Hoje é a Oitava do Santo Natal, Primeiro do Ano. Nesta
Eucaristia, é necessário que tenhamos em vista alguns aspectos importantes.
Primeiro. No Oriente, era costume, no
dia seguinte ao parto, cumprimentar uma mulher que houvesse dado à luz. Por
isso, nossos irmãos orientais, desde o século IV, no dia seguinte ao Natal,
celebram a Festa da Congratulação da Mãe de Deus – uma homenagem, um parabém
Àquela que deu à luz o Salvador. No Ocidente, a congratulação da Virgem é hoje,
oito dias após o santo Natal. A Igreja, com os pastores, vai ao encontro do
Menino e o encontra com sua Mãe; e proclama que este Menino é o Deus
verdadeiro. Ele não é somente a criancinha frágil; mas o Deus forte, feito
pequeno por nós! Por isso, o povo de Deus saúda, hoje, a Virgem, com o título
antiqüíssimo de Mãe de Deus, isto é, Mãe de Deus Filho! “Bendita sejais,
Virgem Maria! Trouxestes no ventre quem fez o universo! Vós destes à luz a quem
vos criou e permaneceis Virgem para sempre!” Este Menino, o Deus
verdadeiro, fez-se realmente um de nós, nascido realmente de uma Virgem. Ele
não é a mãe de Deus Pai - isto seria uma blasfêmia! Também não é mãe do Espírito
Santo - isto seria loucura! Não se pode tampouco dizer que ela é mãe da
natureza divina - isto seria heresia! O que a Igreja crê, professa, testemunha
e ensina com todo acerto e toda piedade é que a sempre Virgem Maria é Mãe
santíssima do Deus Filho feito homem! Tudo quanto o Filho é na sua humanidade,
ele o recebeu de Maria! O Filho não somente nasceu através de Maria, mas de
Maria!
Mais ainda: os Orientais gostam de
invocar Jesus exclamando: Deus nascido da Virgem, salvai-nos! Estejamos
atentos! Não somente Deus concebido de Maria, a Virgem, mas também Deus nascido
de modo inefável, miraculoso, misterioso, da Virgem: Deus nascido da Virgem!
Admirada com um nascimento assim, tão divino, tão único, a Igreja exclama: “Como
a sarça, que Moisés viu arder sem se consumir, assim intacta é a vossa
admirável virgindade. Virgem Maria, Mãe de Deus, por nós intercedei”. Deste
modo, a Solenidade de hoje nos recorda não somente que a Virgem é
verdadeiramente Mãe de Deus, mas que ela é sempre virgem: antes, durante e
depois do parto! O Cristo nosso Deus não somente foi concebido da Virgem Maria,
mas o Credo diz que ele nasceu da Virgem Maria! Nasceu sem destruir a
virgindade da Mãe! Para o nosso mundo atual, que supervaloriza o sexo e
faz com que os jovens tenham até mesmo vergonha de admitir que são virgens,
proclamar a virgindade perpétua de Maria, recorda-nos que a castidade é uma
preciosa e cara virtude cristã e a virgindade deve ser vista por nós como um
valor e um ideal a ser buscado! Em Maria, a Virgem, o permanecer na virgindade
exprime que ela sempre foi toda de Deus, absolutamente de Deus, em corpo e
alma, em todo o seu ser, de modo constante e absoluto!
Não é por acaso que, segundo o Evangelho de São Mateus, os
magos encontraram o Menino com Maria, sua Mãe (cf. 2,11). É assim que Aquele
que nos nasceu é sempre encontrado, pois o Deus que de nada necessita, contou
com o “sim” da Virgem e dela, como de uma terra nova e virgem, gerou segundo a
natureza humana o seu Filho para nossa salvação. É este mistério que a Igreja
hoje celebra: este Menino é o Deus verdadeiro e sua Mãe faz parte do plano da
salvação, pois “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho,
nascido de uma Mulher... a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei”. Na
nossa salvação, esteve, está e estará sempre presente a Mulher, a Virgem Maria.
Alegremo-nos, portanto, com a Virgem Maria e, com toda Igreja, digamos: “Virgem
Santa e Imaculada, eu não sei com que louvores poderei engrandecer-vos! Pois
Aquele a quem os céus não puderam abranger, repousou em vosso seio. Sois
bendita entre as mulheres e bendito é o fruto que nasceu do vosso ventre!”
Há um segundo aspecto deste hoje. O Primeiro do ano e dia da confraternização
universal, início do ano civil. A pedido do Papa Paulo VI, a ONU transformou
esta data em dia festivo para todas as nações. É dia da paz, dia da
confraternização entre os povos, nações, culturas... Ora, nós cristãos sabemos
que a paz não é uma idéia, um sonho, um desejo; a paz é uma pessoa. São Leão
Magno dizia, no século V: “O Natal do Senhor é o Natal da Paz. Cristo é a
nossa paz!” Não foi a respeito dele que o profeta afirmou: “Ele será
chamado Admirável, Deus, Príncipe da Paz, Pai do mundo novo”? (Is 9,2-6) Não
foi ele mesmo quem disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos sou; não vo-la
dou como o mundo a dá?” (Jo 14,27). Que tenhamos cada vez mais sólida esta
convicção: a paz que almejamos, a paz tão sonhada, a paz para o mundo e para a
nossa vida, somente no Cristo poderá ser encontrada de modo definitivo e pleno!
Nele, nem as tristezas, nem as desilusões, nem as angústias, nem as provações,
poderão nos fazer perder a paz! Cristo, nossa Paz!
Finalmente, hoje, também, é dia da circuncisão do Menino. Como descendente de
Abraão, ele foi circuncidado, passando a fazer parte do Povo da antiga Aliança,
e recebeu o nome de Jesus, isto é, Deus salva! Que nome belo, que nome
eloqüente, que nome bendito a nos encher de certa esperança para os dias de
2004 que chegou! Jesus, nome acima de todo nome, único nome no qual podemos
encontrar salvação no céu e na terra. Jesus, doce lembrança do nosso coração,
doce alívio nas dores, forte certeza nos momentos difíceis. Jesus, amigo certo
de todas as horas, única certeza e apoio de nossa existência! Por isso mesmo, a
primeira leitura da Missa de hoje, faz-nos ouvir a bênção de Aarão, que, por
três vezes, invoca o nome do Senhor sobre o povo! Para os cristãos, o Senhor é Jesus,
e não há outro! Pois é neste nome bendito que todos e cada um queremos iniciar
o novo ano civil: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar
sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu olhar e
te dê a paz!” Que o Cristo Jesus, Príncipe da Paz, esteja conosco no
novo ano e sempre. Amém.