Dom José Alberto Moura
Jesus é o Bom Pastor, contrariamente ao mercenário. Este
atua por dinheiro ou outro interesse, talvez até o de roubar ovelhas, não se
responsabilizando pelo bem das que são colocadas a seu cuidado (Cf. João
10,11-18). Não basta alguém se dizer religioso, até freqüentando alguma
religião, mas sem compromisso com a verdade, a justiça e a prática do amor ao
semelhante. Usar a religião para angariar votos e exercer funções de liderança,
mas traindo as pessoas e as comunidades na prática de sua liderança social é
funcionar como mercenário.
Quem recebe a missão de cuidar do rebanho e o faz como
vocação e amor realiza o bem das ovelhas. Cuida de ir ao encontro de suas
necessidades. Não poupa esforços para praticar a justiça. Usa do cargo para
tentar fazer o maior bem possível ao redil. Não usa de sua liderança para
explorar os súditos, nem desvia seus recursos para fazer seu império próprio,
manifestando que é o maior e mais importante! É humilde servidor. Não se
enriquece às custas do povo. Sabe dialogar e promover os carismas, atraindo a
participação das pessoas para ajudar a promover o bem comum. Dá preferência à
promoção de ações para vir ao encontro, em primeiro lugar, das necessidades dos
mais fragilizados socialmente.
O líder que é humano e cristão de verdade, segue o exemplo
de quem já fez caminho no exercício do bem comum. O maior exemplo é o de Jesus,
que deu tudo de si pelo bem da humanidade. Ele nos ensina a humildade, o
desprendimento, a fraternidade, o zelo pelas ovelhas, a inclusão social, o
respeito à vida, à família e aos mais necessitados. Ele lembra:
“Dou a minha vida” (João 10,17). Quem é eleito para um serviço à comunidade
deve estar disposto a também dar de si pelos que nele confiaram o cargo. Ao
contrário, se ele se tornar um puro mercenário, pode até conseguir, lícita ou
ilicitamente, vantagens com o exercício do cargo, mas mostra pequenez de
caráter. Quantos são tidos como ladrões, maus caracteres, bandidos, mentirosos
e traidores da causa do povo! Jesus lembra: “Pois ele é apenas um mercenário e
não se importa com as ovelhas” (João 10,13).
Jesus, antes do holocausto na cruz, foi a Jerusalém,
entrando triunfalmente nela, montado num jumentinho. Mostrou ser rei pobre.
Poderia ir de carruagem, fazendo propagando sobre sua grandeza. Ao contrário,
mesmo tendo o poder divino, mostrou seu desprendimento total do que é
suntuosidade e grandeza material e social. Seu reino é o da grandeza de alma,
com amor total ao semelhante, mesmo se, para isso, dever dar tudo para o bem do
outro. Ele praticou e ensinou que o maior é o mais servidor. A lição do
lava-pés o caracteriza. Vivemos na turbulência do consumismo e egoísmo
exacerbado, em que se mostra que o maior é quem mais se apresenta como
importante e tem poder superior aos outros, mesmo se o fizer com o roubo
e a corrupção. Essa prática mercenária invade muito a realidade política, não
de todos, mas de grande parcela. Precisamos seguir melhor o Bom Pastor e instar
a população para que eleja pessoas com grandeza de caráter, que realmente sigam
o exemplo do Mestre para servirem o mesmo povo e não se servirem dele, para que
tenhamos mais vida justa, solidária e fraterna. A Campanha da Fraternidade
deste ano nos sublinha a necessidade de realmente sermos servidores do
semelhante!