As referências dos Evangelhos e do Atos dos Apóstolos a
Maria, Mãe de Jesus, apesar de poucas, deixam ver muito desta privilegiada
criatura, escolhida para tão alta missão. São Paulo, na Carta aos Gálatas
(4,4), dá a entender claramente que, no pensamento divino de nos enviar o Seu
Filho, quando os tempos estivessem maduros, uma Mulher era predestinada a no-Lo
dar. Para que se compreenda a presença da Virgem Maria nesta predestinação
divina, a Igreja, na festa de 8 de dezembro, aplica à Mãe de Deus aquilo que o
livro dos Provérbios (8, 22) diz da sabedoria eterna: “Os abismos não
existiam e eu já tinha sido concebida. Nem fontes das águas haviam brotado nem
as montanhas se tinham solidificado e eu já fora gerada. Quando se firmavam os
céus e se traçava a abóboda por sobre os abismos, lá eu estava junto dele e era
seu encanto todos os dias”. Era, pois, a predestinada nos planos divinos.
Para se perceber melhor o perfil materno de Nossa Senhora,
três passagens bíblicas podem esclarecer isso. A primeira é a das Bodas de
Caná, que realça a intercessora. Quando percebeu – o olhar feminino que tudo vê
e tudo observa – estar faltando vinho, sussurra no ouvido do Filho sua
preocupação e obtém, quase sem pedir, apenas sugerindo, o milagre da
transformação da água em generoso vinho. Ela é, de fato, a mãe que se interessa
pelos filhos de Deus que são seus filhos.
Outra passagem do Evangelho esclarecedora da personalidade
de Maria é a que nos mostra seu silêncio e sua humildade. O anjo a encontra na
quietude de sua casa, rezando, para dizer-lhe que fora escolhida por Deus para
dar ao mundo o Emanuel, o Salvador. Ela se assusta com a mensagem celeste,
porque, na sua humildade, nunca poderia ter pensado em ser escolhida do
Altíssimo. Acolhe assim, por vontade divina, a palavra do mensageiro,
silenciosamente, sem dizer, nem sequer ao noivo, José, o que nela se realizava.
Deus tem o direito de escolher e por isso ela diz apenas o generoso “sim” que a
tornou Mãe de Deus.
O terceiro traço de Maria-Mãe é sua corajosa atitude diante
do sofrimento. Ao apresentar o seu Jesus no templo, ouve a assustadora profecia
do velho Simeão: “Uma espada de dor transpassará a tua alma”. Pouco mais tarde,
estreitando ao peito o Menino Jesus, deve fugir para o Egito com o esposo, para
que a crueldade de Herodes não atingisse a Criança que – pensava ele, Herodes –
lhe poderia roubar o trono. Quando seu Filho tem doze anos, desencontra-se dele
e, ao achá-Lo após três dias, queixa-se amorosamente: “Por que fizeste isto? Eu
e teu pai te procurávamos, aflitos”. Sua coragem se confirma na Paixão e
Crucifixão de Jesus. De pé, ali no Calvário, sofre e associa-se ao sacrifício
do Redentor. É a mulher forte, a mãe corajosa e firme, a quem a dor não
derruba. De fato, a espada de Simeão lhe atravessara a alma e o coração. É a
Senhora das Dores.
Maio, mês dedicado a Nossa Senhora, pela piedade cristã, é
um convite para voltarmos nosso olhar a esta Mãe querida para pedir-lhe que
abra as mãos maternas em bênção de carinho sobre nossos passos nesta difícil
escalada da Jerusalém celeste.