O Documento de Aparecida é enfático: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida (...)” (DA n. 243). Ou seja, só nos tornamos cristãos após um encontro de fé com a pessoa de Jesus. O evangelista São João relata o impacto que a pessoa de Jesus produziu nos primeiros discípulos que o encontraram: “Mestre, onde moras? Ele (Jesus) respondeu: vinde e vede! (Eles) Foram, viram onde moravam e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde” (Jo 1, 38b-39). São João nunca mais esqueceu aquele dia; não esqueceu nem mesmo o horário do encontro com Cristo!
Aliás, é oportuno enfatizar que a conversão é um processo, e longo, que perdura todo o arco de nossa existência. Não nascemos cristãos nem nos tornamos cristãos de um momento para o outro. Nossa conversão acontece de forma gradual e progressiva, pois a vida cristã é semelhante a uma semente lançada à terra que germina, cresce, amadurece e dá frutos. O seguimento de Jesus se faz ao longo da vida.
Seguir a Jesus significa assumir suas causas, adotar suas atitudes, viver segundo os valores do evangelho; ter a mesma “mentalidade de Cristo”, isto é, ver, agir e julgar a realidade em que vivemos a partir dos mesmos critérios de Jesus Cristo. Tem uma música do Pe. Zezinho, scj, cujo refrão diz: “Amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu, sentir como Jesus sentia. E ao chegar ao fim do dia eu seu que eu dormiria muito mais feliz (...)”. São Paulo bem expressou essa realidade ao afirmar: “Não sou eu mais que vivo, é Cristo que vive em mim”. Seguir a Jesus, em suma, é ser outro “Cristo para o mundo”. Ser o 5° evangelho, o “evangelho da vida”, o “evangelho ambulante”. Que as pessoas “lendo nossa vida” possam, de fato, acreditar em Jesus.
O discipulado de Cristo não se limita a algumas práticas rituais. A simples realização de algumas práticas piedosas não nos transformam automaticamente em discípulos missionários. O verdadeiro discipulado é decorrência de uma real experiência do “Mistério de Deus”. A verdadeira experiência do mistério marca a vida para sempre. Caso contrário, é apenas “fogo de palha”.
O específico do discipulado cristão é fazer a experiência de fé. ‘Experiência de fé’ é em verdade uma expressão redundante, mas hoje necessária, porque se perdeu o conceito de que a fé é originariamente experiência, como ensina São João: “O que vimos com os nossos olhos (...) e nossas mãos tocaram do Verbo da Vida (...)” (1Jo 1, 1). Fé é mais que adesão a verdades e opções por valores; “fé é, antes de tudo, confiança absoluta em Cristo”.
A fé, além da dimensão pessoal, possui também uma insubstituível dimensão comunitária, pois é transmitida, de geração em geração, através da Igreja. É na comunidade eclesial que nos tornamos, progressivamente, discípulos e discípulas de Jesus Cristo, animados e fortalecidos pelo testemunho de outros irmãos de fé.
Finalizo, com uma reflexão do falecido prior do mosteiro ecumênico de Taizé, Roger Schutz, a respeito da dimensão eclesial da fé: “Sozinho, ninguém chega a compreender a fé na sua totalidade. Então, cada fiel pode dizer: nesta comunhão que é a Igreja, o que eu não compreendo, outros compreendem; o que eu ainda não consegui colocar em prática, outros já colocaram (…). Eu não me apoio apenas na minha fé, mas também na fé dos cristãos de todos os tempos”!