Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MS)
O encontro de Jesus com a samaritana frente ao poço de Jacó
traz-nos sobejo alimento para nossa preparação à celebração da Páscoa. Jesus
pede a água material para saciar sua sede física. Ele prova ter natureza
humana. Ao mesmo tempo ele promete à mulher a água viva que sacia a sede de
infinito, trazida da fonte do amor de Deus. O conhecimento manifestado pelo
Mestre sobre a história da vida da samaritana a faz vislumbrar-se e anunciar a
todos a presença do Messias (Cf. João 4,5-42). Na vida desregrada dela podemos
contemplar as dificuldades e os entraves da convivência humana nem sempre
acertada com os ditames da proposta divina.
No poço humano de nossa caminhada encontramos a variedade de
situações angustiantes. Não por menos tratamos na Quaresma sobre o porquê da
vida no seguimento a Jesus Cristo. No colóquio com Ele vamos percebendo a
dimensão do humano entrecruzado com o divino. O desejo da água viva do Messias
nos faz pessoas com vontade de crescimento. Precisamos da água e de tudo o que
é material. Mas devemos saber usá-los na perspectiva da vida de sentido. Na
realidade das injunções humanas e desumanas encontramos todo tipo de
convivência, inclusive à do tráfico de pessoas. Aí acontece a exploração dos
mais frágeis pelos inescrupulosos, tirando vantagem econômica dos feitos
escravos, comercializados, agredidos física, sexual e moralmente. Crianças,
jovens, mulheres são usados como meio de ganho, crianças usadas como fontes de
extração de órgãos para serem transplantados em outras pessoas de outros
lugares. Há mão de obra escrava, discriminações e desrespeito à dignidade
humana. Tudo isso se nos é apresentado à consideração na Campanha da
Fraternidade para o colocarmos no encaminhamento da fé transformadora,
levando-nos a assumir a água viva do Cristo que nos faz ressuscitar para uma
vida de verdadeira justiça e fraternidade. Sem compromisso com a promoção da
vida humana digna e justa não há celebração da Páscoa! Ele se dá na conversão
para vivermos da água viva do amor de Deus, que nos faz solidários e
comprometidos em também darmos aos outros a vida que Jesus nos trouxe.
Somos convidados a participar do encontro de Jesus com a samaritana
junto ao poço de Jacó. Talvez sejamos como aquela mulher, necessitada da
mudança de vida, sendo alimentados com a água viva do Salvador. Com ela vamos
chamar as pessoas para escutarem e seguirem a Jesus. Precisamos de descruzar os
braços para implantarmos em nosso convívio os valores do Senhor. A cidadania é
desrespeitada demais. As famílias são esfaceladas com a mentalidade consumista
e hedonista. A juventude precisa de quem lhe dê um norte diferente da droga, da
corrupção política, do descompromisso com os valores da justiça, da promoção da
formação e educação na fé para assumirmos os valores éticos e da convivência
fraterna. Isto se faz na doação de si, na busca de um ideal de promoção da vida
digna para todos, a partir dos mais deixados de lado e descriminados.
A formação da fé nos leva a seguirmos os passos do Mestre e
obtemos a paz, tão necessária no convívio humano, como lembra Paulo: “Irmãos,
justificados pela fé, estamos em paz com Deus” (Romanos 5,1).