Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
A Semana Nacional da Família também se relaciona com a
temática do Ano da Fé: “a transmissão e a educação da fé na família”. Nada mais
apropriado. Embora a fé possa, e precise, ser transmitida também em muitos
outros contextos, além da família, é bem verdade que esta é um dos sujeitos
fundamentais na transmissão e educação da fé.
A própria constituição da família, mediante o casamento
entre um homem e uma mulher, é também uma aposta de fé. Não que o casamento e a
família dependam da fé: são realidades naturais e não, sobrenaturais. Apesar de
tudo o que se diga ou mova em contrário, os jovens continuam casando e formando
família, mostrando que essas realidades não ficam “fora da moda”, como bem
confirmaram tantos jovens ao Papa Francisco na JMJ-Rio...
No entanto, Deus quer ajudar o casal a viver bem o casamento
e realizar bem a vida e a missão da família. A Igreja tem grande apreço ao
propósito do casal, que inicia sua vida a dois com um olhar de fé profunda. De
muitos modos, ele pode experimentar que Deus está presente em sua vida e o
abençoa e conduz. Por isso, a fé viva e a vida cristã generosa do casal são um
poderoso auxilio para ele.
Já na celebração do casamento religioso, os nubentes
respondem esta pergunta: “estais dispostos a receber com amor os filhos que
Deus lhes confiar e a educá-los na lei de Cristo e da Igreja?” A resposta é
“sim!” A paternidade e a maternidade são vistas à luz da fé em Deus; e a
educação cristã dos filhos também é um compromisso de fé assumido pelo casal
diante de Deus. Por isso, a transmissão da fé e a educação dos filhos no
caminho da vida cristã e eclesial é, desde logo, parte da missão dos pais
católicos.
É missão do casal criar um ambiente doméstico que fale da
nossa fé: não devem faltar a oração em família, a presença de sinais religiosos
na casa, como a Bíblia, o crucifixo ou alguma imagem sacra. A busca do batismo
para os filhos, o ensinamento das primeiras atitudes e gestos cristãos, o
aprendizado das primeiras orações, a transmissão, aos filhos, da “imagem” cristã
de Deus e a introdução na comunidade da Igreja também fazem parte dessa missão
dos pais católicos. Em tudo, porém, o fator decisivo na educação é o exemplo
dos próprios pais; os filhos pequenos aprendem vendo.
No esforço atual da Igreja em promover uma “nova
evangelização”, recordamos esse papel fundamental dos pais e da família cristã.
É no contexto da família que são transmitidos (ou deixam de ser transmitidos)
os valores que marcam a vida das pessoas. O que se aprende nos primeiros anos
da vida tem importância decisiva. Uma boa experiência da nossa fé e a iniciação
à vida cristã e eclesial enriquecem a educação dos filhos.
A transmissão da fé da Igreja conta com a ação de todos os
seus membros. Uma geração passa à outra o tesouro do Evangelho e o patrimônio
da vida cristã e eclesial, enriquecido com o próprio testemunho. É um contínuo
receber, acolher, viver e passar os outros; se hoje cremos, é porque outros,
antes de nós, fizeram isso generosamente, há quase dois mil anos.
Agora é a nossa vez de fazê-lo. Não por mero automatismo
cultural ou por necessidade ritual, mas de modo consciente, generoso e alegre.
É um tesouro, que arrebata nosso coração e dá sentido a toda a vida. Amanhã
ainda haverá fé no mundo se nós, hoje, não formos um elo quebrado nessa corrente
de transmissão da fé cristã católica.