No Brasil, a Igreja tem valorizado muito a catequese. Através
de encontros, cursos, mobilizações, celebrações, publicações e tantas outras
coisas, tem despertado interesse maior nas pessoas a participarem desse
ministério, que é de fundamental importância para formação do povo de Deus. Nas
palavras do papa João Paulo II,“Quanto mais a Igreja, a nível local ou
universal, se mostrar capaz de dar prioridade à catequese, tanto mais
encontrará na catequese o meio para a consolidação da sua vida interna como
comunidade de fiéis, bem como da sua atividade externa missionária”[1].
Neste breve espaço, buscaremos evidenciar alguns aspectos da
importância da catequese na vida e missão da paróquia. Sabemos que a vida
paroquial do cristão pode empobrecer-se, e depressa entrar em ritualismo
vazio, ou simplesmente em sentimentalismo, se não estiver fundada em
conhecimento sério do que significam os mistérios cristos. Além disso, sem este
conhecimento, o cristão será incapaz de dar razão à sua fé. Baseados na sagrada
escritura e nos principais documentos da Igreja sobre a catequese[2], vemos que
os mais importantes aspectos da catequese na vida e missão da paróquia são:
1) Catequese: um caminho de iniciação à vida de fé
Após o deslocamento de uma catequese simplesmente
doutrinária para um modelo mais experiencial, a Igreja trouxe uma catequese
mais viva, que introduz nos mistérios cristãos o catequizando, para que este,
tenha uma experiência de fé. Esta integra tanto a dimensão doutrinal como a da
experiência com Deus, ao tornar discípulo de Cristo o catequizando, seja
criança ou adulto.
Esta metodologia leva à pratica da fé, a uma fé viva e
atuante, que se expressa, sobretudo, na vida litúrgica, missionária e orante da
Igreja. É uma iniciação no caminho da espiritualidade cristã, abrangendo a
sagrada liturgia com todos os seus sacramentos, a leitura orante da Palavra de
Deus, a religiosidade popular, a prática da oração pessoal e comunitária.
2) Um lugar de encontro com Jesus Cristo
É catequese cristocêntrica, que nos conduz à essência da
vida cristã, que é o nosso Salvador Jesus Cristo, ao Seu evangelho, à opção por
Ele, que nos revela o Pai no Espírito Santo. Para nós é muito claro, como nos
diz o papa Bento XVI, que “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou
uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa,
que dá um novo horizonte à vida e, com isso uma orientação decisiva”[3].
A catequese deve anunciar a Boa Nova e formar discípulos e
missionários; deve favorecer o encontro com Jesus Cristo, Salvador de todos os
homens. Os encontros de catequese não são aulas, os catequizandos não são
alunos e os catequistas não são professores. Isto não deve constituir-se
apenas de uma mudança de termos, mas de atitudes.
Os encontros de catequese visam a levar os catequizando a
uma viva experiência de fé, a um verdadeiro encontro com Cristo Senhor, em um
clima comunitário, de amizade, de união. Este encontro é um dom divino,
revelando-se assim um inestimável tesouro, como nos diz o Documento de
Aparecida: “Conhecer a Jesus Cristo é o melhor presente que qualquer pessoa
pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e
fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”[4].
O encontro com Cristo é necessário sempre recordá-lo e
reavivá-lo. São grandes as possibilidades e muitos os meios culturais que a
catequese pode utilizar para ajudar as pessoas a encontrar Jesus Cristo.
Além de vários meios espirituais, podem ser usados todos os recursos que
a nossa cultura nos oferece como, por exemplo, os da cultura midiática, desde
os tradicionais como jornal, televisão, rádio, até os mais modernos como
internet e outros, todos podem estar a serviço da Palavra de Deus, para que
Cristo seja amado e conhecido. A catequese tem este único fim: servir ao homem,
para que ele possa encontrar Jesus Cristo, a fim de que Ele possa levar todos a
percorrer a estrada da vida nova.
3) Um processo de inserimento na vida eclesial
A catequese nos introduz na vida da Igreja, nos leva a ser
igreja, a pertencer ao corpo místico de Cristo, à comunhão dos santos. É na
Igreja que a vida cristã cresce, comunica-se e se desenvolve. Cristo após
instituí-la, ordenou que ela levasse sua mensagem a todos os homens de todos os
tempos e lugares, até que Ele volte: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho
a toda criatura” (Mc 16,15). Por isto a Igreja é “o sacramento universal da
salvação”, é necessária para a salvação.
A catequese deve ensinar o Credo da Igreja, os Sacramentos
da Igreja, a Moral da Igreja, a Liturgia e a Oração da Igreja. Deve incentivar
os catequizandos à participação nos movimentos, pastorais e outros grupos
evangelizadores da Igreja. A catequese deve ser integrada às outras pastorais, tornando-se
orgânica e de conjunto, a catequese da comunhão.
4) Processo permanente de formação integral
A catequese de iniciação compreende todo o processo de
formação catequética, até à recepção dos três sacramentos da iniciação cristã:
Batismo, Eucaristia e Crisma. Terá a orientação da paróquia, mas se dará por
acompanhamento também dos pais/responsáveis. Esta fase destina-se a forjar as
atitudes básicas do cristão e a tornar conhecidos os pontos fundamentais da
doutrina da Igreja. Ela despertará também o catequizando para suas
responsabilidades na Igreja e no mundo, levando-o a assumir compromissos
concretos na comunidade, em testemunho coerente, como se espera do cristão.
A fase de iniciação é importantíssima, mas, graças, a Deus a
formação cristã se prolonga pela vida inteira. Não só as crianças, mas também
os adultos começam a merecer maior atenção, e cada vez mais buscam melhorar sua
formação. A finalidade específica da catequese, no entanto, não é só de
introduzir a pessoa na fé, mas também, de promover o crescimento e de alimentar
quotidianamente as suas vidas, em todas as idades, em formação permanente, capacitando
o cristão a conhecer, celebrar, viver, anunciar e testemunhar a Boa Nova
de Cristo.
A Catequese é um processo de educação gradual e progressivo,
adaptando-se e respeitando os ritmos de crescimento de cada um, abrangendo as
diversas dimensões que deverão integrar-se harmonicamente ao longo de todo o
processo formativo: “Trata-se das dimensões humana, espiritual, intelectual,
comunitária e pastoral-missionária”[5].
5) Escola de conhecimento da Palavra de Deus
A Sagrada Escritura é para nós o livro da fé, e, por isso
mesmo, é o texto principal da catequese. A alma da catequese é a santa Bíblia,
a Palavra de Deus, onde a vida é orientada para novas atitudes, segundo os
valores do evangelho. A catequese é considerada anúncio da Palavra de Deus, a
serviço da qual se coloca. O princípio da interação fé e vida, aplicado à
leitura da Bíblia, gera um tipo de leitura vital e orante da Palavra de Deus. Deve
ser incentivada a utilização da Bíblia nos encontros de forma catequética e
orante. Assim Paulo orientou Timóteo: “Desde a infância conheces as Sagradas
Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que
conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por
Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na
justiça” (2Tm 3,15.16).
É também muito importante ensinar os métodos de leitura da
Palavra de Deus, e os vários meios de acesso à Bíblia, tanto impresso, como em
vídeo e áudio. O verdadeiro catequista tem a convicção (mística) de que é
profeta hoje, comunicando a Palavra de Deus com seu dinamismo e eficácia, na
força do Espírito Santo.
6) Lugar de iniciação às virtudes e à moral
católica
A Moral da Igreja é a base, é o alicerce do nosso
comportamento; por isso é ensinada na catequese, de modo que o cristão,
conhecendo os dogmas da fé e a doutrina das sagradas virtudes, viva conforme as
leis de Deus, em uma vida virtuosa. Nos ensina o nosso Catecismo: “Importa, na
catequese, revelar com toda clareza a alegria e as exigências do caminho de
Cristo. A catequese da vida nova” (CIC,1697).
As virtudes humanas (fortaleza, prudência, justiça e temperança)
e as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), faz que abracemos a beleza
e a atração das retas disposições em vista do caminho de Cristo, do bem. “O
caminho de Cristo “leva à vida”; um caminho contrário “leva à perdição” (Mt 7,
13). A parábola evangélica dos dois caminhos está sempre presente na catequese
da Igreja. E significa a importância das decisões morais para a nossa
salvação”[6]. Foram nas virtudes que os santos se inspiraram com prodigalidade
para amar e seguir Jesus Cristo. A virtude da caridade nos fez tomar uma opção
preferencial pelos pobres. Assim a catequese é transformadora e libertadora:
uma mensagem de fé, que iluminando a existência humana, forma uma consciência
crítica diante das estruturas injustas, levando a uma ação transformadora das
realidades sociais: “a Igreja é chamada, em virtude da sua própria missão
evangelizadora, a servir o homem. Tal serviço tem a sua raiz primeiramente no
fato prodigioso e empolgante de que, com a encarnação, o Filho de Deus uniu-se
de certa forma a todo o homem”[7].
7) Um lugar de interação fé e vida
O conteúdo da catequese compreende dois elementos que se
interagem: a experiência da fé e a experiência da vida. A afirmação do
princípio de interação fé e vida é a recusa tanto do excesso da teoria
desligada da realidade da vida, como de uma fé sem compromisso com as
realidades humanas, desvalorizando as necessidades do “aqui e agora”. São dois
excessos que nos alienam e nos afastam da verdadeira fé da Igreja. O método
tradicionalmente utilizado é o Ver-Julgar-Agir-Celebrar-Avaliar, cabendo a cada
catequista fazer as adaptações necessárias. Portanto não é suficiente ter a
doutrina e suas verdades fundamentias em mente. O conhecimento é fundamental,
mas deve levar sempre à fé e à conversão. O cristianismo é uma experiência de
fé, vida e salvação. A catequese deve dar prioridade ao aspecto experiencial e
prático da fé, para que o catequizando torne-se verdadeiro discípulo e
missionário de Jesus Cristo e possa dar a vida por Ele.
(Palestra no 1º Retiro Pastoral da Paróquia Santa Rita de
Cássia, Aureny I-Palmas-TO, 27-11-2011).
NOTAS
[1] JOÃO PAULO II, Catequese Tradendae, 15: “a Igreja é
convidada a consagrar à catequese os seus melhores recursos de pessoal e de
energias, sem se poupar a esforços, trabalhos e meios materiais”.
[2] Catequesi Tradendae, 1979; Catequese Renovada,
1983; Diretório Geral de catequese, 1997; Diretório Nacional de catequese,
2005.
[3] BENEDETTO XVI, Deus Caritas Est, n.12; Documento
de Aparecido, n. 243.
[4] Documento de Aparecido, n. 29.
[5] Documento de Aparecido, n. 280
[6] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1696. 1697.
[7] JOÃO PAULO II, Christifideles Laici, 36.