Com a missa vespertina da Ceia do Senhor, iniciamos ontem, o Tríduo
Sagrado que nos introduz na dinâmica do mistério pascal de Cristo: a passagem
da morte para a vida gloriosa do Ressuscitado.
Na primeira leitura tirada do livro do Êxodo, o texto
descreve como os judeus celebram a sua páscoa, cada ano, para fazer memória da
sua libertação do Egito. A Páscoa para os judeus é memória da passagem de Javé
que livra as casas dos israelitas da morte dos primogênitos e da passagem do
Mar Vermelho, rumo à terra prometida.
Nós cristãos, celebramos também a nossa páscoa, a páscoa de
Cristo, a sua passagem deste mundo ao Pai, através da morte na cruz, da sua
ressurreição e glorificação à direita do Pai.
“Sabendo Jesus que chegava a sua hora de passar deste mundo
para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo
13,1).
Na ceia de Quinta-Feira Santa, Jesus antecipou a entrega de
sua vida, livremente e por amor. Nessa ceia, com os seus apóstolos, Jesus
tornou presente, sacramentalmente, nos sinais do pão e do vinho, sua oferta ao
Pai pela salvação de todos nós. “Isto é o meu corpo, que será entregue por
vós”. “Este é o meu sangue da nova aliança, que será derramado por vós, para a
remissão dos pecados.” A morte de Jesus na cruz é o sinal do seu amor extremo
para conosco.
Jesus instituiu a Eucaristia que é a atualização do seu
sacrifício, memorial de sua morte e ressurreição. “Todas as vezes, de fato, que
comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do
Senhor, até que ele venha” (I Cor 11,26). É também a renovação da Ceia do
Senhor na qual ele nos dá o seu Corpo e o seu Sangue como alimento de vida
eterna.
A Eucaristia é também sacramento da presença real do Cristo
ressuscitado entre nós, para ser visitado, adorado e glorificado por nós e ser
levado aos enfermos e idosos impossibilitados de participar da celebração
eucarística.
Na Quinta-Feira Santa, juntamente com a Eucaristia, Jesus
instituiu o sacerdócio ministerial.
Ao dizer aos apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”,
Jesus quis ter a necessidade de homens que, consagrados pelo Espírito Santo,
agissem em união íntima com a sua pessoa, para perpetuar, no tempo e no espaço
o memorial de nossa redenção e para distribuir aos que se aproximassem da mesa
do Senhor, o alimento da verdadeira vida.
“Dom e mistério é o
sacramento do altar, dom e mistério é também o sacerdócio, tendo surgido os
dois, a eucaristia e o sacerdócio, do Coração de Cristo durante a Última Ceia”
(João Paulo II)
O gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos durante a
Última Ceia narrado por São João, define toda a vida de Jesus: doação de toda a
sua existência para a libertação do homem do pecado e do mal. Lavar os pés de
alguém era, na antiguidade, uma tarefa própria de escravos. Jesus faz-se
escravo e lava os pés dos seus discípulos. A cena do Lava-pés, ao lado da cruz,
expressa o cume da doação de si mesmo que Jesus faz à humanidade na Eucaristia.
Ao substituir a narração da Eucaristia pelo lava-pés, São João mostra-nos que a
Eucaristia ao nos unir a Cristo, deve levar-nos também a solidariedade com os
nossos irmãos. Comungar o Cristo, é comungar com o irmão. A cena do lava-pés
que vamos rememorar daqui a pouco não pode reduzir-se a uma representação
sentimental do gesto de Jesus, mas deve expressar o nosso propósito de traduzir
esse gesto de Jesus em atos de amor e de serviço aos nossos irmãos na nossa
vida cotidiana.
É impossível separar a Eucaristia do amor fraterno. A
entrega total de Cristo na Última Ceia pede de todo discípulo seu que se
coloque a serviço do irmão mais necessitado. “Se eu, Senhor e mestre, vos lavei
os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para
que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 13-15). Lavar os pés uns dos outros
significa fazer o bem aos outros, particularmente, aos mais necessitados. O
Senhor Jesus nos convida a aprender dele a humildade e a coragem de retribuir
sempre com a bondade e o perdão os que nos ofendem. Jesus manso e humilde de
coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso.