terça-feira, 10 de novembro de 2015

DOM ODILO FALA SOBRE A CONCLUSÃO DO SÍNODO DAS FAMÍLIAS



Portal ArquiSP – O Sínodo dos Bispos trata da família e o interesse da opinião pública em relação ao tema tem sido grande. O Sínodo trata de todos os aspectos da família?
Dom Odilo Pedro Scherer – É um bom sinal que a opinião pública esteja bem interessada na reflexão sobre a família: o tema ainda interessa! Embora o Sínodo tenha a família como grande tema, o aspecto específico que está em pauta é a vocação e a missão da família na Igreja e na sociedade contemporânea. Para quê existe ainda a família? Que fundamentos temos para falar de uma certa maneira do casamento e da família? Como se propõe que a família realize hoje a sua vocação e sua missão? Penso que o resultado será interessante.

Portal ArquiSP – Este Sínodo conta com cerca de 300 participantes e se supõe que todas elas querem falar e dar suas contribuições para o desenvolvimento do tema. Como trabalha o Sínodo?
Dom Odilo – Todos os participantes do Sínodo podem dar suas contribuições; é para isso que vieram. O trabalho é organizado conforme um método bem controlado para que todos possam oferecer suas reflexões; a todos é concedida a palavra ao menos uma vez no grande plenário; mas uma grande parte do tempo é dedicada ao trabalho de grupos menores, onde a participação é maior e dinâmica. Mas o Sínodo é também um grande exercício de escuta, onde não se trata de “ganhar a cena” ou de fazer “vencer” a própria opinião ou visão das coisas. O Papa Francisco lembrou, no início dos trabalhos, que o Sínodo não é um Parlamento, onde vence a maioria, ou onde se faz “lobby” de partidos e grupos, mas é lugar de diálogo e de busca da verdade: “todos devemos colocar-nos à escuta do Espírito Santo” para acolher as suas orientações.

Portal ArquiSP – A grande imprensa, em geral, fixou o seu interesse sobre a questão da comunhão aos divorciados ou separados, que casaram novamente, ou sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo, esperando uma palavra nova da Igreja sobre essas questões. Como esses temas repercutem dentro da sala do Sínodo?
Dom Odilo – Esses temas foram destacados para a opinião pública a ponto de se pensar que seriam os pontos centrais do Sínodo. É certo que também esses, como muitas outras situações que a família enfrenta são objeto de reflexão no Sínodo e da busca da atenção pastoral da Igreja. Mas o tema do Sínodo vai muito além dessas questões: na verdade, a grande questão do Sínodo é repropor o significado e o valor do casamento e da família para a pessoa, para a comunidade humana e também para a Igreja. Na cultura atual, há muitos sinais de crise do casamento e da família. A Igreja não vai abandonar a família, como se fosse um barco à deriva. A família é um grande bem para a humanidade.

Portal ArquiSP – Qual é o espaço para a imprensa no Sínodo?
Dom Odilo – A imprensa, em geral, está muito interessada na temática do Sínodo; a organização do Sínodo reserva uma atenção especial aos agentes da imprensa, com entrevistas coletivas, boletins informativos e dando a oportunidade para que os Padres sinodais se manifestem na imprensa. Há um bom número de Meios de Comunicação e serviços de imprensa ligados à Igreja, que informam com abundância sobre o Sínodo. 

Portal ArquiSP – Participam do Sínodo bispos provenientes de diversas culturas e experiências culturais e religiosas: como essas visões diferentes são harmonizadas dentro do Sínodo?
Dom Odilo – De fato, a assembleia do Sínodo oferece a ocasião para que sejam apresentadas, sobre um tema determinado, as percepções variadas a partir das experiências culturais e religiosas dos povos mais diversos. A respeito do casamento e da família, existem tradições muito diversificadas, como a monogamia, a poligamia, os casamentos “arranjados” em família, o casamento em etapas, a família fortemente tribal, patriarcal, matriarcal... O interessante é que, em todo o mundo, onde o cristianismo foi acolhido, prevalece mais ou menos a mesma visão de casamento e família; muitas vezes, convivendo com outras tradições. No Sínodo procura-se discernir sobre o casamento e a família a partir da luz do Evangelho de Cristo.

Portal ArquiSP – O Sínodo tem uma palavra especificamente voltada para os casais?
Dom Odilo – Certamente! Primeiramente, para ajuda-los a perceber o significado e o valor e o significado do casamento e da família e para encorajá-los a viverem o casamento como um dom e uma missão e a crescerem cada dia no amor e na realização da sua vida matrimonial e familiar. A Igreja tem muito apreço pelo casamento e pela família porque esses têm sua origem no desígnio de Deus. Aos casais em dificuldades, ou que vivem situações de dor e angústia, a Igreja deseja confortar, manifestando-lhes sua proximidade. E a Igreja gostaria de dizer a todos os casais cristãos que eles têm uma grande missão a realizar na própria Igreja mas também na humanidade.

Portal ArquiSP – Muitos jovens hoje têm dúvidas sobre o valor do casamento e da família. Muitos deixam de casar; outros preferem uniões sem alguma formalização do vínculo. Qual ser[á a mensagem do Sínodo para eles?
Dom Odilo – Há uma constatação geral que muitos jovens deixam de casar na Igreja e também no civil. Talvez não perceberam ainda a importância do compromisso público e formal do seu casamento. Muitos jovens vivem certa insegurança e até angústia diante do casamento; o compromisso “para sempre” assusta um pouco... Aos jovens todos, o Sínodo dirigirá uma palavra de encorajamento e de confiança: vale a pena casar e formar família, mesmo se os tempos andam difíceis. Ninguém se iluda, pensando que houve alguma época sem dificuldades... O que é preciso, é ter coragem, generosidade e muita confiança em Deus.

Portal ArquiSP – Muitos casais e famílias sofrem, por variados motivos: miséria e pobreza, doença, conflitos em família, separações, guerra, emigração. Essas situações também encontram ressonância no Sínodo?
Dom Odilo – O Sínodo está particularmente atento às situações de sofrimento e dor nas famílias e conclama para a solidariedade. A Igreja quer ser casa de portas abertas para acolher e confortar a todos. E quer sair ao encontro de todas as situações de “periferia” que marcam tantas famílias hoje em dia. Falou-se muito da importância de constituir comunidades de famílias solidárias e acolhedoras. A própria família é a primeira escola de fraternidade e de solidariedade para com as demais pessoas.

Portal ArquiSP – Embora o Sínodo ainda esteja em andamento, já é possível entrever quais seriam alguns frutos que se podem esperar deste Sínodo?
Dom Odilo – Eu espero que o Sínodo possa despertar um renovado interesse da própria Igreja e de sua ação evangelizadora em relação à família. Nesse sentido, seria muito bom reaproximar a família da Igreja e que se refizesse esse “pacto de interação e colaboração” entre ambas. Sem a eficaz participação da família na vida e na missão da Igreja, esta terá muita dificuldade para dar eficácia à sua missão. Espero que os jovens descubram novamente a beleza e o valor alto do casamento e da família. E espero que as muitas famílias “feridas” possam encontrar orientação e conforto, para encontrar-se novamente bem na Igreja, mesmo com imperfeições e carências.