O primeiro encontro sobre “Grandes cidades: desafios para a unidade e a paz”, foi realizado na segunda-feira, 24 de agosto, no Centro de Estudos e Formação do Sumaré, no Rio Comprido. Durante todo o dia, o cardeal espanhol Lluís Martínez Sistach, de Barcelona, presidiu a Eucaristia, fez duas palestras, e ao interagir com os participantes, produziu um diálogo produtivo com direcionamentos práticos.
Esforço pastoral
Para cerca de 40 bispos de grandes metrópoles brasileiras, o Cardeal Sistach reforçou que a missão da Igreja é interpelada a evangelizar, em anunciar Jesus até os extremos confins da terra como ‘um aspecto essencial’ da vida cristã.
“Barcelona é uma área metropolitana com 5 milhões de habitantes, o que é pouco se comparado com o Brasil e países da América do Sul. Mas são concentrações urbanas importantes e temos que fazer uma troca de mentalidade pastoral de uma visão rural para uma Igreja que está na cidade, em área urbana. Não é fácil. Estamos fazendo o possível, estando presente em todas as partes”, afirmou.
O esforço pastoral está de acordo com a Conferência de Aparecida e com o Evangelii Gaudium – lembrou o cardeal espanhol – afirmando que os documentos tem o pensamento do Cardeal Bergoglio, e depois, do bispo de Roma, o Papa Francisco.
“O Papa Francisco tem projetado hoje para a Igreja o que a Conferência de Aparecida direcionou para a América Latina. A Igreja tem que amar, seja nas grandes cidades, nas pequenas, ou no mundo rural. A missão da Igreja é para Evangelizar. Se não estiver fazendo isso, está perdendo tempo”, afirmou o Cardeal Sistach.
Grandes cidades
O Rio de Janeiro mantém a posição de segunda maior metrópole do país, com 6,45 milhões de residentes. Já a cidade de São Paulo, continua sendo a maior metrópole do país com 11,89 milhões de habitantes. A capital do estado mais populoso do país concentra cerca de 6% da população brasileira, estimada em 202,77 milhões de habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mudanças de atitudes
“Estamos procurando ser uma Igreja em saída, mas é evidente que encontramos dificuldades porque é toda uma mudança de mentalidade, o que em Aparecida é chamado de conversão pastoral, que é necessária. Como o Papa diz: uma conversão missionária necessária. Isso não se faz com um ‘enter’ no computador. Exige que se toque o coração, que haja uma mudança de convicções e atitudes”, afirmou o arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, que também participou do encontro.
O cardeal da arquidiocese paulista destacou ainda como vencer os obstáculos da evangelização nas grandes metrópoles.
“Muitas vezes leva tempo, mas estamos trabalhando, e pouco a pouco seremos de fato uma Igreja em saída, que vai ao encontro das realidades, ao encontro do povo através de todas as suas entidades, organizações e pessoas que estão na Igreja – não só os padres como todo o povo católico. Precisamos ter essa percepção de que, assim como recebemos, devemos passar adiante, partilhar o que recebemos através da fé”, exortou Dom Odilo.
Criatividade
“O Cardeal de Barcelona não veio apontar soluções práticas e sim desafios, além de mostrar a necessidade que todos nós temos de ser criativos para atingir o ser humano de hoje, sempre agitado, cheio de problemas e envolvidos com muitas solicitações. Veio nos lembrar que a mensagem do Evangelho contém sua força. É Cristo que quer entrar em cada coração. E nunca nos falta a graça quando nos propomos a trabalhar pelo Reino de Deus”, pontuou o arcebispo de Salvador, na Bahia, Dom Murilo Krieguer.
Partilha
O arcebispo de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, que já foi bispo auxiliar do Rio de Janeiro, destacou que a metrópole não é um ambiente tão favorável às manifestações cristãs, por isso é necessário fazer um esforço no sentido de lidar com essa característica.
“Como chegar a esse mar de gente, que tem direito de ouvir o Evangelho e receber a mensagem de Cristo? É preciso achar um modo de sensibilizar as pessoas. Isso é uma pergunta e um desafio, e foi sobre isso que conversamos hoje. O Cardeal Sistach por atuar numa cultura européia que é cristã, também está procurando caminhos, e já tem muita experiência para compartilhar”, afirmou.
Pluralidade de situações
Não se pode pensar a evangelização na grande cidade apenas ‘tirando uma média’, explicou o arcebispo de Brasília, Dom Sergio da Rocha. É preciso olhar concretamente para as diversas realidades que se apresentam. Porque mesmo que variem em alguns aspectos, os pontos principais são os mesmos. E só será possível construir paz a partir de um olhar minimalista e atento a cada um desses aspectos.
“Sabemos que a cidade grande é ambígua: tem seus valores, mas também os desafios. Os próprios problemas urbanos precisam de respostas, e não podemos usar uma genérica. O que nós estamos fazendo aqui hoje é ressaltar essa pluralidade de situações”, opinou Dom Sérgio