A tradição bíblica e cristã assentaram a espiritualidade
quaresmal em três pilares, que, com a força libertadora e santificadora do
Espírito Santo, recriam o homem novo: a oração, o jejum e a esmola.
A oração – É um encontro pessoal do homem com o Deus
vivo, que nos convida à Sua intimidade. “A oração”, refere S. João Crisóstomo,
“é a luz da alma e, por meio dela, unimo-nos ao Senhor num abraço inefável”.
Num mundo, onde predominam o ruído e uma vida artificial, a experiência de
silêncio e de deserto, ajudam-nos a purificar a memória, a descer à
profundidade do ser, a pacificar-nos e a mergulhar no mistério vivo do Amor de
Cristo e dos irmãos.
O Jejum – Não se reduz apenas à abstenção de alimentos.
É, em primeiro lugar, um elemento importante de domínio pessoal, abertura
incondicional ao amor de Deus e realização da Sua vontade. Além de ser uma
preciosa ajuda no combate contra o mal, é um meio eficaz para reatar a amizade
com Deus e com os outros. A mensagem de Bento XVI, para a Quaresma de 2009,
está centrada no jejum, porque, refere o Papa, “o jejum ajuda-nos a tomar
consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos”. E, porque o amor
de Deus incarna em gestos humanos concretos, a Igreja, fiel a Deus e ao homem,
não pode ficar indiferente perante as situações gritantes de pobreza, fome,
indigência e sofrimento, de uma grande parte da família humana. O Papa,
querendo “manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os
irmãos, encorajou as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na
Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a
escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola”. (Bento XVI, Mensagem para a
Quaresma 2009).
A esmola – “Quem dá esmola oferece a Deus um sacrifício
de Louvor” (Sir 35, 4-5). A caridade é abertura do coração e solidariedade para
quem está privado de alimentos, de meios económicos, de bens culturais e de
progresso. Somos chamados a ser o Rosto da misericórdia de Cristo, junto dos
irmãos mais necessitados, que solicitam a nossa ajuda de bens materiais e
espirituais. Fazer uma caminhada quaresmal autêntica é, também, partilhar
alegre e generosamente o nosso tempo: visitar os doentes, consolar os tristes,
animar os que vacilam e testemunhar a esperança, onde o desamor, a solidão e a
tristeza se instalaram. “Amar a Deus de todo o coração e o próximo como a si
mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios” (Mc 12,33).