quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ALEGRAI-VOS!

O próximo domingo é chamado de Gaudete, palavra com que começa a antífona da Missa em latim, "Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete": "Alegrai-vos sempre no
Senhor; repito: alegrai-vos".
 
A exortação a se alegrar vem no final da Carta de São Paulo aos Filipenses, e o contexto completo continua: "Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus".
 
Não é de se estranhar que o Papa Francisco, o sucessor de Pedro e Paulo, tenha publicado sua própria exortação apostólica, "Evangelii Gaudium" – a alegria do Evangelho – durante o Advento, quando lembramos que o Senhor está próximo. Infelizmente, as opiniões do papa sobre economia conquistaram as manchetes e comentários; mas o coração da sua mensagem é uma exortação a espalhar o Evangelho com alegria irrestrita.
 
Ele começa sua exortação apostólica escrevendo: "A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Os se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos, a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria".
 
A alegria à qual o Papa Francisco se refere não é apenas a felicidade humana, nem é uma falsa euforia religiosa ou uma máscara artificial de simpatia religiosa. A alegria é um dos frutos do Espírito Santo (Gálatas 5, 22). É o resultado de ter sido invadido pelo fogo do amor divino. Esta alegria é o sinal de uma energia sobrenatural na vida de uma pessoa. Apresenta-se como uma espécie de otimismo sobrenatural.
 
A alegria divina é capaz de evangelizar, porque é atraente. As pessoas veem essa felicidade divina e essa paz, e as desejam para si mesmas. A alegria divina está presente não só quando as coisas vão bem, mas especialmente quando as coisas vão mal.
 
Eu nunca vou esquecer da minha amizade com uma religiosa clarissa chamada irmã Mary Lucy. Ela estava cega e sofria de uma doença óssea degenerativa. Sua coluna estava se desfazendo e os médicos não podiam fazer nada para melhorar este quadro. A irmã Mary Lucy vivia em constante e insuportável dor, mas eu nunca a ouvi reclamar. Pelo contrário, ela sempre me cumprimentava com uma paciência cheia de paz e transmitia alegria enquanto conversávamos.
 
Certa vez, perguntei à irmã Mary Lucy se ela estava com dor. Com um sorriso, ela disse:
 
- Ah, sim, constantemente!
 
- Você nunca ficou brava com Deus por permitir-lhe tal sofrimento?
 
- Ah, não! Não! Eu estou me aproximando tanto de Jesus! Não consigo nem descrever esta experiência!
 
A alegria da irmã Mary Lucy parecia ser ainda mais poderosa, porque ela a vivia em meio a um intenso sofrimento. Este é o otimismo sobrenatural que supera os nossos medos, preocupações, decepções e arrependimentos.
 
A linguagem da liturgia sempre reflete as realidades da vida. O "Domingo Gaudete" chega no meio do sóbrio Advento para nos lembrar que a alegria em meio às dificuldades não é um dever, mas um dom. É um dom que vem da consciência de que o Senhor está próximo.
 
Um velho ditado judaico afirma que Deus está mais perto de nós do que a nossa própria respiração. O Senhor não está próximo só porque a celebração de seu nascimento está chegando. O Adventonos recorda que Ele está próximo agora. Ele está mais perto do que a nossa própria respiração.
 
Quando você vir os ornamentos rosas na Missa e vir a vela rosa acesa durante a terceira semana do Advento, faça uma pequena pausa em meio à correria. Acalme-se. Aquiete-se e alegre-se sempre no Senhor... E mais uma vez eu lhe digo: alegre-se!