domingo, 1 de junho de 2014

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Sobe Deus entre cantos de alegria.
Cantemos à glória de Deus, cantemos ao nosso Rei,
porque Rei é Ele de toda a terra (SI 47, 6-8)



É a Ascensão do Senhor o coroamento da sua Ressurreição. É a entrada oficial naquela glória que cabia ao Ressuscitado após as humilhações do Calvário, é a volta ao Pai já por Ele anunciada no dia da Páscoa: ‘Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’ (Jo 20,17)
E aos discípulos de Emaús: ‘Não era preciso que o Messias sofresse estas coisas e
que assim entrasse em sua glória?’(Lc 24,26). Este modo de exprimir-se indica não tanto volta e glória futuras, mas imediatas, já presentes porque estritamente unidas à Ressurreição. Todavia, para confirmar os discípulos na fé, era necessário que tal acontecesse de modo visível, como se verificou quarenta dias depois da Páscoa. Aqueles que tinham visto o Senhor morrer na cruz, entre insultos e escárnios, precisavam ser testemunhas da sua suprema exaltação no céu. Referem o fato os Evangelistas com muita sobriedade, todavia suas narrações salientam o poder de Cristo e sua glória: ‘Foi-me dado todo poder no céu e na terra’, lê-se em Mateus (28, 18) e acrescenta Marcos: ‘O Senhor Jesus… subiu ao Céu e assenta-se à direita de Deus’ (16,19). Lucas, porém, recorda a última grande bênção de Cristo aos Apóstolos: ‘ Ao abençoá-los, afastou-se deles e ia elevando-se ao céu’ (24,51).

Também nos últimos sermões de Jesus resplandece sua majestade divina. Fala como quem
tudo pode e prediz aos discípulos que em seu Nome ‘expulsarão demônios, falarão novas línguas pegarão em serpentes e, se beberem algum veneno mortífero, não Ihes fará mal, imporão as mãos aos doentes e recobrarão a saúde’ (Mc 16, 17-18). Provam os Atos dos Apóstolos a realidade de tudo isto. Em seguida Lucas, tanto na conclusão do seu Evangelho como nos Atos, fala da grande promessa do Espírito Santo que confirma os Apóstolos na missão e nos poderes recebidos de
Cristo: ‘Eis que enviarei sobre vós o Prometido por meu Pai’ (Lc 24, 49), ‘recebereis força com a vinda do Espírito Santo sobre vós, e sereis minhas testemunhas… até aos confins do mundo. Dito isto, elevou-se para o alto, à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos’ (At 1, 8-9).

Espetáculo magnífico que deixou os Apóstolos atônitos ‘com o olhar fixo no céu’, até que dois anjos Ihes apareceram. E o cristão chamado a participar de todo o mistério de Cristo e, portanto, também de sua glorificação. Ele mesmo o havia dito: ‘vou preparar-vos um lugar. E quando eu tiver ido. Voltarei
novamente avós e vos tomarei comigo, afim de que onde eu estou estejais também vós’
(Jo 14, 2-3).

Constitui, portanto, a Ascensão grande argumento de esperança para o homem que, no seu peregrinar terreno, sente-se exilado e sofre longe de Deus. A esperança que implorava São Paulo para os Efésios e queria viva em seus corações. ‘O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória. Ilumine os olhos de vossa inteligência para compreenderdes qual a esperança a que vos chamou’ (Ef 1, 17-18). E onde fundava o Apóstolo esta esperança? No grande poder de Deus ‘manifestado em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, acima de todo Principado e Poder (ou seja, dos Anjos) … e de qualquer outro nome’ (ibidem, 20-21).
A glória de Cristo exaltado acima de toda criatura é, no pensamento paulino, a prova do que fará Deus por quem, aderindo a Cristo pela fé e pertencendo a Ele como membro do único Corpo de que é Cabeça, participará de sua sorte. Isto requer cristianismo autêntico: crer e alimentar firme esperança de que como hoje o fiel, nas tribulações da vida, participa da morte de Cristo, assim um dia participará da sua glória eterna.
Os anjos que no monte da Ascensão dizem aos Apóstolos: ‘Esse Jesus que do meio de vós subiu ao céu, um dia virá do mesmo modo com que o vistes ir para o céu’ (At 1, 11), os fiéis que, enquanto aguardam a volta final de Cristo, precisam pôr a mão na obra. Com, a Ascensão termina a missão terrena de Cristo e começa a dos dlscípulos.


‘Ide ensinar todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’ (Mt 28,19); devem eles perenizar no mundo sua obra de Salvação pregando, administrando os sacramentos, ensinando a viver segundo o Evangelho.
Todavia quer Cristo que tudo isto seja precedido e preparado pela oração, na expectativa doEspírito Santo que deverá confirmar e corroborar seus Apóstolos. Começa assim a vida da Igrejanão com a atividade, mas com a oração, junto de ‘Maria, Mãe de Jesus’ (At 1,14).