Hoje é um dia muito especial para a nossa Paróquia. Depois de muito trabalho e dedicação, teremos a missa em ação de graças pelas reformas realizadas em nossa Igreja.
Aproveitando esse momento de graça, apresentamos uma reflexão sobre a importância do espaço litúrgico.
Deus se comunica com a gente através de sinais sensíveis.
Ora, na celebração da divina Liturgia é que temos um dos lugares mais
excelentes em que Deus, no Cristo e pelo Espírito Santo, comunica ao seu povo o
dom de sua presença salvadora. Por isso, a Liturgia - toda ela! - é feita de
sinais sensíveis. Toda ela, em todos os seus detalhes, tem - e deve ter! - sua
indispensável dimensão simbólico-sacramental. A começar pelo lugar físico em
que acontece a celebração litúrgica.
Quatro são os elementos fundamentais que não devem faltar na
organização simbólico-sacramental do espaço litúrgico, pelos quais nos é dado
perceber da presença amorosa de Deus na celebração da divina Liturgia.
Valorizar a presença destes quatro elementos, com seu sentido profundamente teológico,
eis um dos grandes desafios a partir da nova sensibilidade litúrgica despertada
(resgatada!) a partir do Concílio Vaticano II. Cristo está real e vivamente
presente na Liturgia (cf. SC 7). Ora, tal presença deve ser percebida, sentida,
como que de maneira palpável, já quando alguém entra num local preparado para
uma celebração litúrgica, seja numa igreja, seja em outro espaço. O próprio
espaço celebrativo, com a evidência destes quatro elementos fundamentais em
destaque, deve nos comunicar esta presença.
O altar
O centro de nossa fé cristã é o sacrifício de Cristo, sua
total entrega por nós confirmada pela Ressurreição e o dom do Espírito. Ou, no
dizer dos antigos santos Padres (Epifânio e Cirilo de Alexandria): Cristo se
tornou para nós a vítima, o sacerdote, e o altar de seu sacrifício.
E pensar que esta entrega se faz presente precisamente sobre
o altar de nossas igrejas, toda vez que celebramos o memorial da Páscoa, na
santa Missa! Ou, como explicita a nova Instrução Geral do Missal Romano:
"O altar, onde se torna presente o sacrifício da cruz sob os sinais
sacramentais, é também a mesa do Senhor na qual o povo de Deus é convidado a
participar por meio da Missa; é ainda o centro da ação de graças que se realiza
pela Eucaristia" (n. 296).
Assim sendo, o centro de tudo, sobretudo da assembleia
reunida, o ponto de convergência e atenção, dentro do espaço celebrativo, só
tem que ser sempre o altar. E nada - e ninguém! - tem o direito de
"roubar-lhe a cena". A razão é simples: O altar re-presenta (traz-nos
sempre presente à memória) aquilo que é mais sagrado para nós, Cristo em sua
entrega total por nós, ontem, hoje e sempre. O altar é uma memória permanente
de que "o altar é Cristo". Deus nos manifesta a presença do
Sacrifício de Cristo na centralidade simbólica do altar. Assim sendo, a
primeira coisa que, de cara, deveria nos "encher os olhos", já desde
que entramos numa igreja para a celebração litúrgica, é a visão do altar do
Sacrifício eucarístico, em torno do qual nos reunimos para o banquete pascal.
A mesa da Palavra
Antes de celebrarmos o memorial do Sacrifício redentor de
Cristo, Deus nos fala quando são feitas as leituras, inclusive quando se canta
o Salmo responsorial (que também é palavra de Deus!). É o próprio Deus que se
comunica conosco e nos comunica o seu amor, quando é proclamada a sua palavra
na celebração litúrgica. Como explicitamente diz a Constituição sobre a Sagrada
Liturgia, do Concílio Vaticano II: Cristo está presente "pela sua palavra,
pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na igreja"
(SC 7). Se assim é, pensemos na imensa dignidade desta palavra, quando ela é
proclamada! Pois é palavra do próprio Deus!...
Assim sendo, segundo nos orienta a nova Instrução Geral do
Missal Romano, "a dignidade da palavra de Deus requer na igreja um lugar
condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a
atenção dos fiéis no momento da liturgia da Palavra" (n. 309). Trata-se da
mesa da Palavra, ou ambão (do grego "anabaino", subir, porque costuma
estar em posição elevada, de onde Deus fala). Cristo é o protagonista da ação
litúrgica, também no ambão, o espaço reservado para a proclamação da palavra de
Deus. Isto significa que este espaço possui, também ele, um sentido
simbólico-sacramental de fundamental importância. Ele nos evoca a presença viva
do Senhor falando para o seu povo.
O espaço da assembleia
Outro elemento fundamental de um espaço litúrgico: O lugar
da assembleia. Por que? É que a assembleia litúrgica não é uma simples
congregação de pessoas, como qualquer outra. Uma vez constituída, mais que um
mero ajuntamento de pessoas, ela é uma comunhão de cristãos e cristãs,
dispostos a ouvir atentamente a palavra de Deus e celebrar dignamente a
Eucaristia. Melhor ainda: É o próprio corpo de Cristo, cujos membros somos cada
um de nós. E isto significa que, como tal, deve tratar-se de uma assembleia
altamente participativa (cf. SC 14).
Assim sendo, também o espaço da assembleia deve aparecer
como um "espaço do Cristo" enquanto corpo feito de muitos membros. E
que todos os fiéis reunidos possam senti-lo como tal, tanto pela disposição
arquitetônica geral do espaço, como pela disposição dos bancos ou cadeiras, em
que todos os membros da assembleia possam sentir-se realmente como corpo bem
unido, na escuta atenta da Palavra e na participação digna da Liturgia
eucarística.
A cadeira da presidência
Na verdade, quem preside a Liturgia é o Cristo, na pessoa do
presidente da assembleia litúrgica. O sacerdote que preside a Eucaristia é o
sinal sacramental de Cristo Jesus que está presente, mas de maneira invisível.
Ao presidir a celebração, ao elevar a oração a Deus em nome de todos, ao
explicar a palavra de Deus à comunidade, o sacerdote atua em nome deste Cristo.
Por isso ele preside, ou seja, ele se senta diante de toda a assembleia, como
representante do verdadeiro Presidente e Mestre, que é Senhor Jesus. Para isso
é que a Igreja o colocou diante de todos, por mediação do bispo.
Assim sendo, para visualizar o mistério da presidência de
Cristo na pessoa do ministro (cf. SC 14), a Igreja recomenda que se coloque em
destaque a cadeira de quem preside. Como vemos na nova Instrução Geral do
Missal Romano: "A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua
função de presidir a assembleia e dirigir a oração" (n. 310). Em outras
palavras, como já dissemos, a cadeira presidencial em destaque evoca a presença
invisível do Cristo que preside a Liturgia na pessoa do ministro.
Por Frei José Ariovaldo da Silva, ofm
(N.B.: Este artigo foi publicado na revista Mundo e Missão,
julho 2004)