O último dia do Tríduo em preparação para a festa de nossa Padroeira foi presidido por D. Fernando José Penteado. Dom Fernando é bispo emérito de Jacarezinho - PA e antes trabalhou muitos anos como bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, como Vigário Episcopal da Região Lapa. Foi ele quem solicitou ao então cardeal Arcebispo D. Claudio Hummes, para erigir a nossa comunidade como Paróquia.
Dom Fernando refletiu sobre o tema: "Santa Maria, mãe de Deus".
O Catecismo da Igreja Católica, no nº 495, nos diz que a
“Igreja confessa que Maria é verdadeiramente mãe de Deus”. Esta afirmação pode
ser vista solenemente proclamada pelo Papa Paulo IV, no dia 7 de agosto de
1555, quando diz: “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeiramente mãe de
Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e
constantemente depois do parto”. O que podemos entender desta afirmação? Qual é
a fé da Igreja católica na maternidade divina de Maria?
A importância do dogma da maternidade divina
Porque Maria foi escolhida para ser mãe de Jesus, podemos
deduzir os outros três dogmas marianos: Maria foi preservada do pecado
original, em função de sua missão singular na história da salvação; ela
permaneceu virgem em sinal de sua consagração radical ao projeto salvífico; e
foi assunta aos céus em corpo e alma, em virtude de sua correspondência ímpar à
vontade do Pai. A vocação de gerar a natureza humana de Jesus é singular e só
pode ser entendida dentro das ações maravilhosas que Deus realizou em função de
seu povo. A maternidade divina justifica, explica e fundamenta os outros dogmas
marianos.
Maria, Theotókos
Este título apareceu dentro do pensamento teológico grego:
mãe de Deus = Theotókos. Acredita-se que foi usado pela primeira vez por volta
do século 3 a.C., por Orígenes, em Alexandria. Isto nos leva a crer que já
existia uma tradição oral que usava esta palavra para qualificar Maria. Mais
tarde, em 431, este título vai ser solenemente proclamado no Concílio de
Éfeso. Nesta época, a Igreja enfrentava a heresia nestoriana, que
afirmava que em Jesus existia a pessoa divina com a sua natureza divina e a
pessoa humana com sua natureza humana. Nestório e os nestorianos diziam que
Maria era mãe da pessoa humana. A doutrina do Concílio afirma categoricamente
que Jesus é pessoa divina, com duas naturezas: a divina e a humana. Por isso, a
Igreja conclui que Maria é mãe de Deus. Ela teria gerado a natureza humana que
foi assumida pelo Verbo de Deus. Diz o CIC no nº 495, “Aquele que ela concebeu
do Espírito Santo como homem e se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a
carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima
Trindade”.
Maria, mãe de Deus
Assim, fica claro o que significa o título mariológico: se
Maria é mãe, ela não é mãe de uma natureza, mas de uma pessoa. Ora, a pessoa a
quem Maria deu à luz é a única pessoa do Verbo de Deus. Logo, Maria é mãe de
Deus. É claro que a Igreja não afirma que Maria criou ou gerou a natureza
divina. Todavia, no momento em que ficou grávida, gerou a natureza humana unida
a pessoa divina, e quem nasceu foi Jesus, Deus feito homem.
Razões da maternidade divina de Maria
O CIC, do número 503 até o 507, apresenta para nós cinco
razões para que Maria se tornasse a mãe de Deus. A primeira razão é para
revelar a iniciativa absoluta de Deus na encarnação. O homem nunca poderia se
arrogar este poder de trazer Deus até ele. Mas, Deus teve condescendência com a
humanidade e se encarnou no seio de Maria para nos salvar. A segunda razão é
que sendo Jesus o novo Adão, sua humanidade está repleta do Espírito Santo.
Maria é vista como a nova Eva, a mãe do homem novo que vai vivificar os outros
homens mortos no pecado. A terceira razão é para mostrar que, assim como Jesus
nasceu de uma concepção virginal, assim os homens participarão da vida divina
por pura gratuidade de Deus. A virgindade de Maria é sinal de sua fé e de sua
doação no cumprimento da vontade de Deus – esta é a quarta razão. Por fim, a
última razão é que a maternidade de Maria é um símbolo da maternidade da
Igreja. A Igreja é chamada na sua fé e doação a gerar novos filhos de Deus pela
pregação e pelos sacramentos.