O Papa Francisco recebeu na manhã de hoje, um jovem brasileiro.
Leandro Martins! Este é o nome do
gaúcho de 30 anos, de Porto Alegre, que encontrou o Papa Francisco na manhã
desta quinta-feira, na Casa Santa Marta. Leandro está viajando de bicileta pelo
mundo e, após escrever inúmeras cartas ao Papa Francisco, acabou chamando a
atenção do seu Secretário particular, que convidou-o para participar da missa
na Casa Santa Marta. Quem conversou com ele foi o jornalista Robert Moynihan.
Leandro deixou Amsterdã há 9
semanas, no dia 8 de maio. Passou pela Alemanha, República Tcheca, Áustria,
Eslovênia, ingressando então na Itália, onde passou por Trieste, Veneza,
Bolonha, Pisa e, finalmente, Roma. Pedalou 3.154 km. No dia 27 de julho parte
para Brindisi, Grécia, Israel e Ásia, devendo pedalar mais 7 mil km, pelo
menos.
O jovem brasileiro chegou cedo no
Vaticano, de bicicleta, naturalmente. Deixou a bike ao lado da Casa Santa
Marta. Quando encontrou Francisco, foi recebido calorosamente com um grande
abraço. Na conversa com o Papa, Leandro contou ter ficado chocado com a
tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, quando morreram
mais de 240 jovens.
Veja o relato do próprio Leandro em seu blog:
"Estava tomando café, ontem de
manhã cedo, quando meu celular tocou. Devido ao fato de não usar meu telefone
regularmente durante esta viagem, soube imediatamente que seria minha mãe ou a
chamada que eu estava esperando ansioso. Quando vi que era um número desconhecido,
eu soube imediatamente que era "a ligação".
E realmente foi. Era o secretário particular do Papa perguntando se eu ainda estava em Roma e se eu gostaria de vir para ao Vaticano na manhã de hoje. Eu não preciso dizer que nem consultei minha agenda e concordei em estar lá às 06:45.
Sim, eu estava indo me encontrar com o Papa!
Mas será que é simples assim? Você chega a Roma, e de repente o telefone toca e é o Papa convidando-o a visitá-lo? Não, não é assim. Mas quando você é um pouco louco e não tem nada a perder, você vai passar por caminhos diferentes, que as pessoas "normais" não pensam ou não acreditam ser possível.
O meu "plano papa" começou antes do início dessa viagem. Eu sabia que encontrar o Papa não é uma tarefa simples. Se você perguntar a um bilhão de pessoas, que têm o papa como seu líder, se quer conhecê-lo, você nunca vai ouvir um "não" como resposta.
Estava claro que eu não poderia chegar a Roma sem um bom plano. E, em Amsterdam, depois de algumas pesquisas, descobri alguém que é muito próximo do Papa e eu sabia que se uma carta minha chegasse a suas mãos, haveria boas chances de que eu poderia ser bem sucedido.
E escrevi-lhe uma carta dizendo primeiro que eu não sou católico, mas por causa da repercussão da eleição do Papa, eu estava a par e feliz que o novo Papa não era apenas um homem simples, afável, e com uma acentuada visão para questões sociais, mas também um vizinho meu, já que o Rio Grande do Sul faz fronteira com a Argentina.
Falei sobre a minha viagem de bicicleta, e que esta viagem tem a ver com conhecer novas pessoas, culturas e lugares, e eu gostaria de conhecer o Sr. Francisco. E pedi-lhe para não entrar em contato com a burocracia do Vaticano, porque com certeza eles recebem esse tipo de pedidos todos os dias, mas que dissesse ao Papa que havia um gaúcho viajando o mundo de bicicleta e que ficaria "molto felice" em encontrá-lo, e perguntasse direto ao papa se ele concordaria em me ver.
Então lhe enviei uma outra carta, quando cheguei à Itália, e outras quando cheguei a Roma. Ele disse ao Papa, hoje de manhã, que recebeu 15 cartas minhas. Fiquei surpreso, pois não me lembrava desses números.
Ontem passei o dia inteiro com uma mistura de sentimentos, excitação, e pensamentos de dúvidas quanto a ser realmente o secretário do Papa e não uma pegadinha. Compartilhei a grande notícia apenas com minha família e alguns amigos mais próximos, na Holanda, Brasil e Chile.
Fui para a cama muito tarde e acordei às 4:00 horas da manhã, às 05:30 estava saindo do mosteiro onde estou hospedado e depois de uma parada para comprar algo para comer, cheguei ao Vaticano as 06: 15. Fui direto para o portão, onde o secretário disse que eles teriam o meu nome. Sabia que era muito cedo, mas eu tinha que descobrir se isso era mesmo sério. E quando o guarda suíço perguntou meu nome e tirou do bolso um papel repetindo meu nome completo, fiquei aliviado.
Às 06:40 fui autorizado a entrar, mas no segundo portão, fui parado pela polícia do Vaticano, que me disse que eu não podia entrar com a minha bicicleta: "aqui é o Vaticano, não Roma". Então contei a ele sobre a ligação e que o guarda suíço tinha o meu nome. Após algumas chamadas ele me permitiu seguir em frente, para a surpresa do outro guarda que perguntou "de bicicleta?"
Me deram as direções da Casa Santa Marta, residência do Papa. Pedalei até lá com todos ao meu redor muito surpresos com aquela cena incomum. Quando cheguei, vi, na frente do prédio, a polícia, a guarda suíça e um homem de terno, que veio me receber falando inglês e tornou-se um tipo de guia. Me disse que "estacionasse" minha bicicleta perto da entrada.
Entramos, caminhamos até a pequena capela, onde disse que o papa iria celebrar a missa em poucos minutos. Chegou até a me explicar os procedimentos da missa. Acho que foi a primeira missa a que eu assisti do começo ao fim.
Tudo era simples. Havia cerca de 15 pessoas na capela. Eram freiras e alguns homens vestidos com roupas religiosas. Meu guia sentou-se ao meu lado. Quando o papa entrou eu não percebi que era ele, ele estava com um manto verde e eu me perguntava: por que as pessoas estão de pé? Até que ficou claro quem era o homem.
Ele celebrou a missa, e eu com o respeito que tenho por todas as religiões, fiz o que era suposto fazer, ficava em pé e sentava quando vi as pessoas fazendo isso. A missa durou cerca de 25 minutos. Quando acabou, o papa saiu, e as pessoas também.
Meu guia e eu ficamos sentados. De repente, o papa estava de volta, agora vestido apenas de branco. Ele sentou na terceira fileira do lado esquerdo da capela e ficou rezando. Eu estava sentado no lado direito, na segunda fila.
Então vi a pessoa a quem escrevi a carta, vindo me cumprimentar. Ele disse: "Você conseguiu!" e "depois de rezar o papa virá cumprimentá-lo." Meu guia, que estava ao meu lado, abriu um livro e mostrou-me a minha carta. Ele apontou para a parte em que escrevi: "Sei que vai soar ridículo e você vai rir de mim ... mas eu realmente gostaria de encontrá-lo". Nós dois rimos. O que antes era uma coisa impossível agora estava acontecendo.
Quando o papa estava pronto, ele deixou a capela e esperou por mim na porta. Saí com o meu guia e a pessoa a quem escrevi, rimos e eu agradeci novamente.
O Papa sabia que eu não era católico, e eu também sei que ele é um cara muito simples, que não se importa muito com protocolos e essas coisas. Então o tratei da mesma forma que trato todos que encontro nesta viagem, com um sorriso, simpatia e afeto.
Não beijei seu anel, em vez disso, apertamos as mãos e como bons latinos, trocamos um abraço.
Conversamos sobre um monte de coisas, enquanto caminhamos para fora, onde minha bicicleta estava.
Falávamos em espanhol, e dei-lhe as saudações enviadas por padres de Santiago do Chile, onde vivi e tenho amigos para quem liguei ontem.
O papa conhece Porto Alegre, me disse que tem parentes em Pelotas, e quando morava em Buenos Aires, esteve no Rio Grande do Sul visitando parentes.
Falamos sobre a tragédia de Santa Maria, e eu disse que em todos esses anos que estou vivendo no exterior, essa foi a notícia vinda do Brasil que mais me entristeceu, quando cerca de 240 jovens morreram naquele trágico incêndio. O papa disse que não poderia ir a Santa Maria, uma vez que é muito longe dos lugares onde estará na próxima semana, quando viaja ao Brasil, mas disse que também considera isso uma tragédia muito triste e que a lembrará quando estiver no Brasil.
Quando chegamos do lado de fora, o papa apertou a mão dos rapazes da Guarda Suíça, que estavam perto da porta e eu fiz o mesmo. Mostrei-lhe minha bicicleta e falei sobre minha viagem. Eu disse: esta é a minha casa, aqui a cama, ali a cozinha e assim por diante. Ele me fez algumas perguntas e nós dois rimos quando eu disse que gente louca encontra-se em todo lugar, inclusive em Porto Alegre. O papa disse: a vida é louca!
Dei-lhe o desenho que um menino checo, sobrinho de uma freira do mosteiro onde estou, havia lhe enviado.
Retornamos ao interior do prédio e, como faço sempre com todas as pessoas legais que conheço na minha viagem, tiramos uma foto juntos e ele assinou minha bandeira brasileira, onde escreveu "Que Dios te acompañe - Francisco - 18-7-13"
Então compartilhei alguns pensamentos sobre religião, que eu não vou escrever aqui, e a última coisa que falamos foi sobre o protesto no Brasil, que eu disse que é algo realmente positivo, pois quando as injustiças começam a sufocar as pessoas, a melhor coisa é explodir dessa forma, e após isso se passa a ser ouvido e notado. É como chorar, isso te limpa e te faz sentir melhor. O papa concordou.
Sabendo que ele é muito ocupado e não querendo ser avisado por alguém que era hora de ir embora, lhe agradeci o convite e pedi ao "amigo" a quem escrevi a carta, que também assinasse minha bandeira, se não fosse por ele eu não teria tido a oportunidade desta experiência.
Dissemos tchau e de lá pedalei até a Praça de São Pedro, onde estou agora escrevendo este post, e anunciando aos meus amigos e as pessoas que irão ler isto, que a vida é simples assim, um dia você pode estar acampando na floresta, sem banho e no outro dia você pode estar contando piadas para o papa." (O blog do Leandro: www.leandrobybike.blogspot.com)