O prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet não pôde comparecer ao Curso para os Bispos devido a um chamado feito pelo Papa Francisco. Os seus textos: “O matrimônio e a família na sacramentalidade da Igreja” e “Entre o bispo, Esposo da Igreja, e as famílias, que tipo de comunhão existe?”, foram lidos pelo bispo de Camaçari (BA), Dom João Carlos Petrini.
Família na sacramentalidade da Igreja
O texto fala sobre o vínculo orgânico que existe entre o sacramento do matrimônio e a sacramentalidade da Igreja. Outro tópico abordado foi a complexidade que envolve o processo de nulidade matrimonial.
Para começar a explicar sua tese, o cardeal definiu família como um oásis de comunhão para um povo que caminha no deserto, seguindo a Cristo; e explicou que ela tem como propriedades naturais e sobrenaturais a unidade, a fidelidade, a fecundidade e a indissolubilidade.
Para ilustrar, comparou o matrimônio, dentro da sacramentalidade da Igreja, à relação entre Cristo e a Igreja, visto que “a Igreja é em Cristo o sinal e instrumento da íntima união com Deus”. Isso de acordo com as constituições do Concílio Ecumênico Vaticano II.
“A Igreja é um sinal visível de comunhão e mediação de graça. Nesta ótica, todos os sacramentos podem ser repensados como articulações orgânicas de um corpo que constitui a sacramentalidade da Igreja em relação com o mundo”, escreveu.
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, o matrimônio, uma vez que significa e comunica a graça da aliança entre Cristo e a Igreja, é um verdadeiro sacramento da Nova Aliança.
Concílio e a nova concepção de matrimônio
Ao longo da explanação, o Cardeal Petrini explicou, usando as palavras de Dom Ouellet, que o Concílio repropôs o Sacramento do Matrimônio como “encontro com Cristo”, que permanece com o casal e os faz participar de Seu próprio amor. Este seria, portanto, o motivo pelo qual os divorciados recasados não podem comungar.
“Comungando sacramentalmente, o casal repete seu ‘sim’ à aliança de Cristo e da Igreja. Estes, por sua vez, contêm, sustentam, santificam e salvam a aliança dos esposos, chamados a servir a um amor maior que o seu próprio amor, misteriosamente presente neles, apesar das vicissitudes da vida humana”, escreveu o cardeal.
Segundo o autor da palestra, o sacramento não se limita a ajudar os cônjuges a realizar os fins naturais de sua união, mas é também uma “vocação à santidade, uma santidade conjugal e familiar que revela e encarna concretamente no mundo a verdadeira natureza da Igreja como Esposa de Cristo”. Portanto, o casal, comungando em Cristo, deve ser capaz de evoluir junto e, assim, transpassar os obstáculos da vida.
Comunhão entre o bispo e as famílias
Na segunda palestra, o Cardeal Ouellet tratou sobre como ocorre a relação entre bispo e Igreja e entre bispo e as famílias. De acordo com ele, a Igreja também pode ser descrita como a “imaculada Esposa do Cordeiro imaculado que Cristo amou (...) e por ela deu-se a si mesmo, a fim de santificá-la”. Esse laço expõe a semelhança entre os laços firmados entre Cristo e a Igreja e entre esposo e esposa, de acordo com a simbologia nupcial.
O bispo, a partir do Sacramento da Ordem, é chamado, através desse símbolo, desse acordo firmado, a “suscitar nos fiéis relações recíprocas inspiradas no respeito e estima que se aplicam a uma família onde floresce o amor”, de acordo com a Exortação Apostólica pós-sinodal “Pastores Gregis”. Ou seja, a relação do bispo com a Igreja é como a de um esposo para com a esposa, à medida em que ele, em seu estado de vida celibatário, dá testemunho de sua pertença total à Igreja Esposa. “Sabemos que o Espírito investe pessoalmente na união nupcial indissolúvel dos esposos, assim como no carisma nupcial da vida consagrada”, pontuou.
Reflexões
Dom Petrini, após ler as palestras enviadas por Dom Ouellet, afirmou que o tema do curso é importante nos tempos atuais, porque antigamente, quando nasceu, a realização humana passava através da constituição da família. “O trabalho e a família eram os caminhos da realização humana para a felicidade. Mas agora não é mais assim”, frisou.
Durante o curso, explicou Dom Petrini, os bispos puderam redescobrir que toda a aliança de Deus com os homens, seja no Antigo ou no Novo Testamento, é centrada no conceito de nupcialidade. “Ou seja, Deus que trata o povo de Israel como a sua esposa. Jesus é o esposo que entrega sua vida, por amor, à sua esposa, que é a Igreja. O casal é chamado a ser sinal desse amor”, afirmou.
Foto: Gustavo de Oliveira