. 
De dois em dois meses, enquanto as crianças participam da catequese com os catequistas, os pais estarão participando de uma catequese específica, orientada pelo Pe. Júlio Cesar no salão paroquial. 
O primeiro momento de catequese com os pais aconteceu na manhã de hoje e foi muito proveitoso. Os pais refletiram sobre a importância do testemunho cristão para os seus filhos. Houve muita partilha e o encontro foi encerrado com a apresentação de um teatro sobre a Parábola do Semeador apresentada pelos catequizandos da perseverança. 









Na década de 80, o beato João Paulo II já tecia um panorama sobre a real situação familiar e nos presenteava com a Exortação Apostólica Familiaris Consortio onde, logo no início, podia-se ler:

“A FAMÍLIA nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas, por variadas situações de injustiça, de realizarem os seus direitos fundamentais[2]”.

Diante destas palavras proféticas concluímos que: o que antes era comum entre nós, agora se tornou uma preocupação, ou seja, a família tem deixado em segundo plano a educação cristã de seus filhos, transferindo essa responsabilidade para a Igreja e, o que é pior, justamente quando a pessoa já está com a sua personalidade formada. 

Como fazer para que a família assuma seu papel no processo educativo da fé cristã dos filhos e seja lugar de valores morais, de oração e de abertura para Deus? Eis o problema.

Sabemos que a sociedade mudou. A família, como parte viva da sociedade, também mudou, e esta mudança afeta o relacionamento dos seus membros. Deste modo, a família tem dificuldades de se encontrar como família cristã e, com isso, vai diminuindo sua capacidade de responder aos novos desafios, no que diz respeito à fé e aos anseios mais profundos do coração humano.

A Igreja acredita na família e no seu fundamental papel na sociedade[3] – de ser, nela, célula primeira e melhor Igreja – e por ela, olha com fé e convicção. Em virtude disso, luta para que os filhos encontrem, na Igreja, o primeiro espaço de encontro com Deus e o fundamento de sua fé. Por isso,

“consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros”[4].

Quando a educação da fé é iniciada na família, é mais perceptível a sua assimilação em outros meios como a catequese paroquial, o ambiente escolar e mesmo o universo jovem social. É preciso então que a família tenha consciência de que os filhos são a sua maior riqueza e que educando-os, através de valores morais e cristãos, estará preservando esse bem maior e preparando pessoas para uma vida feliz e realizada.

Neste contexto social e cultural diversificado, o que fazer, então, com que a família seja, de fato, o lugar para o despertar da fé?

Primeiro: Os pais precisam tomar consciência de que a verdadeira catequese começa ainda no ventre materno. Durante o período da gestação, deve-se tomar os cuidados necessários para que a gravidez seja serena e feliz. Cuidado para que a mulher viva este período sem turbulências, agitos e dificuldades, procurando, esposo e esposa, dialogar, amar, conversar com a criança, demonstrando, assim, afeto e carinho, para que ela, desde já, experimente o amor de Deus e da família. A experiência mística dos pais, ao longo da gestação, do mistério da vida que brota no ventre materno, certamente fará com que a criança encontre, efetivamente, na família, uma Igreja doméstica.

Segundo: É a partir da convivência familiar que a criança forma interiormente a imagem de Deus, que posteriormente será trabalhada na catequese em vista dos sacramentos. Se a criança percebe que a família é o espaço de comunhão, de partilha e de amor, certamente compreenderá melhor a imagem de Deus como um Deus amor, partilha e comunhão. Essa formação contribuirá para a formação de sua personalidade e de seu caráter.

Terceiro: A família deve compreender que, quando a criança chega à catequese paroquial, ela já precisa ter vivenciado os valores da fé, no seio familiar, assim como deve compreender que a Igreja é apenas uma cooperadora na continuidade da educação cristã. Deve também tomar consciência de que a catequese é um processo permanente e não se destina simplesmente à preparação para os sacramentos. Assim, compreendemos que a catequese, como processo, é algo a ser vivido por toda a vida, portanto deve ser transmitida em seus vários níveis, e a família é a instituição que acompanhará essa evolução.

Por fim, quando a criança já estiver participando da catequese paróquia,l é importante que a família acompanhe e ajude a Igreja a transmitir e a vivenciar os valores da fé. Grande parte das famílias contribui para isso. Muitas outras esquecem de seu papel e atribui toda essa responsabilidade à Igreja. Isso acontece, porque muitas vezes falta o interesse pela educação religiosa dos filhos.

Os pais são, na maioria dos casos, os que não praticam a religião e, por esse motivo, não possuem a identidade religiosa que deve ser transmitida.  Isso se dá devido a inúmeros fatores: a frágil estrutura familiar dentro de uma sociedade marcada pelo egoísmo, pelo individualismo, pelo consumismo e pela competição; as atividades de lazer, priorizadas nos finais de semana são motivos para que os pais abdiquem da responsabilidade de levar seus filhos à Igreja, de modo especial para participar da Santa Missa; a necessidade do trabalho fora de casa que impede os pais de educar os filhos como gostariam, e tantos outros problemas sociais, como a falta de emprego e moradia que dificulta a educação humana e cristã dos filhos[5].

A Igreja, sabedora dos desafios que afrontam o seio das famílias,deseja, antes de tudo, ser um porto seguro, capaz de auxiliá-la na difícil tarefa de educar com valores perenes[6].

É preciso então que, antes mesmo de receberem o matrimônio, os pais tenham consciência de que a família é um projeto de Deus e, para que este projeto seja executado, Deus conta com a participação ativa deles[7]. Só assim, continuaremos com uma sociedade alicerçada na família, tendo-a como célula “mater” e, por sua vez, uma sociedade organizada e embasada nos valores humanos e cristãos.





[1] PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi 71, www.vatican.va [acessado em 14.05.2013].
[2] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio 1, www.vatican.va [acessado em: 14.05.2013].
[3] “A família é, em certo sentido, uma escola de enriquecimento humano. Mas, para atingir a plenitude de sua vida e de sua missão, requer a comunhão de alma no bem-querer, a decisão comum dos esposos e a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos”. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et Spes 52, Ed. Vozes, 12 ed., Petrópolis, 1978.
[4] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio 1, www.vatican.va [acessado em: 14.05.2013].

[5] Cf. JOÃO PAULO II, Exortação ApostólicaFamiliaris Consortio 6.
[6] “Num momento histórico em que a família é alvo de numerosas forças que a procuram destruir ou de qualquer modo deformar, a Igreja, sabedora de que o bem da sociedade e de si mesma está profundamente ligada ao bem da família, sente, de modo mais vivo e veemente, a sua missão de proclamar a todos o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família, para lhes assegurar a plena vitalidade e promoção humana e cristã, contribuindo assim para a renovação da sociedade e do próprio Povo de Deus”. Cf. JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio 3.

[7] A Familiaris Consortio apresenta nos números 66, 67, 68 e 69, a preocupação da Igreja com a preparação dos seus filhos que desejam receber o sacramento do Matrimônio. Oferece, na presente exortação, os caminhos pré celebrativos e pós celebrativos do Sacramento. Tal objetivo é lançar diretrizes para que os jovens esposos percebam o amparo da Igreja na constituição de suas famílias, bem como na educação dos filhos.