segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O MINISTÉRIO DE MÚSICA





Pe. José Carlos Sala 

A unidade das vozes do povo reunido em celebração e a dinâmica e fluência do canto dependem, em grande parte, do animador do canto ou do regente. “Convém que haja um cantor ou regente de coro para dirigir e sustentar o canto do povo. Mesmo não havendo um grupo de cantores, compete ao cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo” (IGMR 104; cf. MS 21). 
Trata-se de um ministério a serviço da unidade da assembleia que, através da condução/regência dos cantos contribui para um mergulho no mistério pascal celebrado e a consequente valorização da dimensão sacramental do canto da assembleia litúrgica: a unidade das vozes expressa a unidade da Igreja congregada no Espírito Santo que, sob a ação do mesmo Espírito entoa o “canto novo” diante do trono do Pai e do Cordeiro (cf. Ap 5,9). 
Este ministério, quando devidamente exercido, contribui para o diálogo entre Deus e seu povo porque “a celebração dos mistérios da fé é função de todo o povo de Deus e se processa num rico diálogo entre os ministros e a assembleia, e destes com Deus, e este diálogo tem no canto o seu momento mais expressivo” (A Música Litúrgica no Brasil, 247). Eis algumas características da pessoa que exerce este ministério: Estar engajado na vida de fé da comunidade, e desempenhar o serviço como resposta a um chamado de Deus; Cultivar uma profunda sensibilidade litúrgica e o gosto pela liturgia, o que lhe proporciona realizar o serviço com amor e dedicação; 
Ter percorrido uma caminhada de formação litúrgica a fim de compreender o que é próprio de cada rito e os ritmos próprios da celebração; Conhecer a função do canto e da música na liturgia e saber distinguir as partes que são próprias da assembleia das partes para solistas ou grupo de cantores; 
Ter alguma formação técnica em música para garantir boa qualidade na execução das músicas; Juntamente com a equipe de liturgia, colaborar na definição do repertório a ser cantado a partir de critérios litúrgicos, bíblicos, teológicos e estéticos. Algumas dicas para melhor desempenhar este ministério: (Cf. CNBB, A música Litúrgica no Brasil, 247) 

a) Mostrar-se sumamente respeitoso(a) com as pessoas, acolhendo-as com um semblante pascal inspirando-lhes confiança, serenidade e segurança; 
b) Estar em um lugar visível, orientando a assembleia durante os cantos da celebração; 
c) Manter a “atitude espiritual” (o gesto corporal, o sentido teológico-litúrgico do mesmo gesto e a dimensão afetiva devidamente integrados) ao longo de toda a ação litúrgica; Postura de quem está vivendo em inteireza o momento de oração, com naturalidade e simplicidade; 
d) Ter as mãos livres e, se necessário, usar uma estante de apoio para o livro e/ou partituras; 
e) Estar em sintonia com os diversos ministérios: presidência, leitores, salmista, instrumentistas, grupo de cantores, equipe de celebração e assembleia para colaborar na unidade de todo o corpo celebrativo;
f) Animar o canto da assembleia, de modo a fazê-la vibrar em uníssono ao cantar estribilhos e refrãos ou hinos, ao responder ou aclamar com prazer à proclamação das Escrituras, e ainda levá-la a sintonizar profundamente com a Oração Eucarística. 
g) Cuidar para que o volume dos instrumentos musicais e dos microfones não se sobreponha ao canto da assembleia. Em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a dispersão, além de inibir a participação da assembleia no canto e tornar as celebrações demasiado barulhentas; 
h) Não é conveniente cantar ao microfone todos os cantos da celebração. Durante os cantos que a assembleia conhece e participa ativamente de forma natural e espontânea, convém ao animador, como também ao grupo de cantores, que se afastem do microfone, aproximando-se um pouco mais nas partes em que a comunidade tem maior dificuldade em cantar. O canto litúrgico não é propriedade particular de um animador, regente, instrumentista, coral,... mas pertence a toda a comunidade que celebra. O animador não está aí para “cantar na missa”, mas para fazer a comunidade participar ativamente da celebração; 
i) Ensaiar as partes que cabem à assembleia, tais como: refrãos, aclamações, cantos do “ordinário da missa”, etc., antes do início de cada celebração. 
j) Cuidar da dignidade da própria veste e da postura do corpo; 
k) Reservar um momento de silêncio entre o breve ensaio e o início da celebração. Afinações de instrumentos e os testes de som são feitos antes da chegada dos fiéis para a celebração. Cada fiel que chega tem o direito de desfrutar de um momento de silêncio que lhe propicie fazer sua oração pessoal. 
l) Quando é necessário, entoar um refrão meditativo antes da celebração para criar um clima orante. m) Que os animadores do canto e regentes evitem certos “estrelismos”, postura de quem está fazendo um show ou de um “animador de auditório”, que transformam a celebração do mistério pascal em uma mera diversão religiosa. 

Tenho visto, com espanto, muitos animadores “roubarem a cena”, serem o centro das atenções, ofuscando o mistério e o próprio Cristo. Em momentos de ensaios propriamente ditos, é bom observar o seguinte: (Cf. CNBB, A música Litúrgica no Brasil, 248) 
• Iniciar o ensaio com um refrão meditativo, de preferência com as referências Bíblicas do dia. Depois, pedir à assembleia que, enquanto se canta, ela acompanhe silenciosamente, escutando bem a melodia e lendo o texto, sobretudo quando se trata de um canto desconhecido; 
• É mais adequado ensinar primeiro o refrão; depois, aos poucos, vão se introduzindo as estrofes. Não convém alongar-se demais no ensaio, tampouco ensaiar vários cantos novos a cada dia; 
• É sempre bom escutar a assembleia sem os instrumentos musicais para confirmar seu aprendizado. Durante o ensaio, os instrumentos são muito discretos, apenas uma condução da linha melódica para facilitar a memorização do canto; 
• Quando a comunidade já o estiver acompanhando, é hora de elogiá-la; 
• Nunca se deve dizer que tal ou qual canto é difícil ou feio, já predispondo negativamente a assembleia; 
• Quando oportuno, é bom fazer uma brevíssima introdução, antes de iniciar o ensaio de um canto, destacando o que há de mais importante em seu texto, a sua função litúrgica; 
• Durante o canto, fazer gestos básicos de regência. Educar também a assembleia para os gestos de regência. 
• A expressão facial deverá ser sempre alegre, incentivadora; 
• Ter sempre em mente que a base para se cantar bem está na respiração e que uma das funções do(a) regente é ensinar a cantar e não se canta apenas com a boca, mas com todo o ser.