SAGRADA ESCRITURA:
UMA PALAVRA SEMPRE NOVA
Quando a Sagrada Escritura é lida com o mesmo espírito com que foi escrita, permanece sempre nova. O Antigo Testamento nunca é velho, uma vez que é parte do Novo, pois tudo é transformado pelo único Espírito que o inspira. O texto sagrado inteiro possui uma função profética: esta não diz respeito ao futuro, mas ao hoje de quem se alimenta desta Palavra. Afirma-o claramente o próprio Jesus, no início do seu ministério: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir” (Lc 4, 21).
Quem se alimenta dia
a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo
das pessoas que encontra;
não se sente tentado a cair em
nostalgias estéreis do passado,
nem em utopias desencarnadas
relativas ao futuro.
A Sagrada Escritura desempenha
a sua ação profética, antes de
mais nada, em relação a quem a
escuta, provocando-lhe doçura e
amargura. Vêm à mente as palavras do profeta Ezequiel, quando,
convidado pelo Senhor a comer
o rolo do livro, confessa: “Ele
foi, na minha boca, doce como o
mel” (3, 3). Também o evangelista João revive, na ilha de Patmos,
a mesma experiência de Ezequiel
de comer o livro, mas acrescenta
algo de mais específico: “Na minha boca era doce como o mel;
mas, depois de o comer, as minhas entranhas encheram-se de
amargura” (Ap 10, 10).
A doçura da Palavra de Deus impele-nos a comunicá-la a quantos encontramos na nossa vida,
expressando a certeza da esperança que ela contém (cf. 1 Ped 3,
15-16). Entretanto a amargura
apresenta-se, muitas vezes, no
fato de verificar como se torna
difícil para nós termos de a viver
com coerência, ou de constatar
sensivelmente que é rejeitada,
porque não se considera válida
para dar sentido à vida. Por
isso, é necessário que nunca
nos abeiremos da Palavra de
Deus por mero hábito, mas nos
alimentemos dela para descobrir
e viver em profundidade a nossa
relação com Deus e com os
irmãos.
Outra provocação que nos vem
da Sagrada Escritura tem a ver
com a caridade.
A Palavra de
Deus apela constantemente
para o amor misericordioso do
Pai, que pede a seus filhos para
viverem na caridade. A vida de
Jesus é a expressão plena e perfeita deste amor divino, que
nada guarda para si, mas a todos
se oferece sem reservas. Na parábola do pobre Lázaro, encontramos uma indicação preciosa.
Depois da morte de Lázaro e do
rico, este vê o pobre no seio de
Abraão e pede para Lázaro ser
enviado a casa dos seus irmãos
a fim de os advertir sobre a vivência do amor do próximo para
evitar que venham sofrer os
mesmos tormentos dele. A resposta de Abraão é incisiva: “Têm
Moisés e os Profetas; que os escutem!” (Lc 16, 29). Escutar as
sagradas Escrituras para praticar
a misericórdia: este é um grande
desafio lançado à nossa vida. A
Palavra de Deus é capaz de abrir
os nossos olhos, permitindo-nos
sair do individualismo que leva à
asfixia e à esterilidade enquanto
abre a estrada da partilha e da
solidariedade.
Papa Francisco
Fotos da missa deste domingo, 24/01, celebrada em nossa paróquia por Dom Mose: