Arcebispo de Montes Claros (MG)
Amizade é a relação de convivência com alguém, estando a seu
lado para o que der e vier, ajudando-o em toda circunstância. Mas não é
qualquer tido de relação. Ela é exigente e não se dá com todos. Há seleção
natural para isso. Nela as pessoas se estimam a ponto de defender a causa uma
da outra, mesmo nos momentos de dificuldades. Não as faz esconder-se quando há
infortúnios. Aliás, aí é que se mostra real amizade!
Na relação do humano com o divino o ideal seria a amizade no
sentido total e pleno. Há quem tenha medo de Deus. Esconde-se para não ser
reprovado ou castigado por Ele. Não o procura. Não se deixa inundar com seu
amor e sua proteção. Por isso mesmo, essa pessoa se torna infeliz. Sem o amor
de Deus o ser humano é infeliz, mesmo tendo tudo o que é material, preparação
intelectual, posição social avantajada... Talvez lhe falte o conhecimento do
Deus verdadeiro, que não é castigador, rancoroso, vingativo e mau. O verdadeiro
Deus é puro amor (Cf. 1 João 4, 10). Só quer o bem das criaturas, muito mais do
ser humano, elevado à filiação divina pelo Filho, que nos adotou como seus
irmãos e irmãs.
Jesus vem nos provar que Deus quer sempre nos perdoar as
faltas, as ingratidões, as infidelidades, as mentiras, as raivas, as
incoerências, as omissões. Basta querermos amá-lo, realizando o que Ele nos
propõe para nosso próprio bem. Ele não precisa de nada. Nem de orações,
sacrifícios, promessas, culto e ofertas.
Ele tem tudo. Se nos faz propostas, de acordo com o exemplo e os ensinamentos
do Filho, é porque sabe qual o caminho que nos faz realmente realizados e
felizes. O próprio Jesus propõe uma vida de amizade com Deus: “Vós sois meus
amigos se fizerdes o que eu vos mando” (João 15,14). Há quem é amigo de Deus e
não sabe. Às vezes não é quem só faz culto e não pratica os ensinamentos
divinos. Pode ser até quem não conhece bem o Filho, mas naturalmente faz tudo o
que em consciência sabe ser o bem maior: “Ele aceita quem o teme e pratica a
justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10,35).
Quem experimenta ser amigo de Deus não quer deixar tal
amizade. Só dorme de consciência tranqüila, porque só realiza o bem. Dá de si
para a promoção do pobre, da pessoa deixada de lado, como o bom samaritano.
Experimenta a compaixão. Não se desespera com os problemas a enfrentar. Faz a
própria parte e confia no amigo Deus. Ele é formidável. Faz prodígios em quem
confia na sua amizade!
A amizade com Deus faz a pessoa aceitar sua amizade. Ouve
sua Palavra. Compara o que Ele fala com a própria vida. Deixa-se levar por seus
ensinamentos. Nâo tem medo de realizar a própria missão. Não tem vergonha da
própria fé. Ao contrário, dinamiza-a para fazê-la transformadora da própria
vida. A pessoa assim se torna solidária com os que sofrem e precisam de ajuda
em todas as dimensões. Colabora com causas de promoção do bem comum. Faz da
política um meio de grande serviço à coletividade. Não tem medo de denunciar o
mal, propor e colaborar com a promoção da vida e da dignidade humana.
Os frutos da amizade com Deus são multiplicados a cada dia e
fazem a pessoa viver feliz em vista de sempre contar com a ajuda do amigo
divino!