No alto da colina de Harissa (palavra que significa
proteção), que domina a baía de Junieh, entre o mar azul e o cimo das
legendárias cordilheiras que deram nome àquela terra singular, desponta uma das
inspirações do povo libanês: a imagem de Nossa Senhora do Líbano e o seu
santuário, metas de peregrinação tanto de cristãos como de não-cristãos que,
aos pés da Mãe de Deus e diante do sacrário, depositam seu amor, suas preces,
suas lágrimas, esperanças e agradecimentos, desafogando o coração, purificando
a alma, voltando revigorados para a lida do dia-a-dia.
A devoção do povo libanês por Nossa Senhora é tradicional,
remontando aos primeiros séculos da Igreja, pois seus antepassados fenícios
tiveram a grande graça de conhecerem pessoalmente Maria Santíssima, assim como
a Seu amado Filho Jesus. Aliás, a proteção de Nossa Senhora, aliada à de S.
Marun, salvou o Líbano de muitos perigos, conservando sua autonomia no decorrer
dos séculos e confirmando seus habitantes na fé católica e na fidelidade a
Roma, fazendo dessa nesga de terra, confinada entre a montanha e o mar, a
pátria da fé e da liberdade. O coração maronita é um coração mariano e todo
ofício ou celebração maronita deve contar com orações e hinos dirigidos à
Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhora nossa. Ainda que não haja um só vilarejo em
todo o Líbano que não tenha um lugar de devoção local dedicado a Maria Santíssima,
o Santuário de Nossa Senhora do Líbano é o Seu santuário por excelência e a ele
acorrem os fiéis durante todo o ano, mas principalmente no mês de maio.
Junto ao antigo santuário – uma pequena capela de forma
cônica, construída toda em pedra calcária e que serve de base para a monumental
imagem em bronze de Maria Santíssima – eleva-se um novo, amplo, em cimento
armado e vidro, cujas linhas modernas lembram o cedro e uma embarcação fenícia
estilizada. O peregrino, se assim o desejar, poderá subir por uma escada em
espiral que, formando um todo com a base-capela, chega até os pés da imagem de
Nossa Senhora, contornando por fora a construção. De lá se descortina um
panorama dos mais belos. E para facilitar o acesso ao santuário, além de larga
e bem projetada estrada de rodagem, foram construídos quarenta teleféricos que,
partindo da cidade de Junieh, que se estende à beira-mar, se dirigem à montanha
do santuário, descortinando aos olhos dos seus usuários um esplêndido panorama.
A propósito: assim como o Cristo Redentor é uma “obrigação” a todo turista que
visita o Rio de Janeiro, do mesmo modo o é o santuário de Nossa Senhora em
Harissa, para quem vai ao Líbano.
As origens deste santuário remontam ao princípio do século
passado e se devem à iniciativa do grande Patriarca Maronita Elias Pedro El
Howayek que, juntamente com o então Núncio Apostólico do Líbano, D. Carol
Duval, idealizou e construiu essa casa de oração para comemorar o
cinqüentenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Corria o ano de
1904. As cerimônias de inauguração, que contaram com a participação de todo o
episcopado oriental, foram celebradas no 1.º Domingo de Maio de 1908 (no
cinqüentenário das aparições da Imaculada a St.ª Bernadete Soubirous, em
Lourdes), sendo então Núncio Apostólico Feridiano Giannini. Desde então, tal
dia se tornou a festa anual de Nossa Senhora do Líbano. Anualmente se renova
tal efeméride, cujo ponto alto é a celebração da Santa Missa presidida pelo
Patriarca Maronita, com a presença do Presidente da República e seu ministério,
além de outras personalidades civis, religiosas e grande número de fiéis.
O projeto da construção se deve ao arquiteto francês Gio e
tem 64 m. de circunferência na base, terminando com 12 m. no topo, perfazendo
um total de 20 m. de altura. Na sua sumidade encontra-se a imagem de Nossa
Senhora, fundida em bronze em Lyon (França), composta por sete peças, com o
peso total de 15 toneladas, e um perímetro de 5,50 m., medindo 8,50 m. de
altura. Aportou em Beirute em 1905, um ano após o início das obras do
santuário. Toda pintada de branco, o que lhe confere uma aura de pureza e
esplendor, é visível a quilômetros de distância graças à sua posição
privilegiada e à iluminação noturna.
Ela repousa sobre a base-capela dedicada a Nossa Senhora Mãe
da Luz (Oum En-Nour) e que guarda no seu interior, além do Santíssimo
Sacramento – conservado em um sacrário esculpido em cedro, com a forma de um
cedro que serve de fundo a uma cruz entre cachos de uva – uma imagem de Nossa
Senhora Mãe da Luz, que – benta pelo Papa Pio XII – antes de ser entronizada no
santuário, percorreu todo o Líbano em 1954, além de um crucifixo também
esculpido em cedro – obra do artista Roudy Rahme, assim como o sacrário. E no
mesmo ano de 1954, o Cardeal Angelo Roncali, o saudoso Papa João XXIII, então
Patriarca de Veneza, como Legado Pontifício coroou solenemente a imagem de
Nossa Senhora do Líbano por ocasião do centésimo aniversário da proclamação do
dogma da Imaculada Conceição e do cinqüentenário da ereção do Seu santuário em
Harissa.
O novo santuário tem, na sua parte inferior, uma capela
semicircular dedicada a N.ª Sr.ª de Lourdes, onde são celebradas a maior parte
das cerimônias litúrgicas habituais. E fora do santuário, á direita de quem o
vê, está a Capela do Perdão, idealizada como local de celebração para pequenos
grupos de peregrinos e, principalmente, para se celebrar o Sacramento da
Reconciliação (Confissão).
Diante do constante aumento do afluxo de peregrinos e
visitantes – que cresce ano após ano – a Administração do santuário se viu
obrigada a construir uma grande igreja capaz de acolher as multidões de fiéis.
Assim, uma idéia surgida durante a década de 1960 foi-se concretizando até que,
aos 31 de maio de 1970, graças aos auspícios do Patriarca Paulo Pedro Al Meouchy,
foi lançada a pedra fundamental do novo edifício, cujas formas se inspiram nas
do cedro do Líbano e da nave fenícia, concebido pelo arquiteto Piere Khoury e
executado pelo engenheiro Mouiin Aoun. Tem 115 m. de comprimento e largura
máxima de 67 m., com 49 m. de altura máxima. Sua fachada mede 42 m. de altura
por 20 m. de largura e comporta
um total de 3.500 pessoas. Este novo santuário
foi o palco do encontro do Papa João Paulo II com a juventude libanesa, ao 10
de maio de 1997: 8:000 pessoas estavam de pé, dentro da basílica, e as demais –
dezenas de milhares, vindas de todos os rincões do Líbano, cristãs e
não-cristãs – espalhavam-se pela explanada do santuário e seus arredores.
Quem eleva seus olhos, de noite e de dia, para a colina da
proteção (Harissa), tem a alegre consolação de ver a imagem da Mãe de Deus com
seus braços abertos acolhendo o seu olhar, ouvindo a sua prece, velando sobre a
sua vida. Ela, toda beleza e esplendor, é também toda atenção e solicitude.
Ela, toda pureza e santidade, é também toda refúgio do pecador, abismo de
misericórdia.
E os maronitas, herdeiros da vocação marítima fenícia,
espalhados por todo o mundo, perpetuam seu amor incondicional a Nossa Senhora,
consagrando-lhe templos que assinalam suas presenças e perenizam seu filial
devotamento à Igreja e à Sé de Pedro, das quais Ela é ícone.
Também em terras brasileiras aportaram esses bravos e,
dedicando-se à construção de suas vidas nessa nova pátria, ofereceram a todos
os que entraram em contato com eles, juntamente com sua proverbial
hospitalidade, sua fé e seu amor a Maria Santíssima. Assim, no Brasil, todas as
paróquias maronitas são dedicadas a Nossa Senhora do Líbano que, estendendo
suas mãos imaculadas, abençoa seus filhos e devotos, atraindo seus olhos e
corações para a pátria celeste.
Nossa paróquia é uma delas!