domingo, 12 de março de 2017

PALAVRA DE DEUS NO DOMINGO

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 17,1-9


Naquele tempo:
1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão,
e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha.
2E foi transfigurado diante deles;
o seu rosto brilhou como o sol
e as suas roupas ficaram brancas como a luz.
3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias,
conversando com Jesus.
4Então Pedro tomou a palavra e disse:
'Senhor, é bom ficarmos aqui.
Se queres, vou fazer aqui três tendas:
uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.'
5Pedro ainda estava falando,
quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra.
E da nuvem uma voz dizia:
'Este é o meu Filho amado,
no qual eu pus todo meu agrado.
Escutai-o!'
6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito
assustados e caíram com o rosto em terra.
7Jesus se aproximou, tocou neles e disse:
'Levantai-vos, e não tenhais medo.'
8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais
ninguém, a não ser somente Jesus.
9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes:
'Não conteis a ninguém esta visão até que o
Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.'
Palavra da Salvação.

quinta-feira, 9 de março de 2017

ABISMO DA CONSCIÊNCIA


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Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte


O “abismo da consciência” é o núcleo determinante da conduta humana. É o lugar mais importante da configuração da personalidade e da definição do caráter, onde se encontra a “central de comando”, que pode orientar uma conduta digna. Por isso, requer permanentes investimentos e cuidados, fundamentais para que o ser humano não seja instrumento de psicopatias, dubiedades e descompassos - males que atrapalham a regência adequada das relações sociais e políticas. 

Cada indivíduo é responsável por sua “central de comandos”, mas conta também com os tecidos institucionais e a rede de relações sociais para alcançar o equilíbrio necessário à convivência, ao respeito, ao compromisso com a justiça e com o bem comum. Ainda assim, é oportuno destacar a dimensão do “abismo da consciência” e sua relevância. Sua materialidade e formalidade ético-moral são tão amplas que permitem fazer uma correlação com o número de sinapses cerebrais – semelhante ao de uma galáxia. Essa complexidade e centralidade torna possível reconhecer uma necessidade: o “abismo da consciência” carece de uma luz que não lhe é própria, vem da Luz maior. Sem a Luz maior, o “abismo da consciência” perde seu rumo, encobre-se de escuridão. E as escolhas tornam-se comprometidas, os discernimentos não são orientados pelo amor e honestidade. A presidência da conduta pessoal passa a ser regida por parâmetros desastrosos. 

Por isso, há urgência em deixar que a Luz maior encontre o “abismo da consciência”. Abrir mão dessa Luz e pretender reger-se por conta própria é arriscado. Isso fica comprovado quando são observados os descompassos que afligem a humanidade, em razão de escolhas obscuras, mesquinhas, e da indiferença que ameaça a paz mundial. Os fundamentos da consciência, assimilados sempre nos processos educativos, familiares, culturais e religiosos, precisam ser tocados pela Luz maior. Para isso as pessoas precisam vivenciar, no cotidiano, a espiritualidade que reúne o conjunto das experiências pessoais e comunitárias, sociais e políticas, tocadas pela presença de Deus. A espiritualidade ultrapassa, assim, o aspecto devocional e as práticas simplesmente piedosas. É um diálogo permanente e indispensável com Deus, porque só Deus alcança as profundezas do “abismo da consciência” de todos. 

A indiferença e a ausência de esforço para essa imprescindível busca por Deus são incapacitantes. Deixam as pessoas sem condições para reger a própria consciência. A dimensão abissal da consciência precisa ser preenchida com valores e referências capazes de manter as atitudes individuais nos parâmetros éticos. E o “abismo da consciência” não é simplesmente controlável por mecanismos sociais. Esses mecanismos têm força reguladora indispensável, mas o alcance é limitado. O necessário equilíbrio humano requer mais que a dimensão organizacional e sistêmica da configuração social, política, cultural e religiosa de um povo ou nação. Mesmo porque está em permanente ebulição a vida de grupos diversos, segmentos políticos e culturais, povos e etnias. Rumos inadequados são dados a processos, escolhas equivocadas enrijecem e enfraquecem as instituições. Há pouca versatilidade para oferecer respostas aos problemas contemporâneos e priorizam-se as ações que buscam apenas as benesses, a satisfação da mesquinhez de grupos familiares, políticos, religiosos e tantos outros. Resultado da desarticulação do “abismo da consciência”, que traz consequência avassaladora para a conduta humana. Sinais de que a luz própria da razão, que é indispensável, ao mesmo tempo é insuficiente para garantir atos e escolhas corretos. Essencial é o investimento nas dimensões humana e espiritual capazes de fazer brilhar, no “abismo da consciência”, a Luz maior. 

Esse é um passo decisivo para evitar que se repitam as muitas irracionalidades que ameaçam a vida: as guerras, as catástrofes causadas pela ganância que dizimam o meio ambiente, além das disputas ferrenhas e manipulações que ocorrem nas instituições e refletem escolhas fundamentadas na mediocridade. É preciso evitar que a sociedade continue a sofrer com as graves perdas, que atingem, de modo ainda mais forte, a vida dos pobres. Nesse sentido, vale seguir o exemplo de Santo Agostinho, apresentado na sua famosa e monumental obra Confissões, do século V. Nesse livro estão reunidos exercícios oportunos para este tempo da Quaresma, um investimento, pessoal e comunitário, na qualificação dos “abismos da consciência”. 

O convite é para a oração e o diálogo com Deus, de modo semelhante ao que fez Santo Agostinho. Que cada pessoa possa se dirigir à Luz maior, Deus, com as palavras e a oração desse Santo: “Que eu te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Essa é a minha esperança e por isso falo. Nessa esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nessa vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem o faz, chega-se à luz. Quero fazê-lo no meu coração, diante de ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas. A ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a ti? Eu te esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de ti.” Este é o caminho, o mais eficaz para iluminar com a Luz maior, que é Deus, o “abismo” da própria consciência.

quarta-feira, 8 de março de 2017

QUARESMA, TEMPO PARA SAIR DA ROTINA


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Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo


“Eu creio que um dia me tornarei um cristão de verdade, então deverei envergonhar-me, sobretudo, não por não me ter tornado cristão antes, mas por haver tentado primeiro todas as fugas” (Kierkegaard,Soren, Diário, 8/12/1837). Estas palavras do filósofo poeta cristão dinamarquês introduzem o sentido da quaresma. Agora é o tempo favorável em que ressoa o convite para tomar uma decisão séria, radical, operativa e pessoal para me tornar cristão de verdade.

Todos têm uma rotina diária que vai imprimindo uma forma quase mecânica e automática de viver. Não se trata apenas das atividades diárias para as quais a rotina organiza o dia e permite cumprir as obrigações. Mas a rotina também pode tomar conta da maneira como as pessoas se relacionam. O outro se torna peça de engrenagem que faz funcionar o meu dia. A rotina também invade a vida espiritual e o relacionamento com Deus. Enfim, a rotina acomoda, vai enfraquecendo as relações interpessoais, a empatia e o entusiasmo vai diminuindo. Como também pode passar a falsa impressão de que tudo está bem. Um dia o papa emérito Bento XVI disse que a nossa maior ameaça “é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez”.

Viver bem a quaresma é uma oportunidade para se questionar e sacudir a rotina diária. Estou me tornando um cristão melhor? A minha presença, seja na família, no trabalho, na sociedade, é sal e luz? Além de constatar os problemas, faço algo além disso? Ao tentarmos responder estas perguntas ou outras, certamente, vamos perceber que em muitos aspectos podemos estar bem e em outros não. 

Voltando à frase de Kierkegaard, citada anteriormente. Ele afirma que não se envergonhava das suas contradições da vivência cristã. Tinha a convicção de que o mundo só viu um cristão autêntico, isto é, coerente entre a proposta cristã e a sua plena vivência, que foi Jesus Cristo. Todos as outras pessoas denominadas cristãs vão se tornando cristãs, sem nunca chegarem a completude. É a interpretação que faz do seguimento proposto por Jesus Cristo. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” Mateus 16, 24).

Kierkegaard declara que se sentirá envergonhado “por haver tentado primeiro todas as fugas”. As formas de fuga podem ser várias: ignorar os problemas; desviar das responsabilidades; fechar-se sobre si mesmo; justificar a própria postura e a indiferença diante das inúmeras situações que se apresentam; acomodar-se com a rotina; não ter espaço para questionar os próprios valores; relativizar as exigências; responsabilizar sempre os outros.

A Campanha da Fraternidade, dentro da quaresma, é uma provocação, pois insere um tema novo na rotina. Este ano, a Igreja propõe o tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema é “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15) O objetivo é o cuidado da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, promovendo relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. Novamente, aborda um tema relacionado com a ecologia. O tema volta porque os problemas nesta área são muitos e é preciso uma conversão pessoal e social, também nesta área.

terça-feira, 7 de março de 2017

MENSAGEM DO PAPA PARA A QUARESMA 2017



Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.

1. O outro é um dom

A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.

A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.

2. O pecado cega-nos

A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).

O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.

Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).

O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.

Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).

3. A Palavra é um dom

O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).

Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.

Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.

Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).

Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.

Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.

Vaticano, 18 de outubro – Festa do Evangelista São Lucas – de 2016.
Francisco

domingo, 5 de março de 2017

PALAVRA DE DEUS NO DOMINGO

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4,1-11


Naquele tempo:
1o Espírito conduziu Jesus ao deserto,
para ser tentado pelo diabo.
2Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites,
e, depois disso, teve fome.
3Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus:
'Se és Filho de Deus,
manda que estas pedras se transformem em pães!'
4Mas Jesus respondeu: 'Está escrito:
'Não só de pão vive o homem,
mas de toda palavra que sai da boca de Deus'.'
5Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa,
colocou-o sobre a parte mais alta do Templo,
6e lhe disse: 'Se és Filho de Deus,
lança-te daqui abaixo!
Porque está escrito:
'Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito,
e eles te levarão nas mãos,
para que não tropeces em alguma pedra'.'
7Jesus lhe respondeu: 'Também está escrito:
'Não tentarás o Senhor teu Deus!''
8Novamente, o diabo levou Jesus para um monte
muito alto.
Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória,
9e lhe disse: 'Eu te darei tudo isso,
se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.'
10Jesus lhe disse: 'Vai-te embora, Satanás,
porque está escrito:
'Adorarás ao Senhor teu Deus
e somente a ele prestarás culto.'
11Então o diabo o deixou.
E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
Palavra da Salvação.

sábado, 4 de março de 2017

A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017



Ampliando e motivando uma tomada de conscientização sobre as ações direcionadas ao meio ambiente, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) traz a reflexão sobre os biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal) na Campanha da Fraternidade desse ano.


Com o tema ‘Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’ e o lema 'Cultivar e guardar a criação' a Campanha de 2017, sublinha a urgência do despertar de cada pessoa, para uma consciência ambiental e uma conversão pessoal e comunitária.

O sacerdote cita o livro de Gênesis que fala da criação do mundo, dando o exemplo do limite colocado por Deus ao proibir o homem de comer o fruto da árvore, explicando que "o ser humano não é capaz de perceber se as suas ações são boas ou ruins, precisando de fato da luz de Deus".“O grande desafio da Campanha da Fraternidade 2017, como em todos os anos, é a formação da consciência de modo que as pessoas contemplem o meio ambiente de uma forma mais cristã”, enfatiza o assessor da Campanha da Fraternidade da sub-região pastoral de Aparecida (SP), padre Leandro Alves de Souza.

Como base nisso, a Igreja vê a necessidade de refletir cada vez mais a importância do pensamento coletivo, de uma responsabilidade assumida verdadeiramente com respeito ao próximo e à natureza, como princípios de um bom cristão.


“Um outro grande desafio é esse individualismos acentuado que a gente vive. Vimos há alguns anos essa a crise hídrica enfrentada no estado de São Paulo. E ficou claro que muitas pessoas só tomavam consciência do problema se abrissem a torneira e não caísse um pingo d’água. A gente continuou vendo o desperdício, atitudes totalmente irresponsáveis. Então na verdade o grande desafio nosso é despertar essa consciência coletiva”, expressou padre Leandro.

Para contribuir na formação das pessoas e incentivar ações que favoreçam o meio ambiente e as gerações futuras, a CNBB preparou uma série de atividades como via-sacra, círculo bíblico, temas para reflexões em família e celebração penitencial. Padre Leandro aponta que essas reflexões são urgentes e necessárias e deixa uma pergunta, que em sua opinião, deveria nortear as atitudes de cada pessoa:

“Qual o mundo ou qual o meio ambiente entregaremos para os filhos, para os netos, para as gerações futuras?”


Padre Leandro levanta um questionamento preocupante: “Até quando o ser humano vai tratar a natureza simplesmente com objeto de lucro, manipulando-a cada vez mais, sem pensar nas consequências futuras?”.

Ele destaca alguns gestos concretos que podem motivar a política pública a criar ações que promovam um meio ambiente sustentável como incentivar projetos de lei que proíbam, por exemplo, o uso de agrotóxicos, cobrar dos políticos atenção aos malefícios que as queimadas e a poluição urbana provocam e incentivar a participação dos leigos e leigas nos conselhos paritários, como o Conselho Municipal do Meio Ambiente.

O assessor da Campanha da Fraternidade sugere que durante a Quaresma, que se que inicia na Quarta-feira de Cinzas (1 de março), os cristãos busquem viver a experiência de uma espiritualidade franciscana, de modo que se torne uma atitude comum e concreta para a vida.

“São Francisco, o grande defensor do meio ambiente, nos ensina com a sua vida e com seus escritos que a natureza não pode ser manipulada muito menos tratada como objeto de lucro, pelo contrário, a natureza é a nossa irmã, o bioma faz parte do nosso relacionamento fraterno”, concluiu padre Leandro.

quinta-feira, 2 de março de 2017

CNBB REALIZOU ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017



CNBB realizou abertura oficial da CF 2017, em Brasília

“Como bem sabemos, a importância da Campanha da Fraternidade tem crescido a cada ano, repercutindo não apenas no interior das comunidades católicas, mas também nos diversos ambientes da sociedade, especialmente pela sua natureza e pela iminência dos assuntos abordados”. Foi com estas palavras que o arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, abriu oficialmente a Campanha da Fraternidade 2017. 

A cerimônia ocorreu na sede da entidade, nesta quarta-feira, 1º de março, em Brasília (DF). Com o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida”, este ano, a Campanha busca alertar para o cuidado e o cultivo dos biomas brasileiros: Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa, Pantanal e Amazônia. Além disso, enfatiza o respeito à vida e a cultura dos povos que neles habitam. O lema escolhido para iluminar as reflexões é “Cultivar e guardar a criação (Gn 2, 15)”.

Para dom Sergio, a temática é de extrema urgência. “Cada Campanha da Fraternidade quer nos ajudar a vivenciar a fraternidade em um campo específico da vida ou da realidade social brasileira que tem necessitado de maior atenção e empenho, e este ano o tema escolhido é de grande notoriedade”, enfatizou. Ainda de acordo com ele, é preciso que as pessoas conheçam os biomas a fundo para poderem “contemplar a beleza e a diversidade que estão estampados no próprio cartaz da Campanha da Fraternidade”.

Na mesa de abertura, dom Sergio disse ainda que não bastava apenas conhecer os biomas e que era preciso também refletir sobre a presença e sobre a ação humana nesses ambientes. Ele também ressaltou a valorização dos povos originários, que de acordo com ele são “verdadeiros guardiões dos biomas”. “Nós precisamos valorizar, defender a vida e a cultura desses povos, mas também somos motivados a refletir sobre as causas dos problemas que afetam os biomas como, por exemplo, o desmatamento, a poluição da natureza e das nascentes. Necessitamos também refletir sobre a ação de cada um de nós e nossas posturas nos biomas onde estamos inseridos”, disse.

Por último, o bispo destacou que pode haver um certo estranhamento por parte das pessoas em relação à Igreja ter escolhido este assunto para a Campanha, mas segundo ele, ninguém pode assistir passivamente à destruição de um bioma ou de sua própria casa, da Casa Comum. “O assunto de fato não pode ser descuidado, não pode ser deixado para depois, ele necessita da atenção e dos esforços de todos. O tema tem sim muito a ver com a fé em Cristo, com a fé no criador, com a palavra de Deus, e admirar os biomas é contemplar a obra do criador”, finalizou.
Proposta da CF é de extrema importância

O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado federal Alessandro Molon, compôs a mesa da cerimônia e, em sua fala, agradeceu pela escolha do tema por parte da Igreja no Brasil, considerando a iniciativa um serviço de extrema importância para o país e para a proteção do meio ambiente. O parlamentar lembrou e agradeceu ainda pelo pontificado do papa Francisco, “grande liderança mundial que precisa ser apoiada, que, dentre outras iniciativas importantes, escreveu a encíclica Laudato Si’ e tem dedicado uma parte especial do seu ministério ao convite de uma ecologia humana e integral, lançando luz sobre a relação entre degradação do ambiente, injustiça social e pobreza”.

Molon indicou que, dos oito objetivos específicos da CF, quatro serão de grande importância para a Frente Parlamentar em 2017: o aprofundamento do conhecimento de cada bioma, o comprometimento com as populações originárias, o reforço do compromisso com a biodiversidade e a contribuição para a construção de um novo paradigma ecológico. Ao final, apresentou dez desafios da Frente Parlamentar aos quais pediu apoio da CNBB e do Ministério do Meio Ambiente.
Ações convergentes

“Sentimo-nos, portanto, amparados e revigorados na busca dos nossos objetivos”, afirmou o secretário de articulação institucional e cidadania do Ministério do Meio Ambiente, Edson Gonçalves Duarte, ao comentar a escolha da temática da CF 2017. O representante do ministro Sarney Filho iniciou sua fala lembrando da atuação do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, na defesa do Rio São Francisco e ressaltou que o cuidado com os biomas permeia todos os campos de atuação do Ministério: florestas, biodiversidade, água, extrativismo, clima, desenvolvimento sustentável e cidadania ambiental.

O secretário lamentou que no dia-a-dia de quem trabalha com ambientalismo, que se depara com profundo desconhecimento de parte da sociedade brasileira “que muitas vezes até compreende a importância da Amazônia, mas não percebe que o equilíbrio ecológico dos biomas é necessário para a manutenção não apenas da fauna e da flora, mas também da vida humana”.

Duarte considerou que muitas das ações propostas pela Campanha da Fraternidade convergem com as prioridades determinas pelo MMA, como o combate ao desmatamento, o aprimoramento do monitoramento dos biomas, proteção de nascentes e matas ciliares, apoio aos povos tradicionais e a educação ambiental. “A incorporação de toda essa temática na perspectiva de trabalho da CNBB fortalece sobremaneira a defesa dos biomas brasileiros, pois, além de um arcabouço científico muito bem estruturado, a Campanha da Fraternidade reveste suas ações de uma riqueza espiritual capaz de tocar as consciências de uma forma profunda”, salientou.

quarta-feira, 1 de março de 2017

PAPA ENVIA MENSAGEM SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE NO BRASIL



Queridos irmãos e irmãs do Brasil!



Desejo me unir a vocês na Campanha da Fraternidade que, neste ano de 2017, tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, lhes animando a ampliar a consciência de que o desafio global, pelo qual toda a humanidade passa, exige o envolvimento de cada pessoa juntamente com a atuação de cada comunidade local, como aliás enfatizei em diversos pontos na Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado de nossa casa comum.

O criador foi pródigo com o Brasil. Concedeu-lhe uma diversidade de biomas que lhe confere extraordinária beleza. Mas, infelizmente, os sinais da agressão à criação e da degradação da natureza também estão presentes. Entre vocês, a Igreja tem sido uma voz profética no respeito e no cuidado com o meio ambiente e com os pobres. Não apenas tem chamado a atenção para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas causas e, principalmente, tem apontado caminhos para a sua superação. Entre tantas inciativas e ações, me apraz recordar que já em 1979, a Campanha da Fraternidade que teve por tema: “Por um mundo mais humano” assumiu o lema: “Preserve o que é de todos”. Assim, já naquele ano a CNBB apresentava à sociedade brasileira sua preocupação com as questões ambientais e com o comportamento humano com relação aos dons da criação.

O objetivo da Campanha da Fraternidade deste no, inspirado na passagem do Livro do Gêneses (cf. Gn 2, 15), é cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. Como “não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (LS, 43), esta Campanha convida a contemplar, admirar, agradecer e respeitar a diversidade natural que se manifesta nos diversos biomas do Brasil – um verdadeiro dom de Deus – através da promoção de relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que neles vivem. Este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais.

Os povos originários de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem nos oferecem um exemplo claro de como a convivência com a criação pode ser respeitosa, portadora de plenitude e misericordiosa. Por isso, é necessário conhecer e aprender com esses povos e suas relações com a natureza. Assim, será possível encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres.

Todos os anos, a Campanha da Fraternidade acontece no tempo forte da Quaresma. Trata-se de um convite a viver com mais consciência e determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na Páscoa de Jesus Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral, que é, ao mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica. Reafirmo, assim, o que recordei por ocasião do Ano santo Extraordinário: a misericórdia exige “restituir dignidade àqueles que dela se viram privados” (Misericordia vultus, 16). Uma pessoa de fé que celebra na Páscoa a vitória da vida sobre a morte, ao tomar consciência da situação de agressão à criação de Deus em cada um dos biomas brasileiros, não poderá ficar indiferente.

Desejo a todos uma fecunda caminhada quaresmal e peço a Deus que a Campanha da Fraternidade 2017 atinja seus objetivos. Invocando a companhia e a proteção de Nossa Senhora Aparecida sobre todo o povo brasileiro, particularmente neste Ano mariano, concedo uma especial Bênção Apostólica e pelo que não deixem de rezar por mim.



Vaticano, 15 de fevereiro de 2017.