Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor,
a Igreja abre a Semana Santa.
No Evangelho ( Mt 27, 11 – 54 ) vemos que o cortejo
organizou-se rapidamente. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias,
montado num burrinho, conforme havia sido profetizado muitos séculos antes
(Zac. 9,9). Jesus aceita a homenagem, e quando os fariseus, que também
conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria,
o Senhor disse-lhes: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão.” (Lc
19, 40).
Nossa celebração de hoje inicia-se com o Hosana! E culmina
no crucifica-o! Mas este não é um contrassenso; é, antes, o coração do
mistério. O mistério que se quer proclamar é este: Jesus se entregou
voluntariamente a sua Paixão; não se sentiu esmagado por forças maiores do que
Ele (Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade: Jo 10,18); foi
Ele que, perscrutando a vontade do Pai, compreendeu que havia chegado a hora e
a acolheu com a obediência livre do filho e com infinito amor para os homens:
“… sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para
o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens,
sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade
do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a
nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através
das circunstâncias do viver humano.
Naquele cortejo triunfal, quando Jesus vê a cidade de
Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e
na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um
dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a
cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são
eloquentes estas lágrimas de Cristo.
O Concílio Vaticano II, G.S,nº 22, diz: De certo modo, o
próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com
mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de
Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado.
Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e
n’Ele o próprio Deus nos reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou
da escravidão do demônio e do pecado, e assim cada um de nós pode dizer com o
Apóstolo: “Ele me amou e se entregou por mim (Gal. 2,20)”.
A história de cada homem é a história da contínua solicitude
de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou
tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. É o
profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de
rejeitar a graça divina.
Como é que estamos correspondendo às inúmeras instâncias do
Espírito Santo para que sejamos santos no meio das nossas tarefas, no nosso
ambiente? Quantas vezes em cada dia dizemos sim a Deus e não ao egoísmo à
preguiça, a tudo o que significa falta de amor, mesmo em pormenores
insignificantes?
A entrada triunfal de Jesus foi bastante efêmera para
muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico
transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que
foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência?
São Bernardo comenta: “Como eram diferentes umas vozes e
outras! Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana
nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e
dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são
diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem
antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a
sorte sobres elas.”
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência
e perseverança,aprofundamento da nossa fidelidade, para que os nossos
propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Muito
dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do
pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser
constantes e matar pela penitência o que nos afasta de Deus e nos impede de
acompanhar o Senhor até a Cruz.
A Igreja nos lembra que a entrada triunfal vai perpassar
todos os passos da Paixão de Cristo. Terminada a procissão mergulha-se no
mistério da Paixão de Jesus Cristo: Em Is 50 4-7 descreve o Servo sofredor, na
esperança da vitória final. Vemos nele a própria pessoa de Jesus Cristo. Em Fl
2,6-11 temos a chave principal de todo o mistério deste Domingo de Ramos: Jesus
humilhou-se e por isso Deus o exaltou!
No texto de Mt 27, 11 – 54 ), somos chamados a contemplar a
PAIXÃO e a MORTE de Jesus. Que durante a Semana Santa possamos tirar muitos
frutos da meditação da Paixão de Cristo. Que em primeiro lugar tenhamos aversão
ao pecado; possamos avivar o nosso amor e afastar a tibieza!
Toda nossa vida é, em certo sentido, uma “semana santa” se a
vivemos com coragem e fé, na espera do “oitavo dia” que é o grande Domingo do
repouso e da glória eterna.
Neste tempo, Jesus nos repete o convite que dirigiu a seus
discípulos no Horto das Oliveiras: “Ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26,38).