Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba (PB)
Diz o ditado chinês que a educação de uma criança
começa 100 anos antes dela nascer. O sábio adágio aplica-se à educação
sociopolítica do nosso povo. Caminhamos a passos lentos na democracia
participativa. Os debates políticos veiculados pelos meios televisivos oportunizam
a formação da consciência dos eleitores sobre projetos políticos. Entanto,
prevalece o clima de hostilidade mútua entre candidatos. Usa-se a estratégia da
desqualificação um do outro. Cabos de guerra medem forças.
Brigas de galos impedem a formação da consciência cidadã e
afastam o eleitor. Não há tempo suficiente para que apresentem seus projetos
políticos.
Um projeto de Estado (não apenas de governo)
constitui-se como palavra de honra pelo candidato dada à sociedade. A elaboração
de projetos políticos envolve pessoas comprometidas com o bem comum,
priorizando temáticas de interesse dos eleitores e da sociedade. Os partidos e
coligações partidárias devem demonstrar compromisso com projetos políticos.
Vêem-se promessas. De forma realista, pergunta-se de onde virão os recursos? Um
projeto de Estado traça metas e trabalha com políticas estruturais, aviadas por
etapas sucessivas, com garantia de recursos financeiros e continuidade de
execução. Os candidatos não podem apenas pedir votos, mas envolver o eleitor na
superação dos problemas, mesmo que não se resolvam de imediato, no período de
um governo. Falar claramente sobre essa
realidade significa perder votos. A estratégia prevalente é botar culpas e
agredir os outros.
Enfrentar e superar contradições e conflitos sociais exige
sacrifícios por parte da população. Se as representações de instituições e
lideranças significativas da sociedade não ocuparem os canais de
participação nos planejamentos estratégicos de políticas estruturais,
continuaremos a conviver com os esquemas políticos vigentes, sofrendo com
as graves dificuldades que nos humilham há várias décadas - sistema de educação
e de saúde abaixo dos níveis suficientes para serem avaliados. Que o eleitor
conheça se cada candidato apresenta seu projeto de Estado; como ele pretende
enfrentar o núcleo dos conflitos e as soluções possíveis ou prováveis. Que ele
diga claramente de onde vai tirar recursos. O projeto de Estado vincula as
atividades do gestor eleito a nós, cidadãos. Civismo e dignidade, cobrando dos
eleitos metas e resultados do projeto políticas estruturais planejadas.
Observe-se que as entrevistas dos candidatos por rádios e TVs vêm ajudando o
eleitor a identificar propostas dos candidatos, prevalecendo critérios
racionais, não o sentimentalismo e a simpatia pessoal produzida nos guias.