Por isso, a Igreja relaciona o Dia Mundial das Comunicações
Sociais com o Domingo da Ascensão e o envio missionário: a Igreja tem a missão
de comunicar; evangelizar é ação comunicadora feita de muitos modos, sobretudo
na relação de pessoa a pessoa; é levar uma mensagem – o Evangelho; a um
destinatário – “a todos os povos”; com uma metodologia – “ide”, ou seja,
saindo de si, dirigindo-se aos outros, inclusive com os modernos recursos
técnicos da Comunicação Social.
Na sua Mensagem para o 49º Dia Mundial das Comunicações
Sociais, de 2015, o Papa Francisco trata da comunicação em família. Essa
abordagem não podia ser mais oportuna, uma vez que a Igreja está preparando a
assembleia do Sínodo, de outubro deste ano, sobre o tema da família. Achei a
intuição do Papa Francisco muito iluminada! Com frequência, quando falamos do
tema da família, pensamos logo nos grandes princípios cristãos que regem o
casamento e a família; ou nos problemas do divórcio, da diminuição do apreço ao
casamento e à família, nas questões morais ligadas à vida sexual e à
transmissão da vida... Tudo isso tem sentido, mas as questões, tantas vezes,
são bem mais simples: as pessoas não se falam mais, não há diálogo, não há
sintonia no convívio familiar... E aí fica difícil manter viva a família!
O Papa está nos recordando que há questões bem simples na
vida familiar, que não devem ser descuidadas no casamento e na vida em família.
E se refere à “comunicação” na vida familiar. Será que muitos daqueles
“grandes” problemas da família não estão ligados às questões de “comunicação”?
Será que a atual avalanche de mensagens de todo tipo, recebidas e assimiladas
por meio de todos os recursos de comunicação ao nosso alcance, de maneira nem
sempre criteriosa, não está sufocando a comunicação que precisa existir no seio
da vida familiar?
Seria interessante perguntar: quanto tempo ainda nos resta,
cada dia, para a comunicação em família? Para conversar, trocar ideias,
partilhar vivências, informações ou afetos? Ou, simplesmente, para “jogar
conversa fora”, pelo prazer de estar juntos, comunicar a alma, partilhar o
convívio e manifestar estima e afeto? E qual é a qualidade desse tempo que
ainda temos para a comunicação em família? Talvez, enquanto conversamos, a
televisão ligada pede atenção, navegamos na Internet, atendemos a telefonemas
ou estamos ligados em mensagens de quem está bem distante de nós?
O Papa Francisco, na sua Mensagem, recorda que a família
existe, acima de tudo, por um fato de comunicação: o namoro é comunicação; a
vida do casal é comunicação; assim, as relações de paternidade e maternidade,
de filiação e de fraternidade; sem esquecer que também as relações de
parentesco se cultivam na comunicação dos parentes. Se os membros da família
deixam de se comunicar de pessoa a pessoa, estas vão se distanciando e a
família se torna insignificante, é sufocada e vai à falência múltipla, por
falta de oxigenação...
Muitos problemas e crises no casamento e na vida familiar
não surgiriam se a boa comunicação fosse mais bem cultivada no seu convívio; e
muitas questões doutrinais, como a fidelidade e a indissolubilidade
matrimonial, não seriam “problemas”, se houvesse verdadeira comunicação na vida
familiar.
Quanta coisa uma boa conversa consegue resolver! A
comunicação mais elementar é a boa conversa, a escuta, a busca sincera da
sintonia com o outro, para estar “ligado” nas mensagens dos outros; às vezes, é
preciso desligar um pouco dos próprios programas e dar atenção ao outro; não
raro, é bom abaixar o volume da voz, ou ficar antenado nas mensagens cifradas
dos outros, que pedem atenção e compreensão; e o diálogo, feito entrevista
leal, consegue avivar novamente a qualidade dos relacionamentos...
Para não ser vítima do excesso de comunicação formal, que
invade todos os espaços e minutos do dia, a família precisa zelar pela boa
qualidade da comunicação entre os seus membros. A família vive de comunicação.
Vale a pena ler a Mensagem do Papa.
Publicado no jornal O SÃO PAULO, edição 3051, de 13 a
19 de maio de 2015
Cardeal Odilo Pedro Scherer