Dom Pedro José Conti
Um jovem monge, fabricante de esteiras, foi ter com o seu
abade e lhe disse:
- Pai, o meu espírito está muito abatido. Faço de tudo para
afastar esta tristeza, mas não consigo. O abade lhe deu este conselho:
- Eu tenho o remédio certo: crie um novo modelo de esteira.
O noviço, tocado por esta proposta inesperada, obedeceu e voltou ao trabalho
com mais afinco. Depois de um mês, com as suas mãos habilidosas, ele acabou de
confeccionar uma belíssima esteira. No entanto, depois de alguns dias, o seu
coração foi tomado novamente pela tristeza e o abatimento. De cabeça baixa,
voltou a falar com o abade e lhe disse:
- O demônio da acédia me atormenta novamente, o que devo
fazer?
- Inventa um novo modelo de esteira - repetiu o superior. O
jovem obedeceu e, desta vez, a cidade inteira foi invadida por tecidos de palha
e vime maravilhosamente entrelaçados. Com isso, o diabo ficou revoltado e
disse:
- Com este monge não tem jeito. A cabeça dele está tão
ocupada com a criação de novos modelos de esteiras que a oração dele está
sempre viva e o seu coração sempre alegre!
A parábola dos talentos é muito conhecida. É fácil também
nos deixar envolver pelo desenrolar da história. Ficamos curiosos nos
perguntando quantos e quais “talentos” o Senhor nos deu, talvez com vontade de
confrontá-los com os talentos dos outros. Será que o Senhor foi injusto
conosco? Por que sempre achamos que ele deu mais e melhor para os outros?
Também precisamos entender o que significa para nós multiplicar os dons e as
aptidões que nos foram confiadas. Será que vamos dar conta? Quando o Senhor
vier, para o balanço final, teremos mesmo alguns frutos para apresentar?
Com certeza devemos deixar de lado uma leitura, digamos,
utilitarista desta parábola. A questão não pode ser aquela de ganhar mais. O
Senhor Jesus sempre falou de juntar tesouros no céu e não neste mundo e chamou
de insensato o rico que se deu por satisfeito porque tinha acumulado muitos
bens. O fato de ter lucrado mais talentos é o resultado do trabalho e não a
razão final do esforço.
Com efeito, o terceiro empregado simplesmente enterrou o
talento, não o usou e também não se interessou por nada. Assim o patrão chama
de servos bons e fiéis os primeiros dois empregados, mas chama de mau,
preguiçoso e inútil o terceiro. Preguiçoso, porque não teve nenhuma preocupação
com o uso do talento e inútil porque, não progrediu absolutamente em nada.
Entendida neste sentido a parábola fica clara e desafiadora.
A questão não está em ter mais ou menos talentos – cada um
de nós tem algo que recebeu totalmente de graça a começar pela própria vida – e
nem em lucrar muito ou pouco, mas no fato de ter “trabalhado” ou não ter feito
nada, ter desistido desde o início por medo do patrão ou mesmo por preguiça,
por falta de iniciativa, por acomodação. Podemos resumir dizendo que estamos
neste mundo não simplesmente para curti-lo ou desfrutá-lo, mas para
transformá-lo numa realidade melhor nos deixando envolver num projeto grande e
bonito que poderíamos chamar de “civilização do amor”.
O economista Adam Smith já dizia que “é o egoísmo do padeiro
e não a sua generosidade, que nos fornece o pão de cada dia”. De fato, ele
reconhecia que o lucro ou a ganância são as grandes molas que movem, desde
sempre, a atividade humana. Quantas pessoas, por causa disso, gastam a vida
intera para ganhar, cada vez mais, dinheiro ou aumentar o seu prestígio numa
corrida sem fim. Não medem esforços quando a questão é o lucro, mas ficam
preguiçosas e sem interesse quando o que está em jogo é a convivência fraterna,
a solidariedade, o bem dos menos favorecidos. Somos muito ativos e criativos
quando queremos ganhar dinheiro, mas pouco ou nada fazemos para vencer as
injustiças, as desigualdades, as exclusões. Precisamos de mais coragem e
determinação para ser mais criativos e comprometidos no amor. Desta maneira,
daremos um sentido à nossa vida e manteremos ocupada a nossa mente e o nosso
coração. Não teremos mais tempo para pensar somente no nosso bem-estar,
aprenderemos a pensar mais nos pobres e esquecidos. Se não somos fabricantes de
esteiras, todos podemos sempre ser fabricantes de amor. Mais criativos a cada
dia.