Nossa Paróquia iniciou hoje um projeto novo: Catequese com os pais dos catequizandos.
De dois em dois meses, enquanto as crianças participam da catequese com os catequistas, os pais estarão participando de uma catequese específica, orientada pelo Pe. Júlio Cesar no salão paroquial.
O primeiro momento de catequese com os pais aconteceu na manhã de hoje e foi muito proveitoso. Os pais refletiram sobre a importância do testemunho cristão para os seus filhos. Houve muita partilha e o encontro foi encerrado com a apresentação de um teatro sobre a Parábola do Semeador apresentada pelos catequizandos da perseverança.
Na década de 80, o beato João Paulo II já tecia um
panorama sobre a real situação familiar e nos presenteava com a Exortação
Apostólica Familiaris Consortio onde, logo no início, podia-se ler:
“A FAMÍLIA nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que
outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e
rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta
situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto
familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou
ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da
vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas, por variadas situações
de injustiça, de realizarem os seus direitos fundamentais[2]”.
Diante destas palavras proféticas concluímos que: o que
antes era comum entre nós, agora se tornou uma preocupação, ou seja, a família
tem deixado em segundo plano a educação cristã de seus filhos, transferindo
essa responsabilidade para a Igreja e, o que é pior, justamente quando a pessoa
já está com a sua personalidade formada.
Como fazer para que a família assuma seu papel no processo
educativo da fé cristã dos filhos e seja lugar de valores morais, de oração e
de abertura para Deus? Eis o problema.
Sabemos que a sociedade mudou. A família, como parte viva da
sociedade, também mudou, e esta mudança afeta o relacionamento dos seus
membros. Deste modo, a família tem dificuldades de se encontrar como família
cristã e, com isso, vai diminuindo sua capacidade de responder aos novos
desafios, no que diz respeito à fé e aos anseios mais profundos do coração
humano.
A Igreja acredita na família e no seu fundamental papel na
sociedade[3] – de ser, nela, célula primeira e melhor Igreja – e por ela,
olha com fé e convicção. Em virtude disso, luta para que os filhos encontrem,
na Igreja, o primeiro espaço de encontro com Deus e o fundamento de sua fé. Por
isso,
“consciente de que o matrimônio e a família constituem um
dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e
oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família,
procura vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade
e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar.
Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros”[4].
Quando a educação da fé é iniciada na família, é mais
perceptível a sua assimilação em outros meios como a catequese paroquial, o
ambiente escolar e mesmo o universo jovem social. É preciso então que a família
tenha consciência de que os filhos são a sua maior riqueza e que educando-os,
através de valores morais e cristãos, estará preservando esse bem maior e
preparando pessoas para uma vida feliz e realizada.
Neste contexto social e cultural diversificado, o que fazer,
então, com que a família seja, de fato, o lugar para o despertar da fé?
Primeiro: Os pais precisam tomar consciência de que a
verdadeira catequese começa ainda no ventre materno. Durante o período da
gestação, deve-se tomar os cuidados necessários para que a gravidez seja serena
e feliz. Cuidado para que a mulher viva este período sem turbulências, agitos e
dificuldades, procurando, esposo e esposa, dialogar, amar, conversar com a
criança, demonstrando, assim, afeto e carinho, para que ela, desde já,
experimente o amor de Deus e da família. A experiência mística dos pais, ao
longo da gestação, do mistério da vida que brota no ventre materno, certamente
fará com que a criança encontre, efetivamente, na família, uma Igreja
doméstica.
Segundo: É a partir da convivência familiar que a criança
forma interiormente a imagem de Deus, que posteriormente será trabalhada na
catequese em vista dos sacramentos. Se a criança percebe que a família é o
espaço de comunhão, de partilha e de amor, certamente compreenderá melhor a
imagem de Deus como um Deus amor, partilha e comunhão. Essa formação
contribuirá para a formação de sua personalidade e de seu caráter.
Terceiro: A família deve compreender que, quando a criança
chega à catequese paroquial, ela já precisa ter vivenciado os valores da fé, no
seio familiar, assim como deve compreender que a Igreja é apenas uma cooperadora
na continuidade da educação cristã. Deve também tomar consciência de que a
catequese é um processo permanente e não se destina simplesmente à preparação
para os sacramentos. Assim, compreendemos que a catequese, como processo, é
algo a ser vivido por toda a vida, portanto deve ser transmitida em seus vários
níveis, e a família é a instituição que acompanhará essa evolução.
Por fim, quando a criança já estiver participando da
catequese paróquia,l é importante que a família acompanhe e ajude a Igreja a
transmitir e a vivenciar os valores da fé. Grande parte das famílias contribui
para isso. Muitas outras esquecem de seu papel e atribui toda essa
responsabilidade à Igreja. Isso acontece, porque muitas vezes falta o interesse
pela educação religiosa dos filhos.
Os pais são, na maioria dos casos, os que não praticam a
religião e, por esse motivo, não possuem a identidade religiosa que deve ser
transmitida. Isso se dá devido a inúmeros fatores: a frágil estrutura
familiar dentro de uma sociedade marcada pelo egoísmo, pelo individualismo,
pelo consumismo e pela competição; as atividades de lazer, priorizadas nos
finais de semana são motivos para que os pais abdiquem da responsabilidade de
levar seus filhos à Igreja, de modo especial para participar da Santa Missa; a
necessidade do trabalho fora de casa que impede os pais de educar os filhos
como gostariam, e tantos outros problemas sociais, como a falta de emprego e
moradia que dificulta a educação humana e cristã dos filhos[5].
A Igreja, sabedora dos desafios que afrontam o seio das
famílias,deseja, antes de tudo, ser um porto seguro, capaz de auxiliá-la na
difícil tarefa de educar com valores perenes[6].
É preciso então que, antes mesmo de receberem o matrimônio,
os pais tenham consciência de que a família é um projeto de Deus e, para que
este projeto seja executado, Deus conta com a participação ativa deles[7]. Só
assim, continuaremos com uma sociedade alicerçada na família, tendo-a como
célula “mater” e, por sua vez, uma sociedade organizada e embasada nos valores
humanos e cristãos.
[1] PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi 71, www.vatican.va [acessado em 14.05.2013].
[2] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio
1, www.vatican.va [acessado em:
14.05.2013].
[3] “A família é, em certo sentido, uma escola de
enriquecimento humano. Mas, para atingir a plenitude de sua vida e de sua
missão, requer a comunhão de alma no bem-querer, a decisão comum dos esposos e
a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos”. CONCÍLIO VATICANO II,
Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et Spes 52,
Ed. Vozes, 12 ed., Petrópolis, 1978.
[4] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio
1, www.vatican.va [acessado em:
14.05.2013].
[5] Cf. JOÃO PAULO II, Exortação ApostólicaFamiliaris
Consortio 6.
[6] “Num momento histórico em que a família é alvo de
numerosas forças que a procuram destruir ou de qualquer modo deformar, a
Igreja, sabedora de que o bem da sociedade e de si mesma está profundamente
ligada ao bem da família, sente, de modo mais vivo e veemente, a sua missão de
proclamar a todos o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família, para
lhes assegurar a plena vitalidade e promoção humana e cristã, contribuindo
assim para a renovação da sociedade e do próprio Povo de Deus”. Cf. JOÃO PAULO
II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio 3.
[7] A Familiaris Consortio apresenta nos números 66, 67,
68 e 69, a preocupação da Igreja com a preparação dos seus filhos que desejam
receber o sacramento do Matrimônio. Oferece, na presente exortação, os caminhos
pré celebrativos e pós celebrativos do Sacramento. Tal objetivo é lançar
diretrizes para que os jovens esposos percebam o amparo da Igreja na constituição
de suas famílias, bem como na educação dos filhos.