A pessoa amadurece constantemente no conhecimento, amor e
seguimento de Jesus Mestre, se aprofunda no mistério de sua pessoa, de seu
exemplo e de sua doutrina. Para esse passo são de fundamental importância a
catequese permanente e a vida sacramental, que fortalecem a conversão inicial e
permitem que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na
missão em meio ao mundo que os desafia
(Doc. de Aparecida n. 278).
1. Um dos assuntos mais delicados no campo da pastoral
catequética é, sem dúvida, a questão de uma formação cristã sistemática dos
adultos, em especial dos jovens e dos casados com pouco tempo. Uma coisa é uma
palestra ocasional e outra o labor de acompanhar o crescimento cristão das
pessoas. Os pastores que se sentem fascinados por Cristo e querem ser
instrumentos de sua ação não podem descansar. Haverão de buscar meios e modos
de formar os cristãos. Limitar-nos-emos, nesta comunicação, a umas poucas
observações que a experiência sugere, observações completamente insuficientes.
2. Antes
de mais nada deve-se afirmar que uma paróquia (ou a diocese) precisa criar
espaços e condições para que adultos venham a ter ocasião de uma permanente
formação da fé. Não bastam slogans de paróquias renovadas e animadas,
não basta apenas melhorar as condições exteriores (prédios adequados,
aparelhagem audiovisual). Regularmente, aberto a todos, deverá existir um
“curso” em que são discutidos, estudados e aprofundados os grandes temas de
nossa fé: profundo e existencial conhecimento de Cristo Jesus vivo e
ressuscitado, compreensão adequada do que vem a ser a fé cristã e a conversão
evangélica, o mistério teológico das comunidades, o discipulado, a reta
compreensão dos sacramentos e as características de um cristão adulto e atuante
no mundo em nossos dias. Com isto deve-se ter em mente a formação de um laicato
adulto e não apenas visto como “colaborador” dos “padres”. Não esquecer que há
uma categoria de adultos particularmente importante: os que abandonaram a
prática da fé, que tiveram uma formação cristã insuficiente e que, por diversos
motivos, voltam ao seio da comunidade. Esse assunto é de fundamental urgência.
3. Há adultos que não praticam regularmente. São
batizados mas não experimentam senso de pertença a uma comunidade, participam
mais ou menos esporadicamente de algumas missas, sem comprometimento e
consciência daquilo que estão fazendo. Esta categoria de pessoas é quase
inatingível. Por vezes, quando perdem um ente querido, nos momentos cruciais da
vida (nascimento de um filho, perda de um parente ainda jovem, doença que tenha
vindo para ficar), as cordas de sua vida se tornam mais sensíveis ao mundo de
Deus. Será preciso que cristãos se façam presentes nestas vidas dando claramente
as razões de sua fé. Há um trabalho de porta em porta a ser inventado com
discernimento. Os agentes de pastoral saberão rever seriamente os assim ditos
cursos de batismo, de preparação para o casamento no sentido de fazer com que
eles sejam momentos de evangelização de adultos meio perdidos no tempo e no
espaço do universo cristão. A dilatação do tempo desses encontros é
fundamental. Não faz pastoral e evangelização sem respeitar as lentidões do
tempo de cada um e do tempo de Deus. A pastoral saberá acolhê-los com cortesia
quando procuram os sacramentos. Os mais atuantes agentes de pastoral, a começar
pelos padres darão um belo testemunho do ser cristão, servindo-se dos momentos
em que doentes chamam a Igreja ou quando a família pede que o corpo de seus
entes queridos sejam encomendados. A grande questão é como fazer com que eles
saiam do indiferentismo.
4. Há católicos que frequentam regularmente a missa
dominical, pedem o batismo para seus filhos, encaminham-nos para a primeira
eucaristia, mas não têm compromisso com o Evangelho e a Igreja. Melhorar a
comunicação na liturgia da missa dominical, já que muitas vezes sua presença na
comunidade se limita a tanto. Há, ao longo do ano litúrgico, possibilidade de
se fazer uma catequese de adultos desde o advento até a parusia. Um sacerdote
zeloso e uma equipe de liturgia não dada apenas a efeitos exterior poderão ser
excelentes instrumentos da ação de Deus. Insisto: instrumentos de um agir de
Deus. Esse tipo de católicos seriam os melhores participantes de um curso de
formação à noite ou em fins de semana. As grandes preocupações desse “curso”
poderiam ser: nossa cultura de morte, os “supermercados religiosos”, educação
dos filhos, fidelidade e construção do casamento, como despertar a sede de
Deus, tema do consumismo versus partilha, transformação da sociedade, políticas
inumanas, a delicada questão do “gênero”. Precisamos formar cristãos católicos
adultos. Como motivar os adultos a participarem desses encontros feitos com
esmero, respeitando os horários?
5. Há também aqueles adultos que já estão engajados.
Tais pessoas deverão ser convidadas a buscar uma eminente santidade de vida e
uma ação corajosa e lúcida no mundo, sem pietismo e devocionalismo. Muitos
desses pertencem a movimentos de espiritualidade cristã, também conjugal. Para
estes é fundamental a realização de retiros, de revisões sérias de seu trabalho
pastoral e evangelizador segundo o método do ver, julgar e agir. Esses
leigos precisarão ter consciência de que precisam ser multiplicadores.
6. Terminamos estas reflexões com algumas considerações
de Casiano Floristán, conhecido pastoralista espanhol: “A essência da
catequese, sobretudo a de adultos, não reside em fórmulas ou ensinamentos, mas
na iluminação cristã da existência em suas dimensões mais profundas. Não
esqueçamos que o ser humano é o centro da revelação. A primeira coisa que ele
precisa compreender é o significado de sua existência, seja de alegria ou de
sofrimento. Não se trata de proclamar um evangelho abstrato, mas iluminar a
realidade atual com a luz e a força do evangelho. Nenhum campo importante da
existência humana pode ser excluído, mesmo que não possamos achar na Escritura
receitas concretas para cada aspecto vital. Por isso há a necessidade de
traduzir e de atualizar hoje e aqui a mensagem cristã. É oportuno partir da
experiência para que, apoiando-se nela, seja possível ouvir hoje a Boa Nova.
Esse pressuposto deve tornar possível o diálogo na fé, uma vez que somente a fé
pode ouvir a voz de Deus. Trata-se de se criar um clima dialogante: falar com
os outros e não aos outros, ouvir juntos a voz dos fatos e dos feitos da
palavra de Deus, caminhar juntos e viver em comum para serem todos crentes na
Igreja do Senhor”.