Desde o início de seu pontificado, em março de 2013, o Papa Francisco tem demonstrado bastante preocupação com a questão dos refugiados e migrantes. Sua primeira viagem apostólica foi à ilha de Lampedusa, na Itália, que é hoje uma das portas de entrada na Europa para refugiados advindos do norte da África. Ele é o principal incentivador que faz com que países da Europa abram suas portas para acolher esses migrantes.
“A revelação bíblica encoraja a recepção do estrangeiro, motivando-a com a certeza de que, assim fazendo, abrem-se as portas a Deus e, no rosto do outro, manifestam-se os traços de Jesus Cristo. Muitas instituições, associações, movimentos, grupos comprometidos, organismos diocesanos, nacionais e internacionais experimentam o encanto e a alegria da festa do encontro, do intercâmbio e da solidariedade. Eles reconheceram a voz de Jesus Cristo: ‘Olha que Eu estou à porta e bato’ ”, afirmou, em sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2016, celebrado no dia 17 de janeiro. “Como pode a Igreja agir senão inspirando-se no exemplo e nas palavras de Jesus Cristo? A resposta do Evangelho é a misericórdia”, apontou.
Os refugiados são pessoas que precisam fugir de seus países de origem para preservar a vida e a liberdade, já que muitas das vezes o próprio Estado, além de não garantir, os priva desses direitos por questões políticas ou religiosas. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de deslocamentos forçados em todo o mundo aumentou de 37,5 milhões de pessoas em 2005 para 59,5 milhões em 2014: um total de 63% em nove anos. A essas pessoas, o Papa insiste que a Igreja deve estar sempre de braços abertos.
Lampedusa
Muitos migrantes saem de países como Líbia e Tunísia, que passam por conflitos políticos desde 2011, e atravessam o Mar Mediterrâneo – em barcos ou até mesmo a nado – até Lampedusa, a fim de chegar à Europa. Nessa tentativa de travessia, em apenas um fim de semana de 2015 mais de 700 pessoas morreram em um naufrágio, segundo uma estimativa da Acnur. O Papa Francisco se preocupou com a crise migratória, a ponto de fazer sua primeira viagem apostólica para a ilha, em julho de 2013. Essa foi a primeira vez que um Papa visitou o local, para “chorar os mortos que ninguém chora”, conforme disse o Sumo Pontífice à época, referindo-se às vítimas desses naufrágios.
“Estes nossos irmãos e irmãs procuravam sair de situações difíceis para encontrarem um pouco de serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si e suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes outros que procuram o mesmo não encontram compreensão, não encontram acolhimento, não encontram solidariedade! E as suas vozes sobem até Deus! Uma vez mais vos agradeço, habitantes de Lampedusa, pela solidariedade”, disse, em sua homilia, na missa pelas vítimas dos naufrágios celebrada no Campo Desportivo Arena na localidade Salina. Além de agradecer pela acolhida que os migrantes já recebiam em Lampedusa, o Papa pediu para que esse gesto fosse cada vez mais realizado e difundido.
Quando em visita ao local, ele preferiu não levar nenhum representante político. O primeiro ponto visitado foi a “Porta da Europa”, um monumento em homenagens aos que perderam a vida no mar.
Europa de portas abertas
Durante o Ângelus na Praça São Pedro, no dia 6 de setembro de 2015, o Papa Francisco fez um apelo a todas as paróquias e comunidades europeias para que acolhessem, cada uma, pelo menos uma família de refugiados. Sua intenção era fazer com que, através da Igreja, as portas da Europa pudessem se abrir para acolhê-los.
“Ao aproximar-se o Jubileu da Misericórdia, dirijo um apelo às paróquias, às comunidades religiosas, aos mosteiros e aos santuários de toda a Europa a expressar o aspecto concreto do Evangelho e a acolher uma família de refugiados. Um gesto concreto em preparação para o Ano Santo da Misericórdia”, recomendou. Também duas paróquias do Vaticano acolheram, cada uma delas, na mesma semana, uma família de refugiados.
Em seu discurso de Páscoa deste ano, o Papa não hesitou em lembrar mais uma vez destes irmãos desabrigados de pátria e de lares. “Que a próxima rodada da Cúpula Mundial Humanitária não deixe de colocar no centro a pessoa humana com a sua dignidade e possa desenvolver políticas capazes de ajudar e proteger as vítimas de conflitos e de outras situações de emergência, especialmente os mais vulneráveis e os que sofrem perseguição por motivos étnicos e religiosos”, pediu.
A Cúpula Mundial Humanitária ocorrerá pela primeira vez em maio deste ano e tem como missão “encontrar soluções globais para desafios globais”. Para isso, haverá consultas regionais em locais onde a ONU está presente. A partir dessas propostas de soluções, serão votadas pela cúpula da organização as melhores atitudes para amenizar tragédias globais e crises como a dos refugiados e migrantes.
Lesbos
Ainda pensando na questão da recepção dos refugiados na Europa, Papa Francisco chegou, no dia 16 de abril, à Ilha grega de Lebos, no Mar Egeu, entre a Ásia (Turquia) e a Europa (Grécia). O local é, segundo o presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Cardeal Antônio Maria Vegliò, “um dos rostos da crise humanitária em andamento, assim como Lampedusa”.
“Milhares de homens, mulheres e crianças, muitas vezes sozinhos, em fuga das guerras e perseguições políticas e religiosas, são obrigados a realizar viagens irregulares e dramáticas na tentativa desesperada de colocar-se a salvo. E, com o desejo de pedir asilo, desembarcam nestas costas, símbolo de esperança”, afirmou.
A visita do Papa a Lesbos é, para ele, um sinal concreto da proximidade de Francisco com os migrantes e refugiados e coloca novamente em primeiro plano o problema migratório na Europa.
Lava-pés
Para deixar clara a preocupação com a crise migratória no mundo, principalmente na Europa, o Santo Padre, no rito do Lava-pés deste ano, lavou os pés de 12 refugiados e refugiadas. O ato ocorreu, como já é tradicional em seu pontificado, fora do Vaticano. Foi realizado no centro de requerentes de asilo de “Castelnuovo di Porto”, no norte de Roma, que acolhe, sobretudo, jovens refugiados.
“Recordemo-nos e mostremos que é bom viver juntos como irmãos, com culturas, religiões e tradições diferentes: todos somos irmãos! E isto tem um nome: paz e amor”, incentivou ele durante a homilia da celebração, realizada no dia 24 de março, Quinta-feira Santa.
Nathalia Cardoso
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