quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

MARIA, MÃE DE DEUS

Hoje é a Oitava do Santo Natal, Primeiro do Ano. Nesta Eucaristia, é necessário que tenhamos em vista alguns aspectos importantes.

     Primeiro. No Oriente, era costume, no dia seguinte ao parto, cumprimentar uma mulher que houvesse dado à luz. Por isso, nossos irmãos orientais, desde o século IV, no dia seguinte ao Natal, celebram a Festa da Congratulação da Mãe de Deus – uma homenagem, um parabém Àquela que deu à luz o Salvador. No Ocidente, a congratulação da Virgem é hoje, oito dias após o santo Natal. A Igreja, com os pastores, vai ao encontro do Menino e o encontra com sua Mãe; e proclama que este Menino é o Deus verdadeiro. Ele não é somente a criancinha frágil; mas o Deus forte, feito pequeno por nós! Por isso, o povo de Deus saúda, hoje, a Virgem, com o título antiqüíssimo de Mãe de Deus, isto é, Mãe de Deus Filho! “Bendita sejais, Virgem Maria! Trouxestes no ventre quem fez o universo! Vós destes à luz a quem vos criou e permaneceis Virgem para sempre!” Este Menino, o Deus verdadeiro, fez-se realmente um de nós, nascido realmente de uma Virgem. Ele não é a mãe de Deus Pai - isto seria uma blasfêmia! Também não é mãe do Espírito Santo - isto seria loucura! Não se pode tampouco dizer que ela é mãe da natureza divina - isto seria heresia! O que a Igreja crê, professa, testemunha e ensina com todo acerto e toda piedade é que a sempre Virgem Maria é Mãe santíssima do Deus Filho feito homem! Tudo quanto o Filho é na sua humanidade, ele o recebeu de Maria! O Filho não somente nasceu através de Maria, mas de Maria!
     Mais ainda: os Orientais gostam de invocar Jesus exclamando: Deus nascido da Virgem, salvai-nos! Estejamos atentos! Não somente Deus concebido de Maria, a Virgem, mas também Deus nascido de modo inefável, miraculoso, misterioso, da Virgem: Deus nascido da Virgem! Admirada com um nascimento assim, tão divino, tão único, a Igreja exclama: “Como a sarça, que Moisés viu arder sem se consumir, assim intacta é a vossa admirável virgindade. Virgem Maria, Mãe de Deus, por nós intercedei”. Deste modo, a Solenidade de hoje nos recorda não somente que a Virgem é verdadeiramente Mãe de Deus, mas que ela é sempre virgem: antes, durante e depois do parto! O Cristo nosso Deus não somente foi concebido da Virgem Maria, mas o Credo diz que ele nasceu da Virgem Maria! Nasceu sem destruir a virgindade da Mãe! Para o nosso mundo atual, que supervaloriza o sexo e faz com que os jovens tenham até mesmo vergonha de admitir que são virgens, proclamar a virgindade perpétua de Maria, recorda-nos que a castidade é uma preciosa e cara virtude cristã e a virgindade deve ser vista por nós como um valor e um ideal a ser buscado! Em Maria, a Virgem, o permanecer na virgindade exprime que ela sempre foi toda de Deus, absolutamente de Deus, em corpo e alma, em todo o seu ser, de modo constante e absoluto!
             Não é por acaso que, segundo o Evangelho de São Mateus, os magos encontraram o Menino com Maria, sua Mãe (cf. 2,11). É assim que Aquele que nos nasceu é sempre encontrado, pois o Deus que de nada necessita, contou com o “sim” da Virgem e dela, como de uma terra nova e virgem, gerou segundo a natureza humana o seu Filho para nossa salvação. É este mistério que a Igreja hoje celebra: este Menino é o Deus verdadeiro e sua Mãe faz parte do plano da salvação, pois “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma Mulher... a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei”. Na nossa salvação, esteve, está e estará sempre presente a Mulher, a Virgem Maria. Alegremo-nos, portanto, com a Virgem Maria e, com toda Igreja, digamos: “Virgem Santa e Imaculada, eu não sei com que louvores poderei engrandecer-vos! Pois Aquele a quem os céus não puderam abranger, repousou em vosso seio. Sois bendita entre as mulheres e bendito é o fruto que nasceu do vosso ventre!” 
            Há um segundo aspecto deste hoje. O Primeiro do ano e dia da confraternização universal, início do ano civil. A pedido do Papa Paulo VI, a ONU transformou esta data em dia festivo para todas as nações. É dia da paz, dia da confraternização entre os povos, nações, culturas... Ora, nós cristãos sabemos que a paz não é uma idéia, um sonho, um desejo; a paz é uma pessoa. São Leão Magno dizia, no século V: “O Natal do Senhor é o Natal da Paz. Cristo é a nossa paz!” Não foi a respeito dele que o profeta afirmou: “Ele será chamado Admirável, Deus, Príncipe da Paz, Pai do mundo novo”? (Is 9,2-6) Não foi ele mesmo quem disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos sou; não vo-la dou como o mundo a dá?” (Jo 14,27). Que tenhamos cada vez mais sólida esta convicção: a paz que almejamos, a paz tão sonhada, a paz para o mundo e para a nossa vida, somente no Cristo poderá ser encontrada de modo definitivo e pleno! Nele, nem as tristezas, nem as desilusões, nem as angústias, nem as provações, poderão nos fazer perder a paz! Cristo, nossa Paz! 

            Finalmente, hoje, também, é dia da circuncisão do Menino. Como descendente de Abraão, ele foi circuncidado, passando a fazer parte do Povo da antiga Aliança, e recebeu o nome de Jesus, isto é, Deus salva! Que nome belo, que nome eloqüente, que nome bendito a nos encher de certa esperança para os dias de 2004 que chegou! Jesus, nome acima de todo nome, único nome no qual podemos encontrar salvação no céu e na terra. Jesus, doce lembrança do nosso coração, doce alívio nas dores, forte certeza nos momentos difíceis. Jesus, amigo certo de todas as horas, única certeza e apoio de nossa existência! Por isso mesmo, a primeira leitura da Missa de hoje, faz-nos ouvir a bênção de Aarão, que, por três vezes, invoca o nome do Senhor sobre o povo! Para os cristãos, o Senhor é Jesus, e não há outro! Pois é neste nome bendito que todos e cada um queremos iniciar o novo ano civil: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a paz!” Que o Cristo Jesus, Príncipe da Paz, esteja  conosco no novo ano e sempre. Amém.