Todos os que trabalham têm necessidade de reservar-se um tempo para o repouso. O trabalho pastoral não é diferente. A atividade pastoral é, como afirma São Paulo, “um trabalho difícil e árduo” (2Cor 11, 23). Eis o motivo pelo qual, ao retornar da missão, os apóstolos são convidados por Jesus a descansar um pouco, num lugar tranquilo.
Parar não é fácil. Entramos num ritmo tão frenético que, via de regra, encontramos uma grande dificuldade em nos desligarmos de nossas atividades corriqueiras. Porém, os períodos de descanso são fundamentais para nossa saúde física, mental e espiritual. Tomado pela ‘fadiga’ ninguém desenvolve bem suas atividades. Diz o livro do Gênesis que ao concluir a criação do universo, no sétimo dia, Deus descansou (cf. Gn 2, 2). E Deus abençoou e santificou o sétimo dia, o dia do descanso. (cf. Gn 2, 3).
Com relação ao trabalho pastoral não é diferente. É preciso também repousar, porém, o repouso pastoral é diferente, pois é um ‘descansar’ na companhia de Jesus, ao calor de sua amizade, para, no silêncio da oração, atingirmos às raízes de nossa vida. É preciso cuidar bem das raízes, pois é delas, por exemplo, que as árvores nutrem a própria vida e frutificam. Então, em que situação se encontram as raízes de minha vida? Vivo de acordo com a fé que professo? São indagações fundamentais para a eficiência de nossa vida pastoral. Caso contrário, nosso apostolado corre o risco de se tornar puro ‘ativismo’, ou seja, fazer as coisas por fazer. Um trabalho sem alma! Isso quando não é fuga de casa, dos problemas familiares. Quantos problemas são camuflados por uma dissimulada ‘solicitude pastoral’!
Além disso, o ativismo pastoral nada mais é que ‘fuga de si mesmo’. A desculpa de mergulhar no trabalho pastoral é, sem dúvida, o melhor álibi para esconder-se de si mesmo, sob uma aparência de ‘espiritualidade’. Daí o medo de se ‘retirar’ para momentos de silêncio.
O silêncio ajuda a rever conceitos, repensar decisões e planejar melhor a vida. Como é bom criar distância em relação ao passado, para ver, sem pressa, o que realmente fizemos e ensinamos. ‘Olhar serenamente e sem desculpas para o diário da vida que escrevemos’. Todavia, esse olhar é diferente, pois é um ‘olhar orante’, ou seja, um olhar iluminado pela presença de Deus: olhar a realidade como Deus olha!
Outro ensinamento fundamental do evangelho de hoje para o trabalho pastoral diz respeito à compaixão. A comoção de Jesus diante das ‘ovelhas sem pastor’ é sinal da sua preocupação e do seu amor. Revela a sua sensibilidade e manifesta a sua solidariedade para com todos os sofredores. Não podemos permanecer insensíveis e inoperantes diante do sofrimento alheio. O cristão é alguém que tem de sentir como seus os sofrimentos do próximo. Amém!
Dom José Roberto Palau
Vigário Episcopal da Região Ipiranga