Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros
Arcebispo de Montes Claros
Jesus nos ensina a rezar: “Não
nos deixeis cair em tentação”. Ele mesmo quis experimentar os limites humanos,
inclusive sofrendo tentações, conforme narra o Evangelho: “Foi tentado pelo
diabo durante quarenta dias” (Lucas 4,2). Mas nos mostrou como vencer as
sugestões malvadas. Indicou-nos a fortificação da vontade, com a fé
esclarecida, a prática da oração, da penitência, do jejum, da caridade e da
solidariedade.
Está na cultura hodierna a
caracterização da vontade da pessoa comandada pelos instintos e pela busca de
bem estar sem olhar primordialmente para verdades e valores objetivos.
Estes apresentam um ideal mais amplo e de verdadeira ajuda para a realização
humana. Cai-se, então, com facilidade, em inúmeras tentações: a do orgulho e da
ambição, a busca do ter acima do valor do ser, o acúmulo de bens materiais como
objetivo de vida, o poder usado para se terem vantagens a qualquer preço, a
politicagem traidora do bem comum, o desvio de conduta, roubando-se oportunidades de
promoção do semelhante, a falta de solidariedade para com os empobrecidos e
discriminados, o uso da religiosidade sem compromisso com o bem do próximo e
com fixação da fé alienante, a procura de prazeres de forma
animalesca e sem parâmetro ético e moral, o autoritarismo, o uso da mídia para
impor idéias e ideais materialistas, o consumismo exagerado sem compromisso com
os mais carentes, a desvalorização da família como instituição fundamental para
a formação e o desenvolvimento da vida mais humana e saudável ética, psíquica e
moralmente, a falta de políticas públicas de formação global da pessoa
humana...
Vencer as tentações exige mudança
de visão para uma vida de sentido elevado, como o próprio
Cristo faz e propõe. A exercitação da vontade para se conquistar o bem maior da
vida se dá com a tenacidade de esforço para a prática do altruísmo, com o
ingrediente do amor a Deus e ao semelhante. Este tempo de quarenta dias de
maior penitência e oração em preparação à celebração da Páscoa nos estimula a
assumirmos nossa vida com a missão proposta por Deus. Somos corpo, mas também
espírito. É preciso conjugar os dois para o predomínio da missão de fazer com
que sua unidade aconteça de modo produtivo. Olhar para o objetivo da vida nos
faz sermos uma unidade de corpo espiritualizado, a ponto de buscarmos o tesouro
maior da existência, o próprio Deus. Ele deseja nossa união, entre nós e com
Ele, para vivermos na terra como irmãos e irmãs. A solidariedade para com o
próximo nos faz ser pessoas que só pensam em realizar o bem por causa e em
obediência a Deus. Daí o andarmos pelo caminho mais estreito da renúncia a tudo
o que nos tira do sentido da vida, conforme a proposta do Filho de Deus. Assim,
com Ele, fazemos a verdadeira Páscoa de transformação de nossa vida, para que
ela seja produtora de vida de sentido para todos.
Um meio de treinarmos nossa
sensibilidade para a prática do amor é sermos mais solidários com a juventude e
a ajudarmos a ser protagonista do novo caminho com Cristo, de acordo com o tema
da Campanha da Fraternidade deste ano. A juventude precisa tomar o
caminho que a leve a promover a vida plena de Cristo para a sociedade,
superando a tentação do egoísmo e dos desacertos na vida.