Durante
a 51ª Assembleia da CNBB, de 10 a 19 de abril, em Aparecida, foi feita uma
análise do quadro religioso do Brasil, com base nos dados do Censo de 2010.
Conforme
já foi noticiado, houve uma nova diminuição do número dos que se professam
católicos, que seriam ainda cerca de 64% da população brasileira; houve quedas
igualmente de adeptos das Igrejas Protestantes tradicionais ou históricas, como
a Luterana, a Presbiteriana, a Congregacional e outras Igrejas Evangélicas de
missão; mas também houve queda acentuada dos aderentes à Igreja Universal do
Reino de Deus e de outros grupos pentecostais livres. Novos grupos “livres”, de
inspiração neopentecostal, surgiram e conquistaram adeptos.
Essa
mudança religiosa não deixa de nos questionar. Há explicações culturais,
sociais e religiosas na base dessa mobilidade religiosa que assistimos no
Brasil nas últimas décadas. Mas, não basta compreender o fenômeno: como católicos,
não podemos ficar indiferentes. E como Arcebispo da Igreja, expresso minha viva
dor e preocupação por todo o católico que abandona a sua fé e me pergunto sobre
os motivos que estão na base da sua escolha. Evidentemente, partimos do
pressuposto de que a liberdade religiosa e de consciência das pessoas deve ser
respeitada.
Mas,
quando isso nos envolve, devemos dar respostas adequadas. Os motivos do
abandono da fé católica, no entanto, devem ser examinados por nós, levando-nos
às decisões que nos cabem tomar, com o coração movido pela caridade pastoral,
por amor às pessoas, respeito e amor à verdade. Não podemos cair no
indiferentismo religioso, em que uma coisa vale a outra e a verdade da Igreja
fica relativizada pelo irenismo ou até pelo comodismo.
A
causa do abandono da fé católica pode ser o conhecimento insuficiente ou apenas
superficial da fé e da própria Igreja Católica. Muitas pessoas nunca foram
verdadeiramente evangelizadas, nem tiveram a oportunidade de fazer uma
experiência genuína e gratificante da fé em Deus na nossa Igreja. Não se ama o
que não se conhece. E, não havendo raízes profundas nem identificação pessoal
sólida com a fé e a Igreja Católica, o abandono acontece com facilidade.
O
que devemos fazer nesses casos? Certamente, é preciso evangelizar mais e
melhor, dando aos fiéis a oportunidade de conhecerem melhor a Deus e a Igreja,
e de fazerem a experiência gratificante e profunda da fé. Devemos propor a
verdade integral do Evangelho, sem poupar esforços para convidar as pessoas a fazerem
um caminho de crescimento e amadurecimento na fé.
Acontece
também que as pessoas abandonam a fé católica e a Igreja porque ficam
decepcionadas com o nosso atendimento, nem sempre acolhedor. Isso nos deve
levar, evidentemente, a rever nossos modos de tratar as pessoas. Ninguém espera
ser tratado mal, ainda mais por quem representa a Igreja e fala em nome de
Deus. E isso vale para nossos atos oficiais, como as celebrações, mas também
para as relações pessoais dos católicos.
Entre
as causas do abandono da fé e da Igreja Católica também está a discordância com
a nossa doutrina moral ou mesmo com artigos da nossa fé. Nesse caso, por certo,
não devemos renunciar à nossa fé, nem ocultar as exigências morais que decorrem
do Evangelho. Mas, devemos cuidar de não transformar a fé em moralismo
superficial, nem deixar de propor o encontro vital com Deus por meio de Jesus
Cristo, antes de tratar das exigências morais do Evangelho. O resto será obra
da graça de Deus, que conta com o diálogo paciente e respeitoso, o testemunho
pessoal de vida cristã e o desejo sincero de ganhar irmãos para Cristo, para
que tenham, por ele, a vida verdadeira.
Há
também o fato da pregação contrária à Igreja Católica e sua doutrina, que leva
muitos irmãos ao engano, ao abandono da fé e ao desprezo da Igreja. Nesse caso,
cabe-nos defender as ovelhas do nosso rebanho e vigiar, mostrando-lhes a
verdade e esclarecendo os aspectos em que sua fé e seu amor à Igreja são
abalados.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 16.04.2013