Neste ano, são comemorados os 50 anos do encerramento do
Concílio Vaticano II, um dos eventos mais marcantes da Igreja no século XX. A
reunião episcopal foi realizada de outubro de 1962 a outubro de 1965. No
Brasil, eventos para celebrar o cinqüentenário vêm sendo realizados no último
triênio. Para 2015, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe
uma reflexão mais ampla sobre o Concílio, por meio da Campanha da Fraternidade
(CF), que será aberta oficialmente, em âmbito nacional, na Quarta-Feira de
Cinzas, 18 de fevereiro, às 10h45, com transmissão ao vivo pelas emissoras
católicas de rádio e televisão. O tema “Fraternidade: Igreja e sociedade”
e o lema “Eu vim para servir” abordam a relação entre a Igreja e a sociedade à
luz da fé cristã e dos documentos do Concílio Vaticano II.
De acordo com o bispo auxiliar de Brasília e secretário
geral da CNBB, o tema é bastante aberto e provoca uma “debate sobre a
participação e atuação dos cristãos na vida social”.
O objetivo almejado pela CF 2015 é aprofundar, a partir do
Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos
pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a
edificação do Reino de Deus.
A Campanha também quer fazer memória ao caminho percorrido
pela Igreja com a sociedade, para identificar e compreender os principais
desafios da atualidade; apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da
Doutrina Social da Igreja; apontar as questões desafiadoras na evangelização da
sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral;
aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da
cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para
superar as relações desumanas e violentas.
Além disso, a Campanha propõe ainda buscar novos métodos,
atitudes e linguagens na missão da Igreja de levar a Boa Nova a cada pessoa,
cada família; atuar profeticamente, com base na evangélica opção preferencial
pelos pobres, para um desenvolvimento integral da pessoa e a construção de uma
sociedade justa e solidária.
Documentos que inspiraram a CF
A CF 2015 parte de dois pressupostos fundamentais para a vida cristã, também
centrais no Concílio Vaticano II: a auto-compreensão da própria Igreja; e as
implicações da fé cristã para o convívio social e para a presença da Igreja no
mundo. O papa Paulo VI havia expressado isso em duas perguntas feitas na
abertura da segunda sessão do Concílio: Igreja, que dizes de ti mesma? Igreja,
dizei qual é a tua missão?
A proposta desta edição é baseada nas reflexões sugeridas
pela Constituição Dogmática Lumen Gentium e na Constituição Pastoral Gaudium
et Spes, que tratam da missão da Igreja no mundo.
Conforme
dom Leonardo, os presidentes das comissões pastorais da CNBB acharam muito
importante ter uma campanha que abordasse esses dois documentos para
estabelecer, portanto, uma reflexão entre a sociedade e a Igreja. “Essa
Campanha procura lembrar que a Igreja está a serviço das pessoas, ela não quer
privilégios. Até porque a Igreja é mais do que uma estrutura, ela é cada
cristão, cada batizado, que está inserido na sociedade por meio do trabalho,
das instituições e diversas ações. Queremos refletir essa presença da Igreja na
sociedade”, destaca o bispo.
O documento conciliar Lumen Gentium (A luz dos
povos) revela a auto-compreensão da Igreja, formada por todos os que aderem a
Cristo pela fé no Evangelho e pelo batismo. Assim, mais do que uma instituição
juridicamente estruturada, a Igreja é um imenso “povo de Deus”, presente entre
os povos e nações de todo o mundo, não se sobrepondo, mas inserindo-se
neles.
A partir dessa visão, a Igreja passa a superar uma das
grandes questões assumidas pelo Concílio, a visão dicotômica Igreja-mundo. Isto
se desdobra no esforço da Igreja para abrir-se ao diálogo com o mundo; de estabelecer
uma relação com as realidades humanas; acolher o novo e o bem; partilhar as
próprias convicções; contribuindo para o bem comum e colocando-se a serviço do
mundo.
Essa nova postura é expressa na Constituição Pastoral
Gaudium et Spes (A alegria e a esperança), aprovada e promulgada em 1965, por
Paulo VI, às vésperas do encerramento do Concílio. Neste texto aparece a visão
cristã sobre o mundo e o homem, sua dignidade, existência e vocação, e ainda
reflete sobre a comunidade humana e as relações sociais, o sentido do trabalho
e da cultura e sobre a participação da Igreja enquanto povo de Deus inserido na
sociedade, na promoção do bem de toda a comunidade humana.
Em seus pronunciamentos, o papa Francisco recorda sobre a
importância da Igreja estar a serviço de seu povo. Fala de uma Igreja em saída,
comunidade samaritana, e afirma que a Igreja não pode se omitir, nem abster de
dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da
sociedade.
A Campanha da Fraternidade retoma então essas reflexões do
Concílio, para propô-las novamente, no contexto brasileiro, durante o ano de
2015, especialmente no período quaresmal de preparação para a Páscoa.