Em entrevista ao jornal O São Paulo, semanário da
Arquidiocese de São Paulo, Padre Tarcísio Marques, coordenador do Secretariado
Arquidiocesano de Pastoral, falou sobre as marcas na ação pastoral da
Arquidiocese deixadas pelo 11º Plano de Pastoral.
Leia a íntegra da entrevista abaixo:
O São Paulo - No dia 25 de janeiro, completou um
ano o lançamento do 11º Plano de Pastoral. Que avaliação o senhor faz da
aplicabilidade do plano até agora? O que ainda pode avançar?
Pe. Tarcísio - Por primeiro, a mobilização para
torná-lo conhecido em toda a Arquidiocese e fora dela. Houve uma grande
mobilização pelas regiões episcopais, pastorais e movimentos promovendo um
aprofundamento sobre seu conteúdo de forma geral e particularmente sobre a sua
primeira urgência, Igreja em Estado Permanente de Missão, pois estava
relacionada ao primeiro ano da vigência do próprio Plano. Para dar corpo ao que
o Plano propõe, foi-se subsidiando as lideranças em nível paroquial, setorial e
regional, bem como os agentes de pastoral e animadores de movimentos e novas
comunidades, na elaboração de seus projetos pastorais com consistência. Houve,
desta forma, treinamento sobre como se elabora um projeto pastoral em todas as
instâncias, o que permitiu que o Plano fizesse ressoar em toda a Arquidiocese o
que cada comunidade e pastoral pode dar de si em vista da presença da Igreja na
cidade como um todo. Neste ano, a segunda urgência - Igreja, Casa da Iniciação
Cristã – já foi se delineando por meio das assembléias que se efetivaram em
todas as instâncias das regiões episcopais, cujo material comum foi levado à
Assembleia Arquidiocesana, que, por fim, definiu suas metas pastorais deste
ano.
O São Paulo - Nas assembleias preparatórias ao 11º
Plano , dom Odilo, especialmente, alertou que o Plano precisaria ser revertido
em projetos de ação das pastorais, comunidades e movimentos e demais organismos
da Arquidiocese. Isso concretamente tem acontecido (há dados sobre projetos já
sistematizados)?
Pe. Tarcísio - Como afirmei, foi exatamente desta
maneira que o Plano foi se fazendo conhecido e efetivado na Arquidiocese. Cada
região episcopal, antes de realizar sua assembléia no ano passado, mobilizou os
setores que, por sua vez, mobilizaram as paróquias e demais comunidades a
elaborarem seus projetos de pastoral. É de nosso conhecimento que um grande
número de paróquias e comunidades realizou esses projetos. Com essa
participação mais significativa, os setores pastorais realizaram suas
assembléias e, por fim, com a riqueza que os setores trouxeram, realizaram-se
as assembléias regionais, que, noutro momento planejado, trouxeram suas
contribuições para a efetivação da Assembléia Arquidiocesana.
O São Paulo - Como o Secretariado de Pastoral tem
se estruturado para trabalhar as prioridades do 11º Plano em 2014: “A fé que
rezamos”, do Catecismo da Igreja Católica, o documento conciliar Sacrossanctum
Concilium e as urgências “Igreja Casa da Iniciação Cristã” e “Igreja em Estado
permanente de missão”? Qual o cronograma de reuniões, formações arquidiocesanas
e outras atividades para 2014 (ou ao menos do primeiro semestre)?
Pe. Tarcísio - Bem, o cronograma de atividades da
Arquidiocese é sempre denso. Mas este cronograma também conta com o que cada
região episcopal planeja no seu nível. Toda a elaboração dos projetos pastorais
que já citei tem seus níveis próprios, seja o paroquial, o setorial ou o
regional. No que tange à Arquidiocese, tudo o que foi já trazido da riqueza das
regiões episcopais deve contar com o apoio e o incentivo do Secretariado
Pastoral para sua execução. O Secretariado Arquidiocesano, neste contexto, deve
exercer sua função própria, que é a de executar, subsidiar, assessorar e criar
instâncias de aprofundamento daquilo que já foi pensado e definido em
assembléia. Nossa programação em 2014 prevê o encontro de dom
Odilo com os padres que exercem funções, sobretudo nas paróquias e comunidades;
também numerosos encontros – dos Coordenadores dos Setores Pastorais das
Regiões Episcopais, o das Equipes de Coordenação das Regiões, Setores,
Pastorais, Movimentos, Novas Comunidades e outros Organismos arquidiocesanos,
os das Coordenações Pastorais do Conselho Arquidiocesano de Pastoral CAP
– como meios para subsidiar e incentivar a aplicação do projeto pastoral
arquidiocesano. É previsto que um grupo formado por agentes de pastoral das
regiões episcopais possa assessorar aprofundamentos de projetos de pastoral por
toda a Arquidiocese. Especificamente, as regiões episcopais terão suas reuniões
a fim de que tudo se efetive. Também as instâncias de comunicação da
Arquidiocese, como o Jornal O São Paulo, seu site e a Rádio 9 de Julho, deverão
estar a serviço de todo esse processo para tornar realidade o que cada projeto
de pastoral exige. Cursos e encontros formativos para o clero e o laicato já
estão previstos em todo o calendário deste ano. Enfim, todas as celebrações e
encontros que reúnem as instâncias arquidiocesanas trarão em seu bojo o que
ajuda que as metas deste ano sejam consideradas, promovidas e efetivadas.
O São Paulo - O senhor enquanto assessor do secretariado
arquidiocesano de Pastoral percebe que quais são os principais desafios para a
articulação Pastoral na Arquidiocese? A maior dos entraves é pontual ou se deve
ao "tamanho" (abrangência) da Arquidiocese?
Pe. Tarcísio - Na verdade, sou coordenador do
Secretariado de Pastoral Arquidiocesano. Tenho a função de dirigir a equipe que
executa, anima e acompanha o cumprimento das metas pastorais arquidiocesanas em
consonância ao nosso bispo, Dom Odilo Pedro Scherer. Meu trabalho é levar a
cabo o que ele, como pastor, evoca e põe para que a Arquidiocese esteja a
serviço da evangelização em nossa grande e querida Cidade de São Paulo. Tudo
isso sempre tem sido feito em sintonia com o Plano de Pastoral Arquidiocesano,
permanecendo, com requer o ser cristão, a serviço de todas as pessoas.
Coordenar é algo bom e exigente, sim! No entanto, fique claro que o que digo
como exigente não significa entrave ou peso; pois é um imenso prazer servir
carinhosamente à minha Igreja. Não definiria nada como entrave para a vida
pastoral de nossa Igreja, pois a Igreja já nasceu para estar em meio das
pessoas, sendo solícita e sinal de alegria e esperança para todos, claro que
primordialmente entre os marginalizados e vítimas de muitas formas de opressão.
Nem mesmo os que se irritam com a Igreja, divergem dela ou criam obstáculos
para sua ação devem ser vistos como entraves, porque todos somos irmãos e
irmãs. Jamais devemos usar do expediente do ódio e da exclusão se queremos
estar no meio do povo e servi-lo como Jesus nos ensinou. Talvez a palavra
dificuldade seja mais adequada para definir os imensos desafios desta grande
cidade, com seus abismos sociais, suas imensas periferias povoadas por gente
simples que merece uma grande e constante atenção do Poder Público e de todos
nós. Há desafios pastorais a serem enfrentados no que tange a compreender e
expressar-se de acordo com a linguagem e o entendimento dos diversos grupos,
tribos e movimentos, religiosos ou não, que estão presentes por toda a Cidade.
Há o desafio não somente das periferias geográficas, mas as imateriais também.
Um desafio que se destaca é compreender a juventude e atualizar os ensinamentos
do Evangelho para sua linguagem e compreensão; pois não basta somente ensinar,
mas é preciso reunir, formar comunidade em que os jovens sejam também agentes
da evangelização. Seria injusto não lembrar os idosos e solitários: impressiona
o número de pessoas cada vez mais solitárias numa cidade que fervilha de gente
indo e vindo. E os presídios na cidade? E as casas para menores infratores? E o
povo da rua? E as pessoas de outras denominações cristãs ou de outras
religiões? E os que se declaram sem religião ou ateus? E os poucos recursos
humanos para evangelizar? E os poucos recursos financeiros para investir na
formação e liberação de agentes de pastoral para tantos desafios onde a Igreja
sempre deve estar presente? Os desafios são muitos mesmo! Jesus já sabia disso!
Por isso disse: “A messe é grande, mas os operários são poucos”. A meu ver, o
que se define por desafio acaba se tornando incentivo na promoção de um valor
cristão inalienável: servir árdua e generosamente, sem esperar ganhos
financeiros, mas prazerosamente em meio de todos como simples servidor, jamais
como quem manda e oprime.