Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)
Houve tentativas modernas de se negar a Ressurreição de
Jesus como fato histórico. Segundo algumas dessas teorias, Jesus teria
ressuscitado “dentro do Kerigma”, segundo a fórmula de Rudolf Bultmann,
famoso teólogo protestante, ou seja, a ressurreição significaria apenas que os
discípulos haviam reconhecido que “a causa de Jesus continua”! Por isso,
torna-se muito elucidativa para nós a tese de Heinrich Schlier, discípulo de
Bultmann, sobre a Ressurreição de Jesus, provando o fato histórico, base da fé
cristã.
Heinrich Schelier era pastor luterano, professor de exegese
na Alemanha, e, depois, fez parte da “Igreja confessante”, ou seja, a parte da
comunidade evangélica alemã que tentava salvaguardar a substância cristã do
luteranismo, não aceitando que esse se desintegrasse no movimento que apoiava o
nazismo. Depois da guerra, lecionou Novo Testamento e História da Igreja na
Faculdade Teológica Evangélica de Bonn. Em 1953, para surpresa do seu mestre
Bultmann, converteu-se à Igreja Católica e disse que sua conversão ocorrera de
uma forma completamente protestante, ou seja, a partir de sua relação com a
Escritura, segundo nos conta Ratzinger. Em 24 de outubro de 1953, foi recebido
na Igreja Católica. No dia seguinte, recebe a primeira comunhão e, depois, a
confirmação. Tem inúmeras obras teológicas, especialmente essa sobre a
Ressurreição de Jesus, prefaciada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger.
Baseado na história e na Escritura, Schelier demonstra
que “a Igreja primitiva não falou da ressurreição de Jesus Cristo com
distanciamento e de modo descompromissado, mas com emoção e num ato de
profissão de fé”. E ele argumenta tratar-se de um fato incontestável, embora conserve
seu caráter de mistério. Segundo ele, os textos neotestamentários entendem a
Ressurreição como um evento, um acontecimento histórico concreto. A
Ressurreição não veio da pregação, mas sim a pregação partiu do fato da
Ressurreição. E da sua Ressurreição deriva a conclusão lógica de que Ele é o
Senhor, como se lê no discurso de São Pedro aos judeus: “De fato, Deus
ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas... Portanto,
que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e
Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2, 32-36).