sexta-feira, 19 de setembro de 2014

DOM ODILO CONCEDE ENTREVISTA À FOLHA DE SÃO PAULO

Entrevista Jornalista da Folha de S. Paulo, Flávia Marreiro, 14.09.2014/ Folha de S. Paulo


Em 2010, o sr. foi crítico de uma polarização exacerbada da campanha eleitoral em torno de temas como o aborto. Qual a sua expectativa quanto a essa eleição?

Mesmo sem polarizar o debate, é importante que o assunto do aborto seja levantada na
campanha eleitoral, pois ela envolve questões de princípio na vida política, como a defesa da dignidade humana, da proteção da pessoa e dos direitos humanos fundamentais, como a inviolabilidade da vida humana. Pode haver questão “política” mais relevante?! É importante que os candidatos e os partidos se declarem, sem equívocos, sobre essas questões importantes. Os eleitores têm o direito de saber a posição deles e qual é seu compromisso com essas questões de princípio.


Em 2010 e 2012, o sr. divulgou diretrizes para o comportamento de padres e bispos da arquidiocese. São as mesmas? Está vetado que padres declarem seu voto ou apareçam em material de propaganda pedindo voto?

Também desta vez foram divulgadas orientações da Arquidiocese de São Paulo para as
comunidades católicas sobre a participação na vida política e critérios de discernimento para as eleições. Elas são públicas, encontráveis nos vários meios de divulgação da Arquidiocese, e estão em sintonia com as normas da Igreja nessa matéria. Entendemos que os cargos políticos e a militância nos partidos compete sobretudo aos cristãos leigos, e não aos clérigos. 


O papa Francisco tem dito frases como "Temos que nos envolver na política". "Para o Pontífice, o fiel não pode se fazer de Pilatos e lavar as mãos", segundo a TV Aparecida. Há mais ênfase na participação política do que havia antes?

Os cristãos são cidadãos como todos os demais. Como os outros, eles têm o direito a uma
postura política própria e a seguirem sua consciência. Nós incentivamos os fiéis católicos a
participarem ativamente na vida política, coerentes com os princípios cristãos, com competência, dignidade e generosidade.


Que impacto teria a eleição de uma presidente evangélica no Brasil?

Não penso que se deva problematizar a pertença religiosa dos candidatos. Somos uma nação pluralista do ponto de vista religioso e cultural, e todos os brasileiros, também os que têm fé e praticam uma religião, têm o direito de dar sua contribuição ao bem do País. O governante, porém, não chega ao cargo em nome de uma religião. No discernimento eleitoral, é preciso ver se os candidatos têm condições de governar com justiça e equidade, de respeitar a sociedade e suas instituições, de promover o bem comum e de estar especialmente atentos à parte mais frágil da população, que precisa das especiais atenções do Estado e dos governantes. Vale lembrar que o Brasil já teve governantes de religiões diversas. Sendo laico o Estado, espero que qualquer governante garanta a liberdade religiosa e não a cerceie nem reprima.