"Um menino nasceu para nós: um filho nos foi dado! O
poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado 'Mensageiro do Conselho de
Deus". (cf. Is. 9,6).
Christus natus est nobis, venite adoremus!
Cristo nasceu para nós. Vinde e adoremos!
Eis que se completou o tempo esperado, o grande advento! No belo horizonte
emana nova luz. Deus chegou para habitar definitivamente no meio dos homens e
das mulheres. Jesus Menino, que em outros tempos falou e anunciou o grande dia,
hoje permitiu que nossos olhos contemplassem este venturoso alvorecer, no qual
celebramos sua vida e com esta vida a plenitude da revelação do Senhor da Vida
e da História. Assumindo a nossa condição humana, fez com que os seres humanos
se tornassem todos irmãos e pertencessem a uma única família, a família dos
filhos e das filhas de Deus. Hoje é dia de proclamar a grandeza de Deus e de
louvá-lo por nos conceder o dom da salvação e da sua filiação divina.
Meus queridos Irmãos,
O dia de Natal não pode ser recordado somente como um fato histórico ocorrido
há dois mil anos. Nós devemos hoje celebrar, interiormente e exteriormente, o
nascimento do Redentor do gênero humano. Não é somente um fato histórico. Mas,
acima de tudo, é uma presença, um fato que deve interpelar a nossa caminhada.
Assim, a festa de Deus que veio “armar sua tenda entre nós” e é, ao mesmo
tempo, a festa nossa, porque hoje nascemos para a vida eterna, para a vida
divina, para a vida na Trindade. O Filho de Deus entrou na vida humana e nós
entramos na vida de Deus, na vida eterna.
E O VERBO DE DEUS SE FEZ CARNE, anuncia São João no Evangelho deste dia
venturoso(cf. Jo. 1,1-18 ou 1-5,8-14). O que vem a ser o Verbo de Deus se fez
carne? Significa que Deus veio morar conosco, veio fazer comunidade conosco,
veio caminhar conosco. Assim todos somos convidados a abrir as portas do nosso
coração e de nossa alma, da nossa casa, de nossa Paróquia, de nossa comunidade
a Cristo, na doce e alegre certeza de que, na história humana, embora marcada
pelo escárnio, pela maldade, pela maledicência, pelo sofrimento, pela fome,
pelo desemprego, a última palavra pertence a Deus, a vida plena, ao amor, a
felicidade, a concórdia, à paz. Deus veio morar em nosso meio para que nós
pudéssemos morar nele.
Jesus é a luz admirável, límpida, que penetra tudo e não há obstáculos para
esta luz invencível. No Natal não somos convidados. No Natal somos
protagonistas do nascimento do Redentor. Somos parceiros. Somos caminhantes.
Somos a massa fermentada pelo Cristo e juntos formamos o pão. Massa e fermento
inseparáveis. Por isso cantemos neste dia com o Apóstolo dos Gentios: “Não sou
eu que vivo, é Cristo que vive em mim”(cf. Gl 2,20).
Meus queridos irmãos pelo batismo,
O princípio é o tempo antes de todos os tempos, a criação. O Filho de Deus já
existia antes da criação do universo, porque ele é Eterno, é Verdadeiro, é Deus
de Deus, Luz da Luz. Maria foi o instrumento da encarnação de Jesus, por obra e
graça do Espírito Santo. Jesus é consubstancial ao Pai, isto é, um só com ele.
E, assim, com o Pai, é “criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. As
três pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas
é Deus por inteiro: o Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai,
o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus. Doce fé
na Trindade Santíssima que enriquece a grandeza de nossa fé católica e
apostólica.
Meus irmãos,
Quando Deus fez a terra criou o homem à sua imagem e à sua semelhança. E no
mistério de Deus mandou seu Filho para unir todas as coisas, tanto as que estão
no céu como as que estão na terra. Como nossos primeiros pais pecaram por
orgulho e por desobediência, esquecendo-se de que eram criaturas e não
senhores, a missão do Filho de Deus na terra teve de ser redentiva. Ao vir ao
mundo, Jesus como que realiza uma nova criação. São Paulo não tem receio de
usar as expressões nova criatura, novo homem. Para cumprir essa missão, Jesus,
sem deixar sua divindade, assumiu a natureza humana e, por obra e graça do
Espírito Santo, assumiu um corpo no seio da Virgem Maria.
E Deus neste Natal se fez Verbo, se fez Palavra. O que vem a ser o Verbo? Vem a
ser que Jesus não teve medo de assumir a nossa condição humana. João deixa
claro desde o início do Evangelho que se trata de um ser divino em carne
humana, de um homem inseparável da divindade. E Jesus veio para abrir a todos a
possibilidade de se tornarem Filhos de Deus, desde que creiam em seu nome. E
não nos tornamos filhos de Deus pelas vias da natureza, mediante um útero de
mulher, mas mediante o Espírito Santo, isto é, pela graça de Cristo, cheio de
graça e de verdade, nos trouxe, derramando de sua plenitude sobre nós graça
sobre graça.
Caros irmãos,
As leituras de hoje não expressam tanto a misteriosa transparência do divino na
condição humana e pobre do menino de Belém, mas proclamam “sem véu” sua glória.
“Teu Deus reina”, soa agora o brado que lembra a alegria da volta dos
exilados(cf. Is 52,7-10). “Cantai ao Senhor um canto novo, pois ele fez
maravilhas”, medita o Salmo Responsorial(98). Os reis de Israel não trouxeram a
salvação para o seu povo, mas o abandonaram. Deus, ao contrário não o abandona.
Ele o reconduz e o reconstrói a cidade destruída. Ressoa agora a boa-nova:
“Deus é rei”, e não só de Israel e Judá, mas de todo os povos. Ele os outorgará
liberdade e paz, se eles quiserem reconhecer e aceitar a sua oferta.
A Segunda Leitura (Hb 1,1-6) nos anuncia que em Cristo plenificaram-se todas as
manifestações de Deus. Jesus venceu a morte e o pecado: a glória de Deus se
manifestou nele. A fé na sua obra redentora e glorificação junto ao Pai é a
base da esperança de nossa própria arrematação.
Meus irmãos,
"Um menino nos foi dado" (Is 9,5). Que a nossa fidelidade a Deus se
renove pela contemplação da extraordinária caridade manifestada no grande
mistério da encarnação do Verbo! Mysterium pietatis! Afinal, amor com amor se
paga!
Feliz Natal! A medida em que nós formos novos Cristos, também nossa carne,
nossa vida e história será uma palavra de Deus para nossos irmãos e irmãs, e
mostrará ao mundo o verdadeiro rosto de Deus: um rosto de amor!
Natal é simplicidade! Natal é reflexão! Natal é vida de graça! Natal é
misericórdia! Natal é acolher o Cristo, pobre como na manjedoura, como
acolhemos a pobreza do nosso irmão, seja ela qual for. Natal é tolerância!
Natal é compaixão! Natal é amor! Feliz Natal. Jesus nasceu por nós!