No dia 8 de outubro de 2013, o papa Francisco convocou a III Assembleia
GeralExtraordinária do Sínodo dos Bispos, que terá como tema: "Os desafios
pastorais da família no contexto da evangelização"
Desde então, a Secretaria Geral do Sínodo deu início à
preparação mediante o envio de um Documento Preparatório com um questionário que
suscitou uma vasta resposta por parte de católicos do mundo inteiro.
Considerando a amplitude e complexidade do tema, o Santo
Padre definiu um itinerário de trabalho em duas etapas, que constitui uma
unidade orgânica, como ressalta oInstrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) do
Sínodo:
- Na Assembleia Geral Extraordinária de 2014, os
padres sinodais avaliarão e aprofundarão os dados, os testemunhos e as
sugestões das Igrejas particulares, com a finalidade de enfrentar os novos
desafios sobre a família.
- A Assembleia Geral Ordinária de 2015, mais representativa
do episcopado, inserindo-se no precedente trabalho sinodal, meditará
ulteriormente sobre as temáticas abordadas para
encontrar adequadas linhas de
ação pastorais.
O SÍNODO:
O Sínodo dos Bispos reúne-se em assembleia extraordinária,
convocada pelo Papa Francisco, para tratar dos desafios pastorais da família no
contexto atual da evangelização. Mais uma vez, a Igreja mostra sua atenção
especial para com a família, como tem feito muitas vezes no passado recente.
A questão de fundo é a evangelização: como levar a Boa-Nova
de Jesus Cristo e da Igreja às pessoas que vivem esses desafios?
Os problemas enfrentados pela família são antigos e novos, e o Sínodo
não vai fazer uma simples avaliação sociológica sobre o tema em pauta. Mais que
tudo, a própria Igreja se questiona: diante das questões enfrentadas pela
família, o que vamos fazer? Qual será nossa atitude para ser coerente com a de
Cristo, o bom pastor, que “veio buscar e salvar o que estava perdido”? Ou que
ensinou: “não são os sadios que precisam de médico, mas os doentes”?
Poderíamos ter a tentação de evangelizar de maneira
“genérica”, sem nos defrontarmos com as situações reais vividas pelas pessoas e
famílias; e, assim, nos iludir que a evangelização está alcançando e envolvendo
a todos, mais preocupados em colher frutos do que em semear... O tema posto
pelo Papa Francisco para a próxima assembleia extraordinária do Sínodo é um
convite à Igreja para se deixar questionar pelas situações reais e desafiadoras
vividas pela família, e para se perguntar: como o anúncio e amissão da Igreja serão
“boa-nova” nas mais
diversas situações da família?
Os desafios enfrentados pela família em nossos tempos também
são desafios sérios para a própria ação da Igreja. A Igreja valoriza muito a
família e reconhece nela, além de um desígnio especial de Deus, também uma
expressão de sua própria realidade: a família é “Igreja doméstica”, célula
básica da comunidade humana e eclesial.
De quais desafios se ocupará o Sínodo? Começa com a acolhida
e o conhecimento do desígnio de Deus sobre a família. A verdade que a
Igreja ensina sobre a família está longe de ser acolhida e aceita por todos;
difundiu-se largamente a ideia de que a família é uma simples criação humana,
fruto da evolução da espécie e de suas culturas; que ela não depende de nada
mais do que da vontade do próprio homem e da sociedade. A partir dessa
concepção, a família perde seu referencial sólido, relegada ao terreno pouco
consistente das ideologias e no espaço vaporoso dos gostos e das culturas.
Damos por suposto que todos conhecem o fundamento bíblico da
família e o desígnio de Deus sobre ela, explicado pelo Magistério da Igreja; na
realidade, porém, isso é largamente ignorado ou menosprezado. O mesmo se diga
em relação à lei natural:
sem levar em conta a lei natural, perde-se de vista o
fundamento natural da família e a palavra da Igreja acaba sendo vista como
“imposição religiosa” indevida. A pretensão do “casamento” de duas pessoas do
mesmo sexo parte da confusão grave decorrente do abandono da lei natural no que
diz respeito à pessoa humana, ao casamento e à família.
Há o drama muito estendido dos casamentos frustrados,
desfeitos e refeitos, que envolvem famílias feridas e destroçadas e novas
uniões a pedir legitimação; também na Igreja, com o anseio de participar
plenamente dos sacramentos e da vida da Igreja. Há também uma gama imensa de
questões relativas ao papel da família nas sociedades atuais, mais
caracterizados como sociedades de indivíduos que produzem e consomem, do que de
pessoas que se relacionam e dependem umas das outras. Há toda a questão do
papel educador da família; e aí se acrescenta o seu papel na transmissão da fé
e na vida da comunidade eclesial.
Ninguém se iluda pensando que as discussões do
Sínodo vão se resumir às questões da comunhão para as pessoas divorciadas e
recasadas, ou às uniões de pessoas do mesmo sexo. Seria caricatural. A 3ª
assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos terá uma vasta gama de questões
a tratar: questões que desafiam a evangelização.
Arcebispo de São Paulo