A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) concedeu entrevista coletiva à imprensa na tarde de quinta-feira, 18,
em sua sede em Brasília, por ocasião do encerramento da primeira reunião do
Conselho Permanente da entidade, que teve início na terça-feira, 16. Aos
jornalistas, foi apresentada a Encíclica do papa Francisco, "Laudato si' -
sobre o cuidado da casa comum”, divulgada pelo Vaticano nesta manhã. Para o
arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, Dom Sergio da Rocha, o tema do
documento “é de grande atualidade” e “os problemas são muito urgentes”.
O texto trata da ecologia humana e o clima está no centro
das preocupações apresentadas pelo pontífice. Na publicação, são apontadas as
problemáticas e desafios de preservação e prevenção, como também aspectos da
proteção à criação e questões como a fome no mundo, pobreza, globalização e
escassez. Este é o primeiro documento escrito integralmente pelo pontífice, que
buscou inspiração nas meditações de São Francisco de Assis, patrono dos animais
e do meio ambiente. O título, inclusive, inspirado na invocação “Louvado sejas,
meu Senhor”, que no Cântico das Criaturas recorda que a terra pode ser
comparada com uma irmã e uma mãe.
Dom Sergio destacou a gratidão, o louvor, a esperança e a
responsabilidade como as atitudes diante da apresentação do texto. Para o
arcebispo, “louvor e gratidão” são o espírito da Encíclica, que “se completa
com a esperança”.
“Nós temos a esperança de uma acolhida atenta da reflexão
que é proposta, mas também das iniciativas, das propostas que aqui vamos
encontrar. E é claro que essa atitude de gratidão e esperança também se
manifesta como atitude de responsabilidade diante daquilo que o papa apresenta.
Porque aqui são diversos níveis de atividades, propostas e consequentemente de
responsabilidades”, afirmou o Arcebispo.
Ainda teve evidência na fala do presidente da CNBB o quarto
capítulo do texto, considerado significativo. “Ecologia Integral” é a proposta
de Francisco em um dos seis capítulos da Encíclica. “Eu diria que aí se resume
grande parte da maneira, da perspectiva como o papa aborda a temática. Aqui não
se fala apenas da ecologia ambiental, mas uma ecologia mais humana, ou de uma
visão mais integral da própria ecologia com os vários níveis, ambiental,
econômico, social e cultural”, sintetizou.
Ainda sobre a abordagem da temática, dom Sergio analisa a
visão de Francisco a respeito das “repercussões sociais” dos problemas
ambientais, “sobretudo para os mais pobres, para as regiões mais pobres, mais
sofridas”.
Conversão Ecológica
Ao longo do texto, o papa convida a ouvir os "gemidos
da criação", exortando todos a uma “conversão ecológica”, a “mudar de
rumo”, assumindo a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa
comum”. Nesse trecho da Encíclica, o papa “pressupõe espiritualidade e mística,
iluminada pela Palavra de Deus”, considera dom Sergio, que observa ainda que,
embora haja apresentação da temática de forma especializada cientificamente,
não faltou a “luz da fé”.
Para o arcebispo de Salvador (BA) e vice-presidente da CNBB,
Dom Murilo Krieger, o papa foi realista, proativo e corajoso em sua publicação,
pois ela “não fica apenas em uma crítica, mas aponta caminhos na esperança de
poder mudar a situação do mundo” e “propõe uma mudança de mentalidade”.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, Dom
Leonardo Ulrich Steiner, destacou os momentos de preparação do documento,
quando o papa teve a “sensibilidade” de recolher as contribuições das
conferências episcopais e até do patriarca ecumênico, a respeito do tema.
Dom Leonardo também comentou a proximidade da reflexão com
os temas das próximas duas campanhas da Fraternidade, escolhidos antes da
publicação da Encíclica. Em 2016, com a coordenação do Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a CF propõe a temática “Casa comum, nossa
responsabilidade”. No ano seguinte, “Vida e Biomas” serão os principais
elementos de reflexão.