Pe. Enio José Rigo
1. Cuidar a Liturgia
Diz-se que
quem ama cuida. É verdade! E quem não ama, não cuida. Isto também é verdade![1]
Cuidar no
sentido de preocupar-se com, interessar-se por, dar atenção à, envolver-se com,
estar atento por, tirar tempo com. O cuidado e cuidador são expressões por
demais valorizadas pela pós-modernidade. Quem recebe o encargo de cuidar de
alguém ou algum valor, torna-se confiável de quem se confiou. Nesta lógica, quem
confiou, tornou-se u fiador a quem fiou.
A Igreja
confia aos fiéis o cuidado do “Mistério da Fé”[2], visível na liturgia.
E, em se tratando de liturgia, o cuidado é dobrado pois, quem cuida da
celebração, cuida da ação ritual e das pessoas que a constituem.
Particularmente,
no ano da fé, a liturgia precisa de um olhar especial, demorado, cuidadoso,
amoroso, pois nela os fiéis fazem a experiência de se configurar ao seu Senhor
e dele aprenderem a viver “os seus sentimentos”(Fl 2,5).
2. Cuidar de quem?
1º. Cuide da assembleia reunida – por ela a Igreja se
edifica![3]
Que as pessoas sejam acolhidas e ternamente envolvidas. Mas
se a acolhida é dispersiva, não contribui e multiplica os ruídos.
Que as pessoas sejam respeitadas, no quanto conseguem
acompanhar, de tudo o que são convidadas a participar.
Que as pessoas sejam introduzidas no Mistério. Quem veio,
veio para rezar. Então colabore para que haja ambiente de silêncio e oração. E
se alguém, ao seu lado, puxar assunto, diga-lhe, pelo olhar, que ali não é o
lugar.
2º. Cuide do presbítero que preside – por ele o próprio
Senhor preside![4]
Permita-lhe que se concentre, se prepare, silencie. Não é
hora de lhe dar informações e de pedir informações. Não é ele quem deve decidir
o que fazer se os cantores não vieram ou se os leitores faltaram. Ou se “pode isso
ou se pode aquilo”. Se não houve preparação, assim, aconteça a ação.
Permita-lhe que, às vezes, fique zangado com o zumbido da “colméia”
que o rodeia. Perdoe-lhe e noutra vez, relembrem que depois de mesa posta não
se briga nela.
Permita-lhe o sagrado silêncio que o lugar exige. Várias
igrejas foram construídas com duas sacristias: uma, ao padre, que, antes, deve
centrar-se no Mistério, a outra, a outros fins. Hoje, em alguns lugares, uma
virou almoxarifado, outra um enxame de abelhas.
3º Cuide dos leitores – por eles é o próprio Senhor quem
fala![5]
Mostre-lhes que a leitura do folheto é a mesma que está no
Lecionário[6] e que este é mais
simbólico. O primeiro vai para o lixo na segunda, o segundo, vai do ambão para
a sacristia[7] e, volta sempre novo,
de novo. Mas não basta dizer, faça-lhes ver e ler! Contudo, recomende-lhes que o
tenha, junto ao assento, para salvar-lhes na hora do “desalento”. Leitura bem
feita dá gosto de ouvir.
Mostre-lhes o leve movimento do microfone, para cima e para
baixo, se necessário. Um se ajuste ao outro, mas com calma
Mostre-lhes o texto, antes, para que, depois, não haja
pretexto.
3.Cuidar do que?
Pelos sinais a comunidade se constrói! (cf.
Lc 24, 13-35).
1º. Cuide que haja partículas suficientes para a missa do
dia, o vinho e a água.
Compor a credência com os vasos sagrados é tarefa dos
ministros da comunhão e dos coroinhas. Não havendo nenhum deles, uma pessoa
idônea, o fará.
2º. Cuide da “entrega” dos folhetos e dos livros de cantos.
De tempo em tempo haja um revezamento com catequizandos,
crismandos e demais membros da comunidade. Cuide para que os primeiros que chegam
não fiquem com tudo. Normalmente os primeiros que chegam são os que já sabem os
cantos e as respostas de cor. E, os demais que realmente precisam da letra ficam
sem nada.
3º. Cuide da coleta na missa
Quando há procissão, duas pessoas disponham o “recipiente”,
no corredor, à frente do altar, e, em seguida, o deponham “aos pés do altar”,
feito de tal modo que transpareça a ação da partilha e não a dos pedintes;
Se a coleta for de mão em mão, duas pessoas entreguem aos
primeiros dos primeiros lugares. Recordo-lhes que o gesto será diferenciado se
os primeiros à frente derem o exemplo. Após, deponham “aos pés do altar”.
Ao final da missa, confiram e anotem o resultado. Em coletas
especiais e obrigatórias, no domingo seguinte, agradeça a colaboração e
divulgue o resultado, repetindo a destinação.
4. Cuidar é próprio de quem ama – Pelo testemunho os
reconhecerão!(Cf. Jo 13,1-11)
Então, mãos
à Obra.[8] Sem jogo de empurra-empurra.
Ao convidar a todos, dizendo a todos que todos são responsáveis não atinge
ninguém. Um espera pelo outro, que espera pelo outro, e ambos esperam que
outros tenham ido e no fim nenhum foi. Como a liturgia é feita com pessoas,
proponho uma forma:
1º. O padre comece por convidar para uma reunião, 3 a 5
pessoas, entre os já ajudam na liturgia.
Tomem juntos um “bom café” e depois façam uma lista com
nomes de pessoas que aceitem o desafio de cuidarem das celebrações, “preparando
as pessoas, os lugares, os textos e os ritos”.[9]
2º. O padre diga que sentido da reunião em maior número, não
é somente para distribuir funções na missa. Mas para rezar juntos, estudar
juntos, ensaiar juntos e, depois da oração e dos ensaios, tomarem “um
café-com-leite mais reforçado” juntos.
3º. Quem ama, cuida a Obra, quem não ama não se importa e,
cuida de si
Quem ama encontra tempo, retira o carro da garagem ou arruma
carona, e participa, faz parte “da lista”. Quem ama não deixa que só “a fulana
e o fulano” carreguem o peso sozinho. Quem ama dá um jeito e ajeita. Que não
ama arruma desculpa e se justifica, lava as mãos. Quem ama, encara o desafio
com fé, e ajuda a convencer a si e a outros que ajudar é a melhor maneira de
amar.
[1] O
livro “Saber cuidar” de Leonardo Boff (1999) que trata do cuidado pela terra,
serve de inspiração.
[2]
Aclamação Memorial, feita pelo presidente da celebração,diante da assembleia,
lembrando as palavras de Paulo em 1Cor 11,26.
[3]
Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, cap, II
[4]
Sacrosanctum Concilium, n. 7. Falando sobre a presidência do ministro ordenado,
citando a Instrução Geral do Missal Romano, n. 92-95, diz o “Guia Litúrgico Pastoral” da CNBB, p.
93, que este ministério “situa-se no horizonte da unidade, da animação, da
coordenação e da presidência da comunidade e das ações litúrgicas”.
[5]
Idem, n.7.
[6] Livro
que contém todos os textos bíblicos para a Celebração da Eucaristia.
Constitui-se pela sequência do ano litúrgico A (Mateus); B (Marcos) e C(Lucas).
2013 é o ano C.
[7] “A
sacristia faz parte do templo, por isso seja harmoniosa e bem arrumada. Ela é
lugar do respeito, do silêncio, da concentração de quem preside, ministros(as),
coroinhas e demais participantes da equipe da celebração. O objetivo da
sacristia é favorecer sempre a harmonia e a acolhida”. CNBB. Guia Litúrgico
Pastoral, p.114.
[8] Trata-se
da Obra da Salvação, prenunciada por Deus, realizada em Cristo. (cf. SC n. 5).
[9] Missal
Romano, n. 1.