segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O PAPA E A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
No capítulo IV da “Evangelii Gaudium”, o Papa Francisco apresenta quatro grandes postulados da Doutrina Social que podem nos servir neste processo eleitoral como discernimento e reflexão. O primeiro critério é que o tempo é superior ao espaço. Significa nunca deixar a visão de longo prazo, a esperança que sustenta a caminhada e ser capaz de gerar processos, ações que tragam transformações e mudanças profundas. As eleições muitas vezes ficam relegadas a seu contexto imediato priorizando uma política de resultados e não uma dinâmica social de empenhos contínuos e permanentes para o bem comum.
 O segundo postulado é que a unidade prevalece sobre o conflito. Neste ponto somos convidados a não ignorar a realidade conflitiva e contraditória, mas trabalhar para a comunhão e reconciliação, construindo uma visão política de superação tanto dos oportunismos como das polarizações estéreis. O cristão é anunciador de uma paz que recapitula tudo em Cristo e no seu Reino, alargando e superando a visão dos interesses conflitivos para a das convergências a nível de Estado, de Nação, construindo pontes e valorizando diferenças numa unidade maior e centrada em valores permanentes.
O terceiro critério nos faz ver que a Realidade é mais importante que a idéia. Aqui o Papa afirma certamente a possibilidade de uma interação positiva entre a idéia e a realidade, mas deve-se evitar cair em idealismos e nominalismos ideológicos que nos tiram a percepção dos fatos e nos afastam das pessoas, etiquetando-as segundo nossa preferência e construto de idéias.
Os cristãos se orientam pela Palavra da verdade, que é real e ilumina todos os ambientes e relacionamentos pessoais e sociais. Finalmente o referencial que o todo é superior a parte. Trabalha-se neste tópico a tensão entre um universalismo abstrato e um localismo bairrista. Torna-se necessário manter as raízes e os pés no chão, mas ter um olhar global e abrangente, sabendo que o todo é superior a soma das partes. As eleições não podem nos fazer esquecer o paradigma maior da civilização humana que está em crise e da perspectiva da grande mudança de época.
Especialmente para os cristãos é exigida a fidelidade a totalidade e integralidade do Evangelho, nos impele a anunciá-lo como Boa Nova da vida plena para todos/as pessoas e criaturas. Como podemos apreciar estes elementos de juízo político contribuem a não nos deixar cair em propagandas eleitorais ilusórias e manipuladoras, estimulando nossa consciência cristã e sócio-política.
Deus seja louvado!