O ministério da acolhida litúrgica convive com uma realidade nem sempre cômoda, mas não tão difícil de conviver. Refiro-me aos “devotos da santa porta”, aos quais incluo dois grupos de celebrantes: aqueles que, nas celebrações, se instalam no fundo da igreja e, aqueles que aparecem nas celebrações de vez em quando. Um dado de fácil convivência se houver respeito e acolhimento.
Nossas comunidades têm muitos irmãos e irmãs que vivem "lá fora", sem perceber nem participar da festa que é viver com o Pai todos os dias. Este fato pode provocar a indiferença para com aqueles que se fazem presentes na celebração e nem sempre participam do modo como gostaríamos ou consideramos que deveriam participar. Muito facilmente, criticamos essa gente e nos comportamos como "o irmão mais velho" da parábola do “Filho Pródigo”, tornando-nos indiferentes para com eles (Lc 15,11-32). Isto significa que, no exercício do ministério da acolhida, podem aparecer alguns perigos, dos quais eu cito apenas um que resume e relaciona-se com muitos outros.
Lembro a questão dos fariseus que, no tempo de Jesus, não se misturavam porque se consideravam os puros. Assumiam uma atitude de gente superior, de quem estava acima dos demais, e se tornavam indiferentes aos que não pertencentes ao seu grupo. Equipe de Celebrações e, principalmente, equipes de acolhida com o feitio farisáico não servem para as comunidades. São equipes que se espelham no irmão mais velho, na parábola do “Filho pródigo” que, em vez de acolher e participar da festa, prefere o afastamento, a indiferença, o não acolhimento.
Ao contrário da indiferença, a equipe de acolhida se distingue pela simpatia e pela alegria de receber “quem aparece de vez em quando na celebração” e quem participa da celebração de modo mais silencioso e quieto, no fundo da igreja. Isto vale também para algumas motivações que, considero, despropositais durante a celebração, como por exemplo, “não fique no fundo da igreja, venha mais para frente”. As vezes, a pessoa precisa estar na celebração, mas lá no fundo, para ficar quieta e na quietude encher-se da paz celebrativa. Ou ainda considerações do tipo “tem muita gente nova que nunca vejo na igreja”. Isto acontece em algumas Missas, como de Primeira Comunhão. É complicado ouvir isso; a pessoa quase nunca vem à igreja e quando vem é recebido com ironia. O melhor é dizer: “que bom que você veio! Apareça outras vezes, esta igreja é sua”. A gentileza de também respeitar a timidez de quem não fica no fundo da igreja, mas não gosta de levantar os braços durante a celebração, é permitir que a celebração aconteça de modo sereno e sem a preocupação de controles.
Não se pode cair na pretensão de querer que todos tenham os mesmos sentimentos e os expressem da mesma forma. Existem momentos psicológicos na vida dos celebrantes que exigem deles ficar quietos e existem momentos que pedem alegria e expressão corporal. Como também, existem diferentes modos de rezar. Quem por exemplo, foi educado em escolas de oração silenciosa reza silenciosamente e não precisa dançar ou levantar as mãos na celebração para demonstrar que está participando; isto precisa ser respeitado, esteja ele nos primeiros bancos ou nas portas da igreja.
(Serginho Valle)